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quarta-feira, julho 28, 2004

Tem Como Cimentar Minha Janela? 

“Não se esqueça nunca de onde você parte, mas deixe esse lugar e junte-se ao mundo!” Michel Serres;– Para todos os tijucanos do mundo, mesmo os que moram no Texas, no Wyoming, em Saffron Walden ou no Barra Garden.

Ler é o Maior Barato! 

Eclesiástico 30, Versículo 1
A Correcção dos Filhos – Aquele que ama o seu filho, castiga-o com freqüência, para que se alegre com isso mais tarde. (Deviam ter especificado “freqüência”. Tadinha da mamãe, no fundo ela tinha boas intenções!)

Funk da Humilde 

“Você tira onda/ de orkut e fotolog/ eu sou mais humilde/ eu só tenho o meu blog!”. Everybody now!

sábado, julho 24, 2004

Hide And Seek 

Massacre de auto-análise.A Donnovan adora brincar de psicanalista e hoje está especialmente inspirada. Preciso me concentrar na minha pesquisa de transferência de prisioneiros, a única barreira entre mim e as tão sonhadas férias, mas está muito difícil. Preciso me concentrar... Por que “necessitar” é “precisar”, mas o que é “na mosca”, “certinho”, é também algo preciso? Será que preciso é o que acerta exatamente só naquilo que for preciso, e precisamente nele, sem mais nem menos? Bem, nesse caso, preciso de precisão, precisamente. (p.s.: Bê, seu dvd do animamundi corre sérios riscos de ser seqüestrado.)

quarta-feira, julho 21, 2004

Análise Psicanalítica Dos Relógios 

Os relógios de cozinha sabem que são só relógios de cozinha, ou seja, sabem que ninguém realmente vê as horas neles. Quer dizer, vc olha pro relógio de cozinha e seu olhar vai automaticamente para outro relógio, para conferir. Devido a esse tipo de falta de cobrança, eles batem pachorrentamente e a gente só olha pra eles para saber há quantos minutos a pipoca começou a queimar no micro-ondas. Porque, afinal, só se usa os relógios de cozinha para breve intervalos culinários, onde sua lerdeza não influi muito. São como apresentadoras de programas “femininos”: ninguém leva muito a sério, mas ajudam a fazer um lanchinho.
Já os despertadores são baixinhos escandalosos e sádicos por natureza. Atrasam e tocam. Adiantam e tocam. Tocam no domingo. Não tocam na segunda. E ainda ficam rindo da sua patética cara de sono: Ri ri ri ri... Ri ri ri ri...
Os relógios de celular são como velhos funcionários de repartição. Nunca atrasam, nunca faltam. São discretos, ficam lá no seu cantinho. Fazem seu trabalho impecavelmente, faça chuva ou faça sol. Mas nunca espere um bilionésimo de milímetro a mais deles: são só funcionários de repartição.
Os cucos são como velhinhas de banco de praça. Ostentam uns ornamentos espalhafatosos, que talvez algum dia tenham sido até sinal de bom gosto. Ignoram solenemente qualquer evolução depois de seu nascimento, o que inclui as baterias e os relógios analógicos. Se vc der corda, vão ficar repetindo a mesma história por horas a fio. Tem aquele ar triste de coisa esquecida e made redundant (como se fala isso em Português?).
Os relógios de bolso são como aristocratas: têm mais enfeite e pompa que propriamente serventia. São de difícil acesso, mas quando se chega até eles, não te dizem nada que outra pessoa não pudesse dizer. Não funcionam sozinhos, são dependentes da força alheia; vivem fechados, pra ninguém lhes gastar a beleza, ou seja, descobrir que por baixo daquela tampa entalhada em ouro 18 k jaz só mais um relógio. E ruim.
Relógios de vídeo cassete são como crianças pentelhas: estão sempre ao redor, mas nunca fazem nada de bom. Chamam atenção e só. Não calam a boca quando se apaga as luzes, mas continuam sem fazer absolutamente nada de produtivo. Só servem para exercitar sua paciência e sua capacidade zen-budista de ignorar estímulos externos desagradáveis. Ninguém sabe dar jeito, só o dono sabe o macete (talvez).
Relógios de pulso são como bons namorados, estão sempre ali do seu lado quando se precisa deles. Dão uma sensação de segurança e te ajudam a encarar o mundo cruel. Duram um bom tempo e com uma boa refrescada talvez durem ainda mais. Caem junto com vc, se arrebentam junto com vc, não te soltam por nada. Se forem roubados, você sente um vazio incrível, um sentimento de perda quase incurável. Mas logo você se interessa por um modelo charmoso e pronto. Mais um relacionamento duradouro e estável.
O relógio de rua é como uma puta: todo mundo usa, mas ninguém leva pra casa, ninguém cuida. Se têm um mínimo defeito, neguinho já logo mete o malho e diz que não se pode esperar nada mesmo desse tipinho. Mas quando precisa, usa mesmo, não tem conversa. São usados com fins econômicos por pessoas que alugam seu corpo. De vez em quando alguém dá umas porradas neles por puro vandalismo. Estão sempre numa esquina e têm todos a mesma aparência de triste decadência.
Relógios de sol são como economistas: não funcionam sempre, têm sempre uma grande margem de erro e ninguém entende mesmo o que dizem. Como na hora da crise só tem eles mesmo, a gente tenta confiar neles, fazer o quê. Mas na primeira nuvem já interfere o ano bissexto na contagem do calendário gregoriano e blábláblá...
Por fim, o reloginho do canal 37 da NET é como esse blog: ninguém nem sabe que existe; se sabe, nem lembra; se lembra não tem vontade de ver. (Estou com a macaca! Posting machine, como eu sou chata até online...)

terça-feira, julho 20, 2004

As Agruras De Um Celular Adolescente 

“Ai gente, que coisa. Hoje eu fui procurar uma capa fashion no Shopping. Pra variar, minha operadora fica regulando, dizendo que acabou meu cartão. Que saco! Todas as minhas amigas têm uma capa da Hello Kitty, pô! È uma necessidade básica! Enfim, depois de ficar horas enchendo o saco dela, ela liberou uma conta. Foi um arraso! Fui direto procurar uma capa legal, que eu só tenho 23 cores. Procura daqui, procura de lá, acabei comprando também um pôster do Edson Celulari. Um aparelhinho ficava me mandando umas mensagens, eu fingindo que estava fora da área de cobertura. Ele era tudo! Tinha uma super configuração. Foi uma coisa quase blue-tooth: nos conectamos na hora. Nossos relógios bateram certinho! Começamos uma navegação e marcamos no calendário para nos contatarmos melhor naquela noite, no Claro Hall. A princípio, tudo ia bem, ele era engraçado e tinha vários jogos. Mas logo notei que na verdade era um Vivo tirando uma onda de Tim. Ele nem tinha carregador. Quando a luz externa apagou, ele quis apertar meu asterisco! Quem ele acha que eu sou? Acha que é só apertar o asterisco pra eu liberar meu teclado assim, desse jeito? Fiquei descarregada, menina. Dei o maior chilique, estava vibrando de indignação. Ele enviou uma mensagem de erro, me mandou um aplicativo fofinho e eu resolvi dar outra chance pra ele. Fomos navegar no minibrowser, porque somos de menor e minha operadora é super controladora. Deixei bem Claro que meu teclado ia ficar bloqueado até o dia de trocar os chips, afinal isso não pega bem. Aliás, ele também não estava pegando bem. No fim, foi um horror. Ainda por cima, apareceu uma bolhona bem no meio do meu plástico de tela. Que dia horrível! Nunca mais vou me deixar levar só por um banner moderno e uma promessa de GSM. Minha operadora estava certa: o circuito é muito importante. Deletei tudo do meu calendário, inclusive o cartão de apresentação dele. Ah, o toque dele nem era polifônico! Era aquele Nokiatune breguérrimo! Onde fui amarrar meu cabo, amigas? Não adianta, eu prefiro os silenciosos. Vou desligar agora, gente. Good – bye!”

Tongue-Tied And Twisted Just An Earth-Bond Misfit, I 

Mas então, minha gente. Depois de um pequeno período de hibernação mental e lavagem cerebral para fazer provas, cá estou eu novamente, feliz e contente (?). Puxa, acabaram minhas provitchas! Felicidade é mesmo muito fútil, como é fácil, gente! É só entregar sua provinha de direito civil ao professor e saltitar para fora da sala enquanto arranca as bandeirinhas do código: bem-me-dei, mal-me-dei... Que coisa. Ai, ainda por cima está chovendo! Eu amo chuva! Vim pra casa pegando chuva, cantando “this charming man”. De tão feliz que eu tava, entrei na Musicalle e comprei dez vinis. É, dez. Um dos 10,000 maniacs , que eu não conheço mas gosto do “Poison in the well” e quero ouvir; um do Everything but the girl, que eu não faço idéia do que seja, mas a capa são dois molequinhos mijando numa poça, achei tão boa a capa que comprei o disco (aliás, alguém falou pra eu ouvir essa banda mas não sei quem foi. Por favor, se acuse.); um do A-há e um do Duran Duran pra comemorar minha fase feliz pós-prova; dois do U2 porque... bem, porque é o Bonno; três do Dire Straits e um do Pink Floyd. Cheguei em casa, coloquei o disco do Pink Floyd, deitei no sofá. Primeira música, instrumental, só pra entrar no clima. Na segunda música eu já estava em animação suspensa e daí pra chorar foi um pulo. Eu sou dessas pessoas que chora com Pink Floyd, sim. Não é de tristeza, nem de alegria, nem de porra nenhuma dessas: é de beleza. È tão, mas tão bonito que eu choro. David Gilmour, onde quer que você esteja: eu amo você. A semana passada todinha eu cismei com uma cena bizarra, até contei pro Bê na sexta-feira: era tudo branco e preto (e eu não costumo sonhar nem pensar em branco e preto; dizem que tem gente que só pensa assim) e tinha um surdo batendo (bum! ... bum!) de dois em dois tempos. Era uma rua cheia, tipo da Cinelândia, e estava chovendo. As pessoas usavam sobretudos. Tinha uma pressão aumentando, como se eu estivesse indo cada vez mais para o fundo de uma piscina. E o bumbo “bum!”, o barulho da chuva e só. Ia me batendo um desespero, como se a minha pele estivesse ficando apertada e não tivesse ar suficiente, uma coisa meio claustrofóbica, meio agorafóbica. No cume da tensão, a pele das minhas costas rasga e saem duas asas amarrotadas e cor de terra, vermelho bem escuro, com pintinhas pretas. As pessoas ficam meio assustadas e com nojo das asas, sei lá o porquê, então abre-se um espaço, uma roda em volta de minha passarinhência. Mas nada disso é importante, porque o plano de câmera já abriu, passou pra 3a pessoa e está em cima da rua, na altura de um poste, mais ou menos, e eu tenho uma sensação tão boa! Aí o plano fecha de novo, no meu rosto, olhando para cima, os braços abertos, pegando chuva na cara.
Tá, acabou. Agora, escuta “Learning to Fly”, do Gilmour, pensando nisso. Cho-rei.
P.s.: meu gato misantropo deitou em cima de mim pra ouvir Pink Floyd. Meu gato é muito foda. Ele é quem devia comprar os cds aqui de casa. Minha mãe colocou Celine Dion e ele se escondeu embaixo do armário da cozinha! Meu gato é muito foda...

Considere Toda a Hostilidade Que Há Da Porta Pra Lá 

(Assim, ã passã, eu a-mo o Dennis, com Kakásana e tudo mais). Mini-flash-back para sexta-feira, já que o resto do fim de semana foi estudar contratos (Eeeewwww!!!). Então, que que eu tava falando? Ah, sim! Sexta-feira teve show do Los Hermanos. Não vou falar nada, que show do Los Hermanos é show do Los Hermanos e só. Mas saímos do show, moídas, roucas, suadas, ainda um pouco estressadas de um dia de trabalho (principalmente nossa Miss Highlight) e nos dirigíamos à casinha singela de Dona Natália Barzilai e Associadas. Isso, depois de ignorar os pedidos de Mariana, que queria porque queria ir na Bunker. Bem, ligamos para o Dennis e ele botou pilha: pronto, eu e Natalinha Jingle-Bells resolvemos ir também. Renatinha tinha entrado em coma nesse momento e nem cogitamos acorda-la do seu transe narcoléptico sob pena de lesões corporais gravérrimas. Pois estamos na já internacionalmente famosa Salinha do Porre, esse cenário idílico de um mundo melhor sem produtos da Monsanto, fora as eternas batatas Pringles em cima da mesa. Creiam-me, essa sala veio diretamente do “Além da Imaginação” (do original, não esse remake porcaria de agora) e sempre guarda uma surpresa bizarra em seus rodapés. Já sabendo dos antecedentes criminais da ré, a Srta. Renata Moraes, petropolitana, solteira, misantropa crônica, ninguém nem cogitou sua ida à Bunker. Quem não conhece, porque ela tem cara de quem vai à missa de manhã. Quem conhece, porque sabe do seu caso de amor com a tevê de tela plana, não sei quantas milhões de polegadas. Acrescente-se a isso o fato de essa criatura já ter resolvido ficar (com a tv) depois de vestida e maquiada, em vez de ir conosco ao já referido estabelecimento bélico. Pois bem. Estamos esperando Dona Mariana, que estava imprimindo uns noventa flyers quando ouvimos uma voz do além: “Eu vou com vcs!”. Todo mundo vira, boquiaberto e de olhos esbugalhados, staring. Nem preciso dizer que começou a chover canivete, na hora. “Como assim?” Natália traduz a emoção geral. Mas gente, certas coisas não tem explicação. Tipo: por que é que eu amo tanto assim um tal Possidente? Quem um dia irá dizer que existe razão?

segunda-feira, julho 19, 2004

QE (18/7) 

Um mariner e uma mulher muuuuito retardada! Tão retardada que passou o dia com seu terninho “faço-direito-na-puc” e o Fab 5 ficou sacaneando deveras: o estrupício só sabia dizer “aaaawesome”! Depois a mulher me aparece com uma roupa rrri-dí-cu-la pra fazer par com a barbinha tosca do carinha! Gente, nunca ri tanto! Ainda por cima o sujeito tinha uma bunda enoooorme, dava pra passar semanas escalando! Alguma coisa de bom o lesado tinha que ter, ou seja, era do tipo “cala essa boca e vem cá logo”. Receita de souflé de chocolate, aquela bunda, o fab 5 fazendo o cara fazer flexão toda hora, gritando na cara dele e sacaneando a mulher anencéfala: não tem preço. Gente, quando vão perceber que o aborto é necessário? Viva a noite de domingo (também, só a noite).

domingo, julho 18, 2004

Idioteque / Idiot-tech 

Um octagrama de pedra no piso. Caixas de som circunscrevendo toda a pista perfazem uma gaiola de som. A música vira uma força centrípeta, entrando por todos os poros, pelo escalpo e até pelos ouvidos, indo reverberar dentro da caixa torácica. Tzzimmm-vammmm. A batida deixa o cérebro docemente adormecido (“comfortably numb”, if you will) enquanto comanda o ritmo dos espasmos musculares. “Putz, é Radiohead”, você pensa. “Who is in a bunker? Women and children first...” – a voz entra como fumaça cabeça adentro, invariavelmente pendida pra trás, em total entrega. Mal comparando, o tom é como um coro gregoriano para os mais impressionáveis: arrepia a pele e franze as sobrancelhas. Não existe templo mais ateu. Transe sem fé, entrega sem doutrina, passivo sem ativo, submissão sem dominação nem dogma, palavras sem sentido, cinco sentidos em cada grito, emoção sem opinião. Pensando bem, até parece que eu estou descrevendo uma bacanal a la Celso Mello, mas não é isso (até porque esfregação só tem com o Dennis!). É o que é: momento de ser idiota, de ser amental – Idioteque. Convenhamos, temos necessidade, quiçá genética, certamente orgânica, de desligar o cérebro e sermos rebanho, acessórios, manadas, ronins. Ser idiota é uma necessidade; que seja temporária, então. Que não seja dar porrada em pessoas com camisas de cores diferentes. Que não seja ficar chorando de mãos abertas pra cima, esperando maná que não vai vir. Que não seja ficar enfiando um monte de porcaria na cabeça e na barriga. Que merda, que não seja me encher o saco pra ir salvar minha alma. Que não seja corrente da prosperidade, nem tele-sena, nem flamengo, nem Malhação. Que não pentelhe ninguém. Maior idiotice possível, menor pentelhação possível: tecnologia do idiota. Já dizem os crentes (“the believer”): “what if submitting, being crushed, being nothing, not mattering, what if that´s the best feeling we can have?”. Ah, man! Que assim seja! Admitamos nossa necessidade de conforto para relativizar nossa necessidade de conforto; nossa necessidade de certezas para desmascarar nossas pseudo-certezas; o caráter fictício de toda regra e a nossa invencível necessidade de termos regras. Em suma, um comportamento absoluto A só se quebra ao admitir a necessidade desse A, para chegar à relativização de A, agora não-A exatamente porque relativo. A, porque não-A.

segunda-feira, julho 12, 2004

Capuccino Sem Chantilly Numa Xícara Desbotada –Capítulo 1: Domingo, Noite 

Hoje estava no ônibus pensando no meu fim de semana. Quanto mais longe de casa eu fico, mais me exponho a um amálgama de gente, maior a variedade de personalidades impressas na minha. Corta. Domingo à noite, tarde da noite. Muitos avatares, muitas máscaras coloridas, muitas piadas, muitas penas de pavão. Tudo sem compromisso, divertido até certo ponto. Eu, também tentando suportar uma máscara sorridente, um pouco mais pesada do que eu me lembrava. A diferença é que antes me botavam a máscara na marra, hoje sou eu quem se amarra. Tudo feliz, colorido, nada complicado demais, todas as coisas pequenas e brilhantes jogadas pra cima, como confete ou purpurina. “But I know my luck too well (the smiths)”. Uma animadésima festa. Estava eu indo buscar mate quando me peguei no canto da mesa. Se eu pudesse, acho que morava num canto. Aquela fumaça cinza e pesada desce por dentro das minhas pupilas, radioativa, disparando flashes de raios x por todo o cômodo.Eu sempre tenho dessas coisas, não sei o porquê. Aí desce um arrepio absurdo de gelado pela espinha e pelas minhas pernas, até deixar os pés formigando. Tudo apaga por um milésimo de segundo e eu perco o equilíbrio, mas só um pouquinho, também. Odeio isso. Logo depois desse banho gelado, eu fico odiando um punhado de coisas, geralmente o que estiver mais próximo. Normalmente me incluo no punhado, quero mudar tudo, me rasgar e me imprimir de novo, menos chata, menos desestética, menos arrepiável. Sacudo a cabeça pra espantar essa minha parte tão inconveniente, que me faz ficar me rasgando o tempo todo, me faz ficar me reescrevendo, me criticando, me achando tão rascunho sempre. “Who is in a bunker? Here I am alive. Ice age coming. Throw him in the fire (Radiohead)”. Engraçado, achei ter visto outro olhar de chumbo. Ou não. Provavelmente não. Eu sempre tenho essa vontade de me achar do lado de fora, fico me projetando nos outros. Já viram jeito mais masoquista de interação social? Corta.

Capítulo 2  

Domingo, de manhã.Shopping center com meu irmão para comprar presente. A Saraiva fechada, eu de cara na vitrine, por pouco não quebro o vidro: “me deixem entraaaaar!”. Fazeruquê? Vamos ao terceiro piso. Minha fome é assassinada quando meu irmão pede um sanduíche cheio de bacon e salame. Desculpem os que são mais fortes que eu, mas eu fiquei embrulhada. Só de lembrar já me mexe o estômago. Claro que ele não levou dinheiro, claro que pediu o maior sanduíche, claro que só me avisou da sua insolvência no caixa. Claro que eu já tinha perdido a fome, claro que fui obrigada a ouvir seu relato do futebol, depois da festinha no clube, depois da quase briga que ele teve com um sujeito marrento, et coetera. No fundo, uma vitrine da sabotage girl, bicolor: rosa bebê e azul bebê. Juro por tudo que meus olhos encheram d’água quando meu irmão disse que odiou o livro de contos do Machado de Assis, fazendo comentários regados a molho french. O rosa-meleca na cara dele mais o rosa-bebê no fundo me tiraram do sério. Eu preciso ser mais forte, pensei. Meu irmão perguntou o que tinha acontecido. Eu menti que era um cisco. Levantamos, depois de 30 cm de gordura, molho e pão, fomos para o segundo piso, onde sentei pra tomar meu capuccino. Não tinha chantilly. Tudo bem, na minha vida nunca tem chantilly. Eu sou um capuccino sem chantilly. Corta.

Capítulo 3 – Sábado, Noite 

Outback no Far, Far West (Barra). Engraçado como são as pessoas. As melhores, quero dizer, daquele tipo de gente que não para de te surpreender, que quando vc acha que entendeu, mudam de lado. “See you on the dark side of the moon (Pink Floyd)”. Teoria do “Is”, um par de olhos verdes me rasgando a noite toda, outro par me costurando. Ai, esses olhos verdes da minha vida. Meu amigo Marcello, que já me matava de saudades. Engraçado como algumas pessoas são como gatos. Poucas pessoas gostam de gatos. Eles te olham como se soubessem mais que você em tudo na vida. Eles têm aquele jeito auto-suficiente, se lambem e se bajulam o dia todo. Se acham lindos (e são mesmo) e proclamam isso aos 4 ventos. São incapazes de puxar o saco de quem quer que seja, a não ser de si mesmos. Mas só um gato sabe te olhar nos olhos daquele jeito que te arrepia. Só os gatos sabem a hora de te deixarem sozinha e a hora de se enroscarem no seu colo. Só os gatos têm aquele ar tão digno. Só os gatos sabem elogiar de verdade, sem palavras, milhares de vezes mais sutis. Milhares de vezes mais honestos, exatamente porque geralmente tão independentes. Ao meu gato de botas, um carinho no queixo. Ao gato de garras, meu peito. “It’s oh so quiet,shh, shh (Bjork)”.Corta.

Capítulo 4 - Noite De Sexta 

Aniversário da minha querida irmãzinha, Vivi. Quisera eu ter essa força, essa determinação, essa felicidade. Ela até se chateia quando a gente fala isso, mas é verdade: ela é daquelas pessoas abençoadas pela felicidade. Sabe o que quer, sabe que pode, sabe como. Não fraqueja, é como uma daquelas camisas muito boas que não desbotam nunca. Sempre cores vibrantes. Queria ser pelo menos um pouco mais como você. Mas eu sou desbotada. Um capuccino sem chantilly numa xícara desbotada de metal. (arrepio de chumbo frio por trás das pupilas). Que diabos. Odeio tudo o que escrevi, odeio o que disse, o que fiz. E, claro, também odeio o que não fiz.

Epílogo 

Cadê meu botão de reset? (procurem “Homesickness”, do Magritte, e colem aqui)

Apêndice – A Teoria Do “Is” 

Solução prática, do tipo “livro de auto-ajuda”, para aquelas pessoas que, como eu, têm que parar de querer discutir tudo, de ficar se expondo, de ficar se machucando, de ficar achando que podem mudar alguma coisa. De autoria do Gato-de-Botas, é a seguinte: quando numa situação de interação obrigatória com qualquer pessoa burra, irritada ou hierarquicamente superior, usa-se só dois vocábulos, o “é”, significando “sim”, e o “tá”, significando “não”. Pronto. Seus problemas acabaram.

sábado, julho 10, 2004

Wish Upon A Star 

Bem, nem tudo está perdido no mundo da propaganda! Hoje eu vi uma excelente e não era propaganda da finlândia no "Hora do Intervalo". Eu queria ser uma tampinha de alumínio.

domingo, julho 04, 2004

Concurso 

Aberto o concurso "Maravilhosa Etimologia da Vovó"! No nosso programa de hoje, a charada é a seguinte: sua avó entra no seu quarto, que está a mesma zona de sempre, e diz "isso aqui está um mafuá de rendêvú!". Até onde eu saiba, rendezvous é um encontro... O que será que a velhinha quis dizer??? Mandem já suas cartinhas!

Odeio Muito Tudo Isso (3) 

Aquela sua “amiga” se aproxima de você sorrateiramente, com aquele sorriso malicioso no rosto, enquanto você procura na mesa de salgadinhos alguma coisa que não contenha carcaças em putrefação. Você nota o sorrisinho por sobre a mesa, um arrepio corre a sua espinha e você se apressa em voltar à sua tarefa inglória. Mas ela não desiste tão facilmente e se curva por sobre a mesa, fazendo um sinal com o dedo para que você faça o mesmo. Você evita cuidadosamente o molho rosé, e, dominada pela curiosidade que não escuta sua prudência e não respeita o seu medo, aproxima seu ouvido. O estrupício faz uma longa pausa dramática, olha pros lados e diz somente: _tenho que te contar uma coisa depois!
É claro que você protestará veementemente, mas a sádica criatura já tem a faca e o queijo nas mãos, e não há motivos para terminar mais cedo a brincadeira. E assim, numa espécie de jogo de gato e rato às avessas, a pessoa te escapa às mãos durante todo o resto da festa. Pra completar, você tem uma mancha de molho rosé na camisa que lembra vagamente o cachorro da sua avó.
Tal comportamento criminoso só poderia ser aceito, para também não sermos radicais demais, se a pessoa se aproxima, te pega pelos ombros, sussurra a frase nos seus ouvidos como forma de interromper polidamente a maravilhosa conversa que você está desenvolvendo com o Bono Vox, te arrasta para o cômodo livre mais próximo, como a varanda, o banheiro ou o estacionamento, e te comunica uma informação bombástica: “A Madonna gravou um clipe com a Britney Spears!”; “O Amarante está no telefone, quer falar com você!”; “Acabei de ver o David Gilmour comprando cigarros!”; “O Schwarzeneger vai entrar pro Kirov!”; “Acabei de ver seu ex com o seu baixista na piscina!”.

Odeio Muito Tudo Isso (2) 

Natal. Isso merece um texto melhor à época, mas aqui vai mesmo assim. Por enquanto que sirva só pra arrancar sorrisinhos de canto de boca de todos vocês que também odeiam, mas não têm coragem de dizer; eu sei que vocês estão aí, e descobri que não somos poucos. Um dia nos libertaremos e faremos uma passeata do Orgulho Anti-Natalino. A única coisa boa que tinha era quebrar aquelas bolas de vidro, tão redondinhas, tão brilhantes, uma coisa quase élfica, que faziam um estrondo quando quebravam e tinham o maravilhoso efeito de fazer todos os rostos dos seus familiares se contorcerem em expressões de dor. Até isso nos foi tirado. Maravilhosa bolinha, caixinha de Pandora, tão pequena e delicada, guardando tanto caos potencial... Hoje são todas de plástico, queridos. E quicam... Oh, Céus, que tristeza, elas quicam com aquele barulhinho seco toc-toc-toc... Além do mais, a ceia de natal foi feita para punir os vegetarianos e obrigá-los a comer o hediondo arroz com passas, purinho. Sofram! Hahahahaha!

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