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sexta-feira, dezembro 31, 2004

Sometimes I feel I've got to - pã,pã!- run away! 

"What she asks of me, at the end of the day,
Caligula would have blushed!
Well, you've been in the house too long, she said
And I, naturally, fled.
In my life, why do I smile
At people who I'd much rather kick in the eye?
In my life, why do I smile
At people who don't care if I live or die?"
_ Heaven Knows I'm miserable now - The Smiths


Então, véspera de ano novo. Às oito horas da manhã, você é polida e carinhosamente acordada por sua benquista progenitora, que festivamente anuncia o raiar do dia especial com o bater cerimonial da sua porta contra a parede. Logo após, inicia-se um canto de amor e compreensão que preenche o ambiente e conclama toda a vizinhança a partilhar da sua felicidade familiar.

Yeah, right.

Depois do meu esporro matinal de hoje, com dupla duração para compensar o fato de eu ter decidido não passar a véspera de ano novo na prosaica e bucólica localidade de Ponta Grossa, Maricá, eu lenvantei-me para falar com papai e Gabriel, que por algum motivo muito estranho estavam felizes por eu ir me divertir.

Depois de aturar a filha da empregada, que é um amor mas tem 6 anos, ou seja, precisa anunciar todo e qualquer fato ou fenômeno ocorrido à sua volta, assim como precisa de constantes manifestações de apreço e compreensão, fui tomar banho.

Shortly after, fiquei presa no corredor, porque a porta bateu com a chave por dentro.

*hunf*

Agora, estou em casa Barzilaizesca. Meus braços doem de carregar bolsas de gelo e essa desgraçada está assistindo o especial musical de natal do Chaves.

Começaram os fogos. Que lindo.

Que dia bacana. Pelo menos eu vou ao show da Alcione.

Feliz ano novo pra vocês, hein. Até pros que já estão em cinco mil e porrada.


quinta-feira, dezembro 30, 2004

Tsunami em Copa 

Bem no natal, aquela coisa, um maremoto record mata uma porrada de oriental pagão (até agora nengunho não sabe quanta gente morreu).
Mas isso não foi nada. Que mané onze de setembro. O desastre mais hype do século vai ser o tsunami em copacabana.
Uma porrada de gente, tipo milhares de pessoas, todas aglomeradas na areia, cantando, sambando e o cacete, aí vem uma ondona gigantesca e esmaga todo mundo.
Ia ser tão lindo.
Vou propor um joguinho: cada um diz o que faria se estivesse em copa na hora do tsunami.
Eu, Natália, Dennis e Cro estaremos no show da alcione. Eu vou ficar rindo, pulando e gritando: olha aí o deus de vcs!!! Hahahaha! Bando de babaca!
Diga aí, o que vc faria se estivesse lá.?
(Marcelo diz que ia morrer rindo e apontando)
p.s.:Só vai sobrar a Renatinha, que fugiu do Rio. Mas diga tb o que vc faria, Rê.

terça-feira, dezembro 28, 2004

Instruções Para Uso - Como Propaganda da Mtv: Não Tente Entender, Só Sinta 

Alívio de água gelada em garganta fervente. Veio uma senhorita de espartilho, essa noite, e me fez o aborto. Agora só falta comprar pilha pro meu rádio, que parou de falar. Se bem que eu acho que ele está é quebrado, isso sim. “Hello, Mr. Zebra”, diz a vizinha, filha da Ms. Crocodile com o Keiser Wilhelm. Eu sei lá o que dizem essas pessoas que comem carne??? Não dá mesmo para entender, por mais que se tente. Às vezes cai uma ficha no meio da rua, você ri e todo mundo te odeia. Às vezes você fica na janela, olhando os pombos no telhado e alguém te acha. Não tem problema, afinal a gente inventa mesmo um faqueiro inteiro em diferentes metais podendo comer de palitinho. Experimenta só explicar a felinicidade para um filósofo? Melhor nem ver, tem tanta maquina de fazer coisas pela gente por aí mesmo. Aliás, quando o protetor solar acabar a gente assina aquele protocolo japonês lá. Que tolice a minha, esqueci de te lembrar que eu sempre me esqueço de tudo! Está ouvindo esse barulho? É ele de novo, achando que eu não sei que é ele. Mas coma outro biscoito, não se vá assim tão cedo, que ainda não te mostrei todas as minhas fotografias em sépia e mofo! Xi, veja você, a gente estuda a vida toda, vai à igreja e acaba assim... Bem, nada disso importa; comamos pão com maionese e afoguemos os cachorrinhos. O Raskolnikov é que me disse uma vez: “crevez les chiens, si vous n’etes pas contents!”. Boa noite então, dona aranha. Se a senhora, por um acaso, esbarrar comigo voando por aí, faça-me o favor de me beliscar, sim?

segunda-feira, dezembro 27, 2004

Too bad the burial was premature, she said and smiled 

Entra um sujeito bar adentro, olhos varando coisas e pessoas, lançando dez tentáculos para a pequena mesa quadradinha de madeira vazia. Senta, desabando na cadeira, rasgando desafiadoramente qualquer tipo de protocolo de comportamento. Não importa mesmo, porque ele tem uma navalha e quer vingança do seu próprio corte.
O terno branco de linho está mais amassado do que seria conveniente. O cabelo também está longe do apresentável. Olhos de soldado novo demais, alvejado em cheio.
As mãos querem enforcar uma à outra. As faces vermelhas, o sangue quer mesmo estourar as veias e sair poros afora. A respiração ofegante e barulhenta de caça fugindo ferida.
Palavras desconexas murmuradas, uma ou outra sai audível aos ouvidos de mercador do garçon, ou mesmo aos ouvidos de tuberculoso da mulherzinha na mesa mais próxima.
As têmporas suam, colando o cabelo finíssimo e levemente dourado. Finalmente, uma explosão, o torso se eleva da cadeira, a cabeça ainda pende, as mãos se entrelaçam. A palavra dos derrotados, dos pisoteados, dos condenados à morte, dos irremediavelmente apaixonados, irrompe do seu peito numa fonética ainda a ser estudada. Começa com um T explodido, mal contido, que é logo calado por um S. Depois, qualquer vogal expirada, carregada, seguida de um H incapaz de trazer consolo.
A fronte pende, é amparada no antebraço. As pernas se entortam, buscando apoio desesperadamente para aquele novo corpo, nascido sem coordenadas. A cadeira geme no esforço de manter aquela alma acima do chão.
Um momento fugaz de solidariedade. O mundo todo para por um milionésimo de segundo, ferido e compadecido por aquela figura. Não é nada, dirão os afortunados. Mas os de sentidos afinados bem sabem incomensurar um momento de parar o tempo.
O sangue cristalizou-se em pequenos fractais de gelo eterno, rasgando, cortando, furando, na esperança de trazer algum conforto para aquela dor.
Os dedos tremendo buscam um guardanapo para tentar conter os estragos àquela patética o suficiente figura. Seca a secura espumosa da boca, o colarinho fluido e olha para as manchas de lágrima na manga do paletó.
“Deve ter ficado pó de aquarela na manga do paletó”, pensa, que as lágrimas derreteram dois infinitos verdes no linho, em degradé.
Sorriso de derrota, de escravo que vê uma flor. Sorriso de bandeira branca. Sorriso de coração partido que reconhece a sobrevivência da beleza ao amor.

Sometimes you are nothing but meat (Father Lucifer you never looked so sane...) 

Eu podia aqui contar sobre como passei esse fim de semana em absoluta agonia.
Mas não vou.
Eu podia aqui contar sobre o carro que roubaram a mão armada bem na minha frente.
Mas não vou.
Eu podia aqui divagar sobre como a gente descobre amizades tão bonitas, assim, quando menos se espera.
Mas não vou.
Eu podia aqui falar sobre o meu ano, minhas agruras e bem-aventuranças.
Mas não vou.
Eu podia aqui falar dos cds que ando ouvindo. Sobre como Amos me fez chorar.
Mas não vou.
Eu podia aqui discorrer sobre o Sartre que estou lendo, ou sobre o livro de budismo, ou mesmo sobre uma abordagem inovadora no ensino de IED.
Mas não vou.
Eu podia aqui abrir meu peito em 3 ou 4 palavras ou me esconder em textos de três ou quatro páginas.
Mas não vou.
Eu podia fazer tanta coisa, se minha libertação voasse ao menos na minha direção.
Mas não voou.

x, mas... 

“Então, é nataAaAl... A festa cristãÃã...”, explica a Simone no som da sala. Pois é. É natal. Gostaria de dizer “e daí?”, mas ainda não estudei filosofia budista o suficiente. Ainda me irrita e me deprime pra cacete, o fim do ano.

Resolvi tentar escrever sobre o assunto, na melhor intenção de meditar sobre esse problema. Conversei com muitas pessoas sobre essa história de natal e uma boa parte delas confessou odiar a coisa em si. Está se proliferando o fenômeno “after xmas party”, onde todo mundo sai pra se divertir depois do lance natal. Sinal de que essa porra está toda errada, não?

Vamos lá. Todo dezembro é a mesma coisa: as pessoas começam a pendurar guirlandas, colocar pinheiros nos cantos e luzinhas nas janelas. Se vc passar por algum shopping center, verá neve, ursos, cabanas cobertas de gelo, trenzinhos, anões... Com alguma sorte, vc pode dar de cara com uma rena.

Exemplo aleatório que ilustra dogvillianamente a situação:
Uma vez, quando eu era criança, eu vi uma rena de verdade. Foi uma glória! Eu ali, achando a rena lindérrima, uma coisa. Aliás, meu apelido era Felícia e eu queria ser veterinária, got the picture? Até aí tudo bem, todo mundo estava concordando comigo, “olha filho, que bonitinha a rena do papai Noel!”, um frisson. Até que um garoto gordinho (os garotos gordinhos são sempre os melhores) começou a chamar nossa atenção para o odor característico do bichinho exótico. Lembro-me claramente que as crianças levaram tudo na esportiva, todas escangalhando-se de rir e zoando a rena fedorenta. Logo, logo, alguém – provavelmente o gordinho observador – batizou a rena de “Fedorrena”.

Imaginem o clima. As crianças estavam achando aquilo tudo uma festa, divertindo-se deveras. Já os pais não estavam mais achando a rena bacana porcaria nenhuma. O bicho, por sua vez, ficou tenso. Era a sua primeira vez no Brasil, o calor incomodava, o acarajé que ele provou não lhe caiu bem no barrete ou no folhoso, o chão encerado não dava aderência às suas patinhas esculpidas darwinicamente para mui outros terrenos, fazendo-o patinar pateticamente, o que abalava ainda mais sua auto-estima.

Diante de uma reação tão desagradável do público, sem receber o suporte técnico adequado, o bichinho ficou nervoso. Ainda por cima, não lhe fez bem a caipirinha, nem a mulata que tentou tirar uma foto montada nele. Tudo isso junto, a reninha – que era um reninho – não agüentou e passou mal.

Mas ninguém compreende um reninho. O bicho ali, de chifre serrado e sininho no pescoço, emasculado, puto com tudo, num ambiente estranho e hostil, fez o que qualquer reninho e muita gente faria: cagou no chão.

Eu, lógico, estava amando sentir cheiro de rena. Achei um barato o bicho cagar no chão imaculadamente limpo, conforme recomenda o padrão classe média de consumo. Porra, aí vem uma dessas louras falsificadas, que acham bacana cabelo palhoso, que terminaram o segundo grau, assumiram e nem fizeram faculdade, e foram ser vendedoras de loja (“Oi, posso te ajudaaaaar?”), me vem uma mulher dessas e sai carregando a rena embora, pelo sininho. Pô, fiquei puta, quis ir lá libertar a rena voadora do papai Noel, instei meu pai a fazer algo contra aquele sacrilégio brutal, mas o máximo que eu consegui arrancar dele foi um “Que tal a gente tomar sorvete?”.

Pois então. Eu sou levemente Schizotypal. Inclusive, confirmei essa minha suspeita de longa data na semana passada, quando fiz um teste da internet chamado “você tem algum desvio de personalidade?”. Apesar da resposta ser bem óbvia, achei a oprtunidade interessante para conhecer um pouco mais sobre mim mesma. Não adianta perguntar para um schizo o que é ser schizo, porque a very definition de ser schizo é sentir o mundo de uma forma diferentemente diferente. Alguns de nós juram que vêem fantasmas, outros juram que escutam coisas estranhas (não, não vale seus pais tentando não fazer muito barulho enquanto achavam que vc estava dormindo), outros juram que entendem arte moderna, outros juram que gostam mesmo de Hegel. O pior é que, como sentimos tudo diferentemente diferente da margem de diferença aceitável, a gente cisma em duvidar de tudo e não aceita muito facilmente as respostas não-schizo, que nos soam muito mixurucas. (Não, filho, o papai não estava enforcando a mamãe...a mamãe e o papai estavam só brincando, filho, volta pra sua caminha, vai...).

Enfim, no resto do ano dá pra gente divergir nossa atenção das histerias coletivas dominantes à época, seja não assistindo televisão fora do GNT ou da Mtv, seja indo acampar durante o carnaval. Mas a porra do natal e do ano novo não, até índio deve comemorar essa merda. Além do mais, ainda não consegui me infiltrar o bastante no meio barzilaizístico ou outro grupo qualquer que cague pro natal-ano-novo-galera-de-cristo-deus-é-dez. Aliás, só paulista para dar nota pro deus deles né, caraca.

Mas enfim, sou obrigada a “entrar no clima”. É, sou obrigada sim, quem acha que não vai estudar fato social. Experimenta só dizer que não curte muito esse lance de amigo oculto. Pronto, é o suficiente para te queimarem na praça, subversiva, comuna frustrada, maluca, drogada, pão dura, mal amada, frígida, macumbeira, gorda, deve ter prisão de ventre, com certeza.
Aquela decoração pavorosa, o inferno estético na terra, todo mundo enfia enfeite em tudo quanto é cantinho que ainda está livre, a completa invasão do mau gosto, afogamento abissal no kitsch. Esse ano fiquei fantasiando em entrar num centro comercial qualquer à noite e sentar um saci na cadeira do Herr Klaus, um ato de protesto que pode ser considerado mesmo terrorista. O gorrinho é igual, já, mas sem pompom e barra de pele de bicho, numa versão mais adequada ao clima, além de ecologicamente correta. Tanguinha vermelha também é bem mais fresquinho, pô. Além do mais, o velho gordo tem é que fazer exercício, sedentarismo não combina mais com educação infantil! Coloca o vovô pra fazer Atkins. Se tem alguém que tem que andar por aí de trenó voador é o saci mesmo, que é deficiente, porra. Além do mais, que merda é essa de trabalho escravo-taylorista de anão? Alguém tem que dar um update no velhinho, porque está soando tão estranho quanto chegar em casa da aulinha de catecismo com a freirinha meiga que toca violão à la Fraulein Maria, abrir a Bíblia em busca das tais “palavras de amor” e ler lá: “Então, Davi enfiou um lançona bem enferrujada no herege e depois cortou suas tripas fora” ou “aí, o papai do céu desceu um raiozão na cabeça de todo mundo que estava adorando a ovelha de ouro, matando a galera toda carbonizada, numa agonia bacana”. (*hunf*)

Não é possível que só eu ache isso tudo muito incoerente, caceta!

Pinheiro. Pra quê a porra de um pinheiro? Nem araucária é, são uns Tannembaums que neguinho não tem paciência nem pra plantar e compra de plástico. Alguém já viu um pinheiro de verdade? Parece que não, porque pinheiro não tem galhos de limpador de privada verde. E vem cá, o salvador dessa galera toda aí do crucifixo, cujo nascimento se comemora nessa data simbólica-erro-crasso-de-cálculo-de-calendário, yadda yadda, o cara não nasceu no meio de um PUTA DESERTO? Outra coisa, pelamordoseudeuzinho: pinheiro branco NÂO. É o cúmulo. É pior que galho de árvore com algodão.

E os especiais de natal? Cada um mais cebola-com-cristal-japonês que o outro. A boa notícia é que, em 2002, eu e um grupo paramilitar invadimos a Globo e roubamos as fitas dos 3 “Esqueceram de mim”. Vendemos pra um dinamarquês excêntrico e milionário no e-bay e eu gastei minha parte em dez potes de Häagen Dazs e num mouse óptico que não é compatível com o meu 486. *hunf*

Como vcs podem ver, eu odeio muitas coisas, acumuladamente, do fim do ano. Mas, principalmente, eu odeio esse instinto coletivo, esse estilo lemingue de ser. “Gen-tê, é na-ta-uô ! Todo mundo ficando feliz agora, hein? Um... dooois... três eeee... jáááááá!”. Não, porra. Isso é quase auto-transe evangélico em massa, com duração prolongada.

Aí, quando você e seu gato estão escondidos-fugindo na varanda, vem alguém com um pratinho de plástico, talheres de plástico e cerveja num copinho de plástico, comendo o cadáver de alguma ave mega gordurosa com pedaços de abacaxi e fios de ovos (tipo, alo-ou! Nojo!) e senta do seu lado com um olhar de compreensão condescendente levemente alcoólica. Com certeza é alguma tia solteirona-divorciada-viúva (sim, porque as casadas odeiam ou desprezam você, por algum motivo que ainda não compreendi bem, e as tias pastelo ou solteirinhas estão mega se divertindo contando histórias de terror para as crianças) e ela começa um embrulhante discurso sobre as pessoas estarem se desviando do “verdadeiro natal”, todo mundo só pensa em presente “hoje em dia”...

Aí você olha para a figura , pensando: mas porra, a parte de mega aquecer a economia é justamente a parte boa do negócio! Todo mundo ganha um salário extra para torrar! (ta bom, eu não, porque estagiário é um tipo de escravo moderno: é superexplorado, esposto a um ambiente tenso e potencialmente sádico, não consome, não tem direitos trabalhistas e o pior: suporta sua penitência com um sorriso de romeiro nordestino, na esperança-fé-cega de ser alforriado, digo, efetivado). Pô, essa é a parte boa! Empregos, impostos, lucros e tudo mais! Afinal, vivemos num mundo capitalista: capital girando é bom, cacete. Voltem para as aulinhas de geografia.

Por último, essa história de “família”. Gente, de novo, cadê o update??? Basicamente, “família” significa regras de jus sanguinis mais algumas regras complementares conjugais, que dividem a sociedade em grupos que passarão o natal e o ano novo num mesmo imóvel. Pensem sobre isso: se vc convive muito com algumas pessoas é impossível não formar laços. É como suas amizades de escola, de trabalho. Não é a vontade de estar junto que gera a convivência, mas a convivência que gera o laço. Isso fazia muito sentido no passado, quando HAVIA laços. Hoje, quase sempre, essa convivência forçada forja situações que vão desde o famoso “desconforto-de-elevador” até o nível do “eu-vi-você-olhando-para-ele/ela - seu/sua - safado/a”.

Alguns, mais polianas, juram que isso é importante para que tenhamos histórias para contar. Bom, fez tanto sentido, para mim, esse argumento, que no ano que vem eu vou passar dezembro no Camboja. Imaginem só: vou escrever um livro, em vez de ficar desabafando nessa porra de blog que ninguém tem saco de ler.

De bom mesmo, só o cd do Wonkavision que o Marcelo gravou para mim (e nem foi de presente de natal, então tecnicamente não conta, mas resolvi colocar aqui para encher a parte “coisas boas” e parecer menos cri-cri) e um livro muito bom mesmo, da minha guru Soninha Francine , sobre o budismo, que tem me ajudado muitíssimo a levar meu karma com mais bom humor. (Um minuto: agradeço à minha mami por esse livro, já que a gente se acerta tão pouco que esses momentos devem ser celebrados).

Um grande beijo para a Renata, que eu sei que foi a única pessoa a ter saco para chegar ao fim desse texto.

Aí vem o reveiôn. Putz. Pelo menos eu arranjei trabalho extra pra fazer em casa, com um deadline absolutamente impossível, para me ocupar. Nem sei quanto eu vou ganhar por isso: decidi que tem coisas que é melhor não perguntar.

p.s.: meu celular foi para a cucuia! Mas tanto faz, porque a única pessoa que eu queria que me ligasse eu sei que não vai ligar, mesmo.

sábado, dezembro 25, 2004

O Tannembaum! Wie treu sind deine Blätter! 

Natal é a "Fantástica Fábrica de Chocolate" refilmada pelo Kubrick, com o Mark Ryden como cenarista e roteiro do Lewis Carrol, psicografado por Zíbia Gaspareto.

O tíquete dourado é uma passagem de avião pra qualquer lugar do oriente, que siga um calendário lunar e não fique idolatrando pinheiros. (Cadê os raios fulminante que me prometeram na igreja, quando a gente precisa deles? Pinheiro é muito pior que ovelha, qual é!)

Eu e meu gato escondidos no quarto, totalmente cúmplices.

O tempo todo um apito irritante e constante encravado na sua nuca. Coberta de óleo grosso da cabeça aos pés. Tornozelos e joelhos torcidos, nenhum lugar está ao alcance das mãos.
E o estômago não pára de queimar, querendo virar você do avesso para fugir. Não se encontra posição que acalme a gastrite a não ser abraçando os tornozelos.
Tudo soa irreal e grotesco. "what´s the point?" é a pergunta do momento, se bem que nem momento mais há. Eu, vencida pela minha platonicidade, odiando a relatividade do tempo, que passa por mim e fica gargalhando ao meu redor.

Não quero, não quero, não quero, não quero, não quero, não quero, não quero, não quero, não quero, não quero, não quero, não quero, não quero, não quero, não quero, não quero, não quero, não quero, não quero, não quero,não quero, não quero, não quero, não quero.

Não quero absolutamente nada.
Bem, talvez silêncio. É isso. Eu quero silêncio de presente.
(que do silêncio eu sempre soube fazer meu nada pessoal).

sexta-feira, dezembro 24, 2004

Smile. 

Não quero falar nem pensar em nada. Não quero desabafar, nem analisar, nem tomar xarope.
Não quero que ninguém me ajude, que ninguém me acorde, que ninguém leve o lixo pra mim.
Quero me enterrar, me trancar, ficar com cara emburrada mesmo, sem ter que ficar explicando nada.
Estou com raiva, emputecida com tudo e com o nada.
Qual é a solução? Ficar te resumindo coisas que não se explica, pelo icq? Isso vai melhorar o quê? Só se for o seu sentimento de impotência. Bem, nada posso fazer, também, contra tudo que me esmaga. A vida é assim.
Me abrir só vai me fazer vulnerável. Tou encascada de novo, cansei de sangrar. Foda-se. Qualquer que seja o preço, não dá pra ser de outro jeito.
Não agüento mais.
Somos inertes sim, impotentes, uns nadas, nada vai mudar, o mundo só vai te sugar mais e mais, até não restar mais nada. Somos uns nadas, umas porras de uns grãos de areia. Se sumirem milhões de nós, ainda assim não vai fazer falta. Get over it.
O que basta? O quê, hein? Me diz o q basta pra vc?
Nada mais me basta, bosta.

terça-feira, dezembro 21, 2004

Schizotypal 

Se é que enxergo o que está por fora das córneas,
então Girassol sempre foi antônimo de Pára-raio.
Se é que meu gosto importa para alguma coisa,
Então misture verde-oliva com vermelho-sangue.

Priscila Terra acabou de assassinar sua própria mãe. Está parada, as costas apoiadas na parede da sala, tentando recuperar o fôlego.

"Se ao menos ela não tivesse gritado tanto...".

Suspira, limpa as mãos na calça e vai até o banheiro. Ajeita o cabelo, alisa a franja, solta o prendedor e prende o cabelo novamente. A imagem não é bem a das revistas: rosto redondo, gorda, um e cinqüenta e cinco, 22 anos.

A mãe, Vera Freitas, se esvai no chão da sala. Estertores
inconvenientemente intermináveis. Dezenove facadas e a cara toda suja de
bolo de chocolate.

Depois de esfaqueá-la, Priscila tentou enfiar um bolo inteiro pela garganta da mãe abaixo. Não era fácil fazer o bolo descer sem ajuda. Desistiu.

Mas agora estava tranqüila. Sentia-se serena como jamais poderia imaginar.

Nunca mais teria que aturar os comentários da mãe. Jamais a mãe lhe diria
novamente como estava horrível, gorda, disforme. Com sentia pena dela.
Jamais teria que engolir o jantar cuidadosamente preparado para ela,
calorias calculadas, de olhos fechados, suportando as navalhas verbais.

Nunca mais diria coisa alguma, pensamento sorridente e azul claro.

O sonho de Priscila era ser freira. Mas agora isso não seria mais possível.

Seria uma celebridade. De um jeito ou de outro.

Passou o gloss de framboesa. Contaria como o pai - Excelentíssimo Senhor
Secretário de Segurança do Estado do Rio de Janeiro - vinha sistematicamente abusando dela, desde os seis anos. Dezesseis anos de esperma e sangue injetados na sua alma, ocupando o espaço entre seu coração e sua pele com gordura abjeta.

Ajeitou os cabelos. Lambeu os dedos sujos de sangue e chocolate, inclusive debaixo das unhas. Escalou o salto mais alto que tinha, sentou na poltrona, esperou pelos holofotes dos helicópteros e as ordens dos megafones.

Desceu as escadarias do Palácio da Guanabara, uma cena pão com brie e geléia de damasco.

(skeleton by Diego Paleólogo; necromancy by Daria Morgendorffer)


quarta-feira, dezembro 15, 2004

HIsterically Ponding My Fists On The Ground! 

Lembram do Gigante Guerreiro Daileon?
Por favor, vejam esse video...
http://www.interactiveminds.com.br/daileon.swf

Reflexos E Reflexões 

Eu, de pé, no metrô, defronte à janela: sou eu por dentro da minha cabeça, defronte à minha pupila. Se o metrô penetra na terra, é como quando eu tiro o foco do que está por fora das córneas, do mundo por fora da minha pele. Apareço refletida, tanto na janela quanto na retina.
Esquadrinho o meu reflexo. Não gosto das minhas mãos, são como a barba de um rapaz muito novo.
Deixo as unhas crescerem para diminuir a sensação de desproporcionalidade acondroplásica, mas de nada adianta: parecem-me ainda grotescas, menininhas travestidas com as roupas das mães. Ou bonecas de baton.
Fico olhando para o reflexo das minhas mãos com um ar que é mistura de nojo, desgosto e estóica aceitação; um ar de contra-gosto. Um ar de mãe de criança deformada.
Desvio o olhar para o meu rosto, então, como quem procura a coroa de flores num enterro. Engraçado, eu gosto do meu rosto, até, mas só em movimento. No reflexo, tudo bem, mas nunca em fotografia. A fotografia me provoca como que cicatrizes. Ou melhor, acho que fotografias são um atestado de que o que eu gosto em mim é só o movimento, não a estética estátua. Não adianta, nunca serei michelangelística.
Escorro o olhar para o homem à minha frente. Tem uma cara de russo. Ou melhor, tem cara da idéia que eu faço dos russos. Eu sempre tive essa impressão de que minha melancolia era russa. Catarina, a minha melancolia, é uma menininha de tranças, que corre pelos cômodos, sem pousar em canto algum, os lábios finos que nunca riem. E olhos russos.
O homem tem um lindo nariz, reto, fino, grande. Um rosto anguloso, um agradável queixo prísmico, aréstico. A barba está ligeiramente mal-feita, barba de ontem, pedaço do passado esquecido que conseguiu fugir, dando um ar de displicência quase poética ao Ivan. Ou Boris, ou Dmitri. Eu gosto mais de Piótr, mas ele tem cara de Ivan.
Tem também aqueles olhos cinzas, duros, duas lanças de gelo da Sibéria, invencíveis, inquebráveis. Olhos tristes, olhos fundos, olhos de soldado. Olhos russos.
Se tivesse ele um chapka e uns óculos redondos dourados, eu me apaixonaria imediata e redondamente por aquela figura.
Não sei bem como acontece, mas sou apaixonável não-sendo. Às vezes me acontece de achar uma compleição absolutamente perfeita. Essa paixão fulminante, apesar de rara, não dura mais que segundos.
Por outro lado, sou capaz de me afeiçoar barbaramente ao mais repulsivo dos monstros, se sabe ele arrancar beleza do mundo. Talvez as feras consigam fazer isso mais facilmente, numa espécie de compensação estética. Talvez porque saiba-me eu fera também, gosto tanto assim dessas companhias, por vezes.
Entretanto, nem um nem outro é apaixonar-se, nenhum dos dois vem a ser o que almejo. Quero a loucura, um inimigo à minha altura, quero emoção que overwhelm minha racionalidade navalhesca. Quero ser derrotada. Ainda que por mim mesma. De preferência, uma vitória Alexandrina.
Não quero fogueira, fogo de sobrevivência. Quero explosão, furacão, vulcão. Quero mudar o nome da minha racionalidade de Atena para Pompéia.
Não quero uma pintura, quero um Gauguin. Não quero uma rixazinha, quero 1917. Não quero outra abóbada, quero a Capela Cistina. Não quero outro retrato, quero Picasso, não quero outra cópia xerox em tinta a óleo, eu quero um Magritte! Não quero outra novela, eu quero Dostoievski, quero Sartre, quero Nietzche!
E o sinal do metrô avisa que as portas estão fechando, novamente. Qual será a última estação? Nenhuma indicação. Qual será o destino, a saída mais própria para o meu caminho? Nenhum mapa.
Continuo esperando a próxima saída.

segunda-feira, dezembro 13, 2004

Füherworte Rechts mache! - Ofício da Rê 

"toda sexta feira tinha que ter los hermanos no canecão (já que não pode ser na minha casa).
toda sexta tinha que ter cantoria no Empório.
toda sexta tinha que ter, ao menos, um Morangos Rebeldes.
toda sexta temos que inaugurar um novo espaço de socialização no Empório.
então é isso:
toda sexta.
eu, vc, natália, diego e alguns outros convidados do momento.
los hermanos.
empório.
morangos.
trate de avisar ao Amarante e ao Vicente."

Renata Costa e Silva Moraes-Müller

Quanto levou, foi preu merecer 

É sexta-feira de uma semana infernal. Tudo o que eu queria era encontrar um botão de reset enquanto trocava de roupa. Mas tudo bem. Já são sete horas e meu amigo Peter vai me dar uma carona para Ipanema.
Macarrão by Natália e Kk. Renata chega sem que eu veja, me pega cabisbaixa escrivinhando no meu caderninho.
Show dos Hermanos. SHOW DOS HERMANOS. Você pula, sua, grita, chora. Sim, eu choro no show dos Hermanos. Sempre.
Cacos de gente saem do Canecão para ir ...pra casa?? Não! Vamboraprumpóriô!
Diego, Pablo e Alleggra (não sei escrever, então saí dobrando as letras) nos esperavam. Os sete, então, sentados na mesa, cantando em altos brados músicas de bêbado em coro. Total Eclipse of the Heart. Sou a Mônica. My girl.
Já devidamente suprida a necessidade de açúcar e álcool do povo com Morangos Rebeldes, vamos para a pista. Não tinha lugar, como sempre. Como sempre, somos hypes demais para nossas blusas: fomos eu, Rê, Natália e Diego dançar na escada.
E toma de gritar, de dançar, um desbunde. Encheu a escada também. Dessa vez não tinha pedófilo americano tirando foto da gente.
Quatro horas da manhã, expulsam a gente de lá. Não adianta nada: vamos dançando pela rua, com o reforço de Gus e Mary Fê. Eu e Rê, no nosso momento único de felicidade a cada ano bissexto, num nível de bobeira estratosférico, rodando pelo meio da rua, quase fomos atropeladas. Depois, vamos saltitando, correndo, cada hora tinha uma besteira nova para prolongar nosso momento idílico.
Quantas pessoas são felizes como fomos nessa sexta-feira, hein?

E o resto do fim de semana foi horroroso. Mas tudo bem.
Principalmente, porque eu ESTOU DE FÉRIAS! YAY!
(não percam nenhum capítulo da novela “ O grande seqüestro dos salagadinhos”! )

sexta-feira, dezembro 10, 2004

São Paulo, Cinco Cariocas 

Tudo tão simples. Convencida Rê a ir avec moi, tudo o mais foi se resolvendo. Até Natália se mexeu e foi.
Chega-se em casa de Renatinha, troca-se de pele: deixa-se todo o terninho preto de trabalhar até oito da noite por roupas de gente. (Inclusive, tem um iscarpaem, uma blusam e um blazem esquecidos na casa de alguém, lalala...).
Rodoviária: Natália em caso de amor com a máquina de café. Cacá e cocô. Cantar Smiths no meio do embarque em homenagem ao Doubledecker. Sentar bem na janelona na frente do doubledecker. Eu estudando, o pouco que deu, Natália só dando umas olhadas. Renata, a misantropa, escondeu-se da gente para tentar ler em paz e se ferrou: teve que aturar casal tagarela e vovó metida-a-simpática.
O alarme de saliença ficava tocando toda hora pq o Pedro e a Júlia estavam num amor só. Eu e minha queridíssima judia favorita falando tanta besteira que o ônibus todo por pouco não entrou em motim e nos deixou na estrada.
Chegando por lá, Formule 1, o hotel da plebe rude. Alugamos os escaninhos, deixamos as bagagens por lá (quase que a Rê tem que alugar dois lugares, sua mochila imensa profissional de carregar o mundo todo, estilo Atlas, da Trilhas e Rumos).
Por falar nela, aqui começa a odisséia. Uma menina de sangue alemão, território desconhecido e um mapa. Claro que demos mil voltas para chegar no Ibirapuera, mas demos voltas guiadas pelo MAPA, a nova deidade.
“Nãããoo! Você está amarrotando o meu MAPA, Pedro!”
Ibirapuera, Bienal de arte. Êta troço grande. Nosso primeiro estresse com a paulistéia delirante: o guarda queria que a gente usasse a bolsa na frente. Da segunda vez em que a autoridade quis ordenar nosso estilo de carregar acessórios, a Natália mandou um “coe mermão?!” que logo deixou claro que não somos do povo que engole regra pq vem do homem de uniforme. Uma atmosfera de siga as regras, mesmo que sejam burras, foi solenemente ignorada por cinco cariocas se mijando de rir de qualquer coisa. Eu e Renatinha lendo um jornal estrangeiro qualquer que fazia parte de um conezão (os chiques chamariam de “uma instalação”, mas era um conezão), ela cismando que era alemão e eu dizendo que não.
Depois de andar pra caramba, muita coisa bacana afogada em pornografia finlandesa, vídeo mongolóide e rabisco colorido, a gente não agüentava mais dar um passo sequer. Que fizemos? MASP, é claro. Vambora pro Masp.
Impressionismo. Muito bom, mas SÒ TINHA UM QUADRINHO DO GAUGUIN. Hunf.
Na lojinha, toma de discutir o que iríamos comprar para o nosso querido amigo Diego, enquanto a Natália olhava com ar blasé umas cópias das obras, à venda. Renatinha, sempre uma chata de galochas, não me deixou comprar o livro que ela queria. Dieguito, tudo o que estava à sua altura não estava à nossa. Desculpe-nos.
Volta pro Hotel. Dormir! Quem é que ia tomar banho primeiro? Renata, depois de jogar sujo e tentar me congelar com o ar-condicionado ligado no modo Sibéria, ainda roubou toda a coberta para ela. Tudo bem, nada ia me fazer acordar, de tão morta que eu estava. Vocês acham que ela desistiu? Não, senhores. Me enforcou com a referida colcha. Não obstante, meu sono ganhou e ela foi obrigada a levantar pelo seu genoma teutônico: estava vinte minutos atrasada no horário que ela mesma criou.
Um cabelo na pia, alguns momentos de “Vão tomar banho logo, vocês duas, ai ai ai!”, roupitchas pretíssimas. Esperamos a chegada de Pedro e Julia e fomos comer. Chácara Santa Cecília, lá na casa no cacete, eu era a Maggie Simpson no táxi. Uma Smirnoff depois eu estava já tonta. O Pedro:
_3 pixcos, por favor, garçon.
_O quê?
_3 PIXCOS!
_O QUÊ?
_TREIX PIXCOS, CARA!
(Rê intervém: )
_Trêsss pissscosss, garçon, por favorrr.

E toma de comer, comemos demais. Vem um drink vermelho, de nome “Urucum’. Ninguém bebeu, depois de encher a cara de pisco e Green Fairy. Eu abraço o copo e grito: é meu! Claro que nem terminei de beber, pq o Pedro enfiou o resto numa hedionda garrafinha plástica. Hunf.
Pizza no Braz. Gente, eu simplesmente amei tudo: o lugar, a atmosfera, o azeite, a pizza, o spumoni. O que era aquilo?! Hein, Rê, caraca, que que foi aquilo!!!
Todo mundo entupido de comida, nem rolou a Trash 80’s com show do Luiz Caldas. Mas isso não nos impediu de passar a noite cantando Tieta e a musiquinha da abelha.
Renata e eu, morrendo de medo da Natália vomitar em cima da gente de noite.
Acordamos tardérrimo, mas incólumes. Enquanto a Natália toma banho, Rê se espalha na cama, joga o jornal que estava lendo prum lado e deita no outro (o MEU lado). Não satisfeita, rouba o controle remoto e corta o nosso barato de ver clipes da Britney no Vídeo Clash, para ver futebol. Hunf.
Todo mundo se arruma para deixar o hotel, não sem que antes eu molhe a cama toda.
Piada sacaninha da Júlia no elevador.
Tomar café no Fran’s Café. Natália perguntando para a moça se o grão do café era arábico. A mulher não podia fazer menos idéia do que ela estava falando.
Liberdade, feirinha, um tipo de Saara chinês em São Paulo. Catedral da Sé fechada, a Natália com seu boné do exército de Israel querendo se infiltrar entre as velhinhas carolas. Um chinezinho berrando versículos da Bíblia em mil línguas.
TINHA UMA “FERROADA”, DE VERDADE, NUMA LOJA DE ESPADAS! Ainda não me recuperei do arrependimento de não ter comprado uma pra vc, amore mio.
Bugingas mil depois, cai um toró e eu de saiona. Neguinho achando muito engraçada a minha situação. Haha. Hunf.
Pedro toma banho no banheiro no hotel (no banheiro da recepção, q nossa diária já tinha acabado). Eu, puta, pq meu ciclo menstrual resolveu adiantar-se, o que nunca acontece.
Rola um Franz Coiffeur no meio da recepção (apresentação em PowerPoint brevemente disponível).
Viagem de volta, filme do Eddie Murphy, eu tendo que estudar Administrativo, alarme de saliença tocando a viagem inteira, uma loucura.
Papai vem me buscar na rodô.
Aqui acaba o paraíso e começa meu inferno. Mas isso fica para depois. Por agora, só as lembranças de uma viagem ma-ra-vi-lho-sa. Mais informações: www.coffeemood.blogger.com.br (blog da Rê).

Nota-Se, Por Obs-é-aqui-ó: 

A-tensão, caros Leitochaums,

Venho por meio e pelas bordas dexto informedir o fatópico seguintema:
Após in-piração ô-corrida na si-idade de São Paulo, formou-se ex-ponta-na-mente uma flogossoa jurídica nova, só-mente esperando formalidades de registroços: Franz Coafé.
Em-tão, peço dez-culpas antecipadas pelos transretornos.

Há-tem-sim-ó-sua-mente,

Jotaponto Arroba Provedor Dottkom Saint-Beaux-ère

Atmosfera de Vidro 

Chega ela assim, encharcada de chuva. A roupa está até seca; o que pesa é o corpo, esponjoso demais para esse mundo.
Chega ela assim, não olha nos meus olhos e joga as chaves em cima da mesa. Começa a tirar os fardos mais tiráveis e os larga em cima da cadeira, o pulso só se deixando virar e a mão só se abrindo ao peso.
Arrasta os pés e as asas até o quarto e eu escuto o barulho das molas da cama. Dois barulhos de sapato voando pelos ares e aterrissando cada qual em uma dimensão.
Mais alguns minutos, atmosfera de vidro. Só há movimento lá fora. Aqui, atmosfera de vidro e vida de manequim.
Geme então a mola o que não geme mais a alma e o corpo se ergue. Ergue-se com o esforço dos corpos altos, embora não o seja. Ergue-se como um escravo, como ergue-se o solo: ergue-se por força alheia. Alheia, inclusive, à sua vontade, se vontade alguma houvesse.
Atmosfera de vidro: há o hábito, não há vontade.
Vestido o uniforme de não-trabalhar, abre-se a torneira. Ela joga água no rosto, displicente como quem não tem mais razão para asseio senão o costume. Fecha a torneira e observa a tela à sua frente. Observa ali o animalzinho pálido e magro, com olhos do tamanho dos olhos de filhotes.
Atmosfera de vidro: olhos velhos como um carvalho, ainda na idade da flor.
Volta ela, assim, arrastando um vagão de carvão. A roupa está limpa; o que está encardido é a mente, alva demais para esse mundo.
Volta e ainda não me olha nos olhos. Murmura alguma coisa. Mas é tão quase nada que não sei se poderia-se dizer ser alguma coisa.
Arrasta as penas e as culpas das asas até a cozinha. Escuto o barulho da geladeira abrindo, depois papel rasgando, plástico esgarçando.
Atmosfera de vidro: plástico resiste, orgânico cede.
Barulho de algo duro caindo no prato, barulho do prato caindo no microondas, barulho da porta do micro fechando.
Atmosfera de vidro: dois olhos perdidos, rodopiando, até que soe algum alarme que os liberte. Passa-se o tempo todo esperando o sinal do começo da corrida, até que a corrida acaba.
Retorna ela, assim, empurrando seu próprio caixão. A roupa está até nova; o que convalesce é o coração, aberto demais para esse mundo.
Retorna e nem assim se digna a me olhar nos olhos. Passa pela televisão, aperta o botão automaticamente, senta no sofá com o prato no colo.
Atmosfera de vidro: o barulho sempre vem de além do vidro. Por dentro, pantomima de vida, peça infantil comprida demais.
O som é feliz por si só, as cores são cores por si sós.
Atmosfera de vidro: a faca arranha o fundo do prato.
A deglutição é mecânica, não importa em nada o gosto ou quem gosta. A rotina é para evitar a loucura da realização.
Atmosfera de vidro: marca-se o tempo que falta para chegar a hora.
Acaba o conteúdo do prato, chega a hora do conteúdo do copo. Ela bebe como alguém em palestra ou em audiência: bebe para acabar o copo, para preencher a hesitação.
Atmosfera de vidro: glândulas tayloristas, músculos fordistas.
Ela levanta, assim, como quem salta da janela. A roupa se move; o que não se move é ela, etérea demais para esse mundo.
Levanta e passa por mim, ainda outra vez, sem nem ao menos notar minha presença. Eu, ainda assim, busco seus olhos, sigo seus movimentos.
Entra na cozinha e lava o prato, o copo, o garfo e a faca.
Atmosfera de vidro: lava-se tudo, tudo está sempre novo.
Fecha a água, põe o prato e o copo no escorredor. Seca o garfo, põe sobre a pia. Seca a faca, põe devagarzinho sobre a pia. Ela sempre fica olhando para a faca, o serrilhado da faca.
Atmosfera de vidro: cortes nos reflexos.
Depois de alguns instantes de mente vazia e olhares românticos para um talher, ela engrena as marchas novamente e rangem as dobradiças.
Apaga a luz da cozinha. Apaga a luz da sala.
No escuro, ela passa por mim e, finalmente, olha na minha direção.
Atmosfera de vidro: quando ela olha, é porque não pode ver.
Eu, no entanto, não escapo da dor de vê-la nem por um momento.
Atmosfera de vidro: as molas gemem, dessa vez passivamente.
Dorme ela, assim, como que afogada. A roupa está leve; o que afunda são seus sonhos, plúmbeos demais para esse mundo.
Atmosfera de vidro: pele oca, a vida por fora. Ideologia de peixe dourado; o mundo sempre refletido ou refratado, a vida sempre muito perto, visível, mas ao lado.

sábado, dezembro 04, 2004

Warum bin ich hier? 

Viajar num Doubledecker estudando Administrativo.
Siga a marquise: Neverending pain.
Andar em círculos como se estivesse carregando um tigre nas costas.

A simpatia dos paulistas, que adoram piadas.
"Ei, você não pode carregar sua bolsa assim. Tem que virar para a frente" (!?).
"Não pode entrar com a garrafa na mão". "E na bolsa?". "Na bolsa, pode".

Lagos sem patos, com japas.
Vibradores imensos, desperdiçados.
Eu, desperdiçando minha vida num stande da Globopontocom.

(Eles acham que árvore de natal é 'torre'. E que um sinalzinho de trânsito é um farol.)



sexta-feira, dezembro 03, 2004

Through The Looking Glass 

Ela para no corredor, volta um passo e olha para o espelho. Nenhuma criatura no mundo carrega ângulos tão surreais e anti-estéticos, ela pensa.

Sentimentos bons reclamam porque nunca são soltos. Ela acha suas olheiras grandes demais para a sua idade.

Olha, então, para a palma das mãos e as acha tão pequenas, tão fracas.

Acha seus dedos curtos demais, muito anti-musicais. Deve ser por isso que seus acordes soam tão medíocres. Calos nas pontas dos dedos. Calos incompetentes,inúteis.

Olha o reflexo da parede, no espelho, confirmando a impressão de sua imagem ter um foco ruim. Uma luz ruim. Um reflexo muito ruim.

Ruim. Ruindo. Ruído. Rangendo, doendo. Nunca rindo. Sempre indo.

Vazio veloz, não há nada nem para chorar. Só o vazio.

Saudade de alguma coisa tão longe que não se sabe mais o quê.

Um aperto na garganta, um desconforto atrás do pescoço. Setas vermelhas apontam para todas as partes do reflexo.

Barulhos de passos no corredor, mas ela não liga. Sabe que todas as vezes que ela volta a cabeça, ansiosa por ver alguém, os passos viram risinhos debochados na sua cabeça.

Nunca vem ninguém na sua direção, mesmo. Não vai ser dessa vez.

People Schredder --> Thank you for recycling! 

Sabe aquele momento em que você descobre que todas as crianças da sua escola sabem fazer alguma coisa que você ainda não aprendeu,como fazer o F maiúsculo, comer com talheres, ou se defender?

Estou exatamente assim. E o pior é que maturidade é muito mais difícil de se obter do que cicatrizes ou calos. A gente tem que se cortar por dentro, tirar a parte ruim e jogar fora, mas isso tudo sem que ninguém perceba. É como tirar um pedaço da comida que não se consegue engolir, discretamente, enquanto se está num almoço com todos os seus chefes.

Sensação de estar crua demais,

verde demais,

sempre, sempre

atrás...

When I grow up I´ll be stable… Mas eu precisava já estar crescida agora.
Onde se dá update em gente?
Chorar no banheiro enquanto a gente entra para dentro da pele, assim como os meninos fazem para dentro da blusa quando estão com frio. Sentada no vaso, vou eu me descolando da epiderme e entrando pro meu avesso, com o meu estilete já velhinho e meio enferrujado. Lá dentro, eu acho o diabo do mais novo câncer que entrou em meta-estática e vou cortando os fiozinhos de nylon que o prendem no músculo, meio anêmico já.
As lágrimas podem cair, tudo bem, mas desde que seja em silêncio. Tem sempre gente nas cabines dos lados. Sempre.

Então, você embrulha seu defeito-confeito-sem-efeito-direito num pedaço de papel higienizador e dobra num quadradinho formal, com cara de carregador de caixão de enterro de
autoridade.

Autor-idade...

E você leva o embrulhinho fúnebre para casa, porque tem medo que alguém descubra pistas da verdade revirando o seu lixo.

Seu LIXO!

Nada de chover e você não fuma.
Nada de céu nublado e você toda São Paulo.

No escritório não! é o que pisca em néon verde por dentro das suas pálpebras toda vez que você não quer mais ver a tela do computador na sua frente. Não, não, não e não, que droga, eu não quero almoçar!
(nunca mais, btw)


quarta-feira, dezembro 01, 2004

N ao Quadrado 

.


Perfeição minha, viva, encarnada,


Minha alma em cópia litografada,


Ali, bem do meu lado da calçada!


E as probabilidades lotéricas.


.


Uma poesia tão carbônica e helicoidal,


Só pode ser fruto de desvio hormonal!


Estatística + minha Hiperseletividade


Sobre Freud = Improvável felicidade.


.


Só o último biscoito chinês estava
certo,


Só me salvou o derradeiro eletrochoque.


E a meteorologia nunca ajuda.


.


Veja você, pode o mais longe ser
tão perto?


3 barreiras, 3 refrações e ainda assim
acerto!


Assassinato de probabilística com dolo
indireto.



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