<$BlogRSDUrl$>

quinta-feira, junho 19, 2008

Hey there! 

Olá gente.

Insônia ferrada, vida complicada e dividida em exatamente 5 fronts, falta de sorvete nessa casa e não acho meus óculos - estou no sétimo inferno, aqui, então put up with me, ok?

A única parte boa de tudo é que perdi o celular e me lembrei porque eu militantemente resiti até o meio da faculdade para comprar um.

Simone, querida, vi você passando em Botafogo com uma jaulinha. Não sei se era pra o Mr. Diesel ou para felinicidades outras - anyway, espero que tenha sido uma boa compra.

Ontem eu estava no jardim da PUC, conversando com Tricia (hey babe!) sobre mil assuntos e tentando manter meu espírito no meu corpo, quando começamos a debater o assunto das livrarias independentes, taxação sobre livros, proteção e preço de capa determinado, Amazon e afins. Hoje, li uma notícia meio triste, que eu achei no blog da Alison Bechdel, sobre o fechamento da mais antiga livraria feminista dos EUA, chamada Amazon. Não é irônico?

A matéria, aqui, sobre a livraria, que tem 38 anos e é dirigida pelos próprios funcionários, em cooperativa. Depois fiquei sabendo que ela não vai fechar, que foi comprada - não é alentador?

Definitivamente precisava de uma boa notícia como essa, hoje.

Depois, pensando ainda sobre a sobrevivência-barra-falência de modelos meio kibutzianos como livrarias independentes cooperativamente mantidas, comecei uma discussão com uma pequena geniazinha norte-americana, minha querida neoamiga Somjen, sobre o papel do indivíduo em políticas de ajuda comunitária-barra-desenvolvimento.

Fomos interrompidas - de cá e de lá - pelo telefone e DRs intermináveis.

Oh céus.

Mas voltando. Pensei aqui comigo, ah, já gastei cem reais na Da Vinci ontem (uma livraria independente e genial aqui do Rio, para quem não conhece - meu paraíso terreno, fora o fato de vivermos em um país doido onde livros são artigos de luxo), posso muito bem me jogar na Amazon ponto com.

Afinal, nada cura minhas doenças existenciais como comprar livro. É impressionante. Deve ter alguma coisa no cheiro dos livros - eu baixo e-books, mas não é a mesma coisa.

Anyway, onde eu tava? Ah sim. Daí, eu fiquei pensando qual seria a melhor política de compra na Amazon. Eis a minha tese: compre usado, a não ser por política. É mais barato, fortalece o direito do indivíduo (já perceberam que eu posso revender meus CDs, mas não minhas MP3?), movimenta livros parados, poupa energia e recursos e coisa e tal. Mas eu acho interessante comprar um livro novo quando há um statement político na coisa. Livros feministas e ateus, por exemplo, carregam um trade-off político que compensa a compra do livro novo.

Aliás, pensando bem, devo ter algum distúrbio grave, porque eu comprei outro livro hoje, em um sebo. Olha que tristeza, eu compro livros como aquelas mulheres ridículas e infantilóides do Sex and The City compram sapatos!

Ok, marquei isso com uma bandeirinha para melhor posterior análise. De repente eu deva doar meus livros para uma biblioteca, de tempos em tempos. Alguém aí faz isso? Alguma sugestão?

(aliás, logisticamente seria ótimo, não consigo mais andar no meu quarto)

Que mais?

Ah sim. Como estou assim, cuspindo fogo pelas orelhas, a BBC resolveu me perguntar o que eu achava do site. Difícil foi ficar no limite de caracteres.

Outra discussão interessante que me ocupou hoje, depois que eu terminei minha resenha (Habermas e eu fizemos um acordo de produtividade - a resenha não está como eu queria, mas elas têm que sair de algum jeito para dar lugar para os papers) foi um debate racial meio engraçado, na África do Sul. Como o governo estabeleceu ações afirmativas para negros, visando a enfraquecer o domínio dos brancos no setor de serviços públicos, historicamente dominado, os chineses da África entraram com um pedido para serem negros. Não é interessantíssimo? A notícia, aqui.

Aprendizes de pós-estruturalistas como eu gostam dessas coisas. Um beijo para a Judith Butler.

Aliás, me irritei hoje com outra coisa - minha professora de epistemologia e do grupo de feminismo está atrasada. Ok. Adivinhem o que ela corta do currículo? A autora feminista!

Nem vou começar a comentar isso, senão o blog frita. Estou chaaata, hoje...

Por falar em chata, pensei em duas coisas para a coisa de azeitar a instituição do meu mestrado: primeiro, é absolutamente ridículo que não haja os livros na livraria. O mínimo que tem que acontecer é eu poder COMPRAR o livro que eu preciso na livraria do campus - para mim é bom, para a livraria é bom, para o campus é bom. Então, vou conversar com o diretor. Tem que ter uma lista de livros! E a gente tem que saber exatamente o protocolo e a verba da biblioteca, para poder participar da escolha dos livros. Segunda coisa é que eu acho absurdo a gente não falar nunca de ensino-aprendizagem em um mestrado nota 5 na CAPES. No mínimo, tinha que ter um projetinho piloto, tentando fazer a gente pensar nisso, mesmo que fosse dentro de alguma matéria. Por exemplo, sei lá, preparar apresentações didáticas do próprio material da disciplina, que pudessem ser acumuladas e passadas para as próximas turmas, que contribuiriam também com as próximas e assim sucessivamente. Todo mundo ganha!

Isso para nem falar nada sobre o fato de não estarmos o suficiente na esfera pública, discutindo democracia, futucando as pessoas, pensando institições e Estado... Para que serve um curso-redoma de teoria do Estado? Eu fico aqui na minha salinha, fumando meu cachimbo, teorizando sobre o mundo e só?

(eu disse que estava chata hoje)

Só sei que, para o futuro, tudo o que eu preciso é de: (1) ciclovias; (2) um computador wireless que caiba em um alargador para ir no meu ouvido; (3) uma lente de contato com skype, wikipedia e google (a sagrada trindade, amém); (4) um novo balanço entre academia e democracia, para fazer meu hemisfério cerebral direito feliz e (5) um novo-velho balanço entre todo amor que houver nessa vida e algum veneno anti-monotonia, para deixar contente o hemisfério esquerdo.

Ah sim. Para mais diversão, guias espirituais discutem se Obama é iluminado ou não. Aqui.

Se vocês tivessem paciência, contava também do debate sobre sapatos de salto, mas vocês nem estão mais prestando atenção, que eu sei. :)

Ok. Vou parar por aqui. Cinco e meia da manhã. Só falta meia hora pro sol nascer e eu ficar com sono. Yay!

Vou ler algum livro dos que eu comprei, valorizar minhas aquisições e disfarçar a culpa pelo consumo fetichista travestido de interesse intelectual genuíno e legítimo.

Espero que a aula da Márcia amanhã seja a metralhação que sempre é... Estou precisando de metralhação intelectual. (Portanto, Simone, caso vc não tenha entendido a indireta, trate de me mandar um e-mail e me levar para jantar. Major Vin, vc tem que me levar para almoçar e aparecer com algum livro de poesia, como vc sempre faz. Se mais alguém ainda lê isso aqui, mande e-mail também e me leve para tomar um café. )

Um beijo todo insone, chato, mas amando vocês mesmo assim,

J.

P.s.: show do Muse? Alguém? Pelo amor da divindade de sua preferência?

sexta-feira, junho 13, 2008

Sem alarde, o tempo. 

Berlim.

O muro corta a cidade como uma cicatriz mal curada. Corta a cidade como corta as pessoas.

Um muro, um muro entre nós. Um muro entre o que sonhávamos para hoje e o que lutamos para lembrar por amanhã.

Há coisas que, partidas no meio, não são mais nada.

Um muro e guaritas. Arame farpado por dentro da garganta. Um grito sufocado, gosto de sangue na boca, os punhos fechados - dentro dos bolsos. Um olhar do mais puro ódio, pelo canto do gorro.

O muro.

Um muro que não adianta questionar, que não se pode derrubar. Um muro. Um simples muro. Nenhum muro é realmente grande, porque não precisa ser assim tão grande, se a gente pensar bem. Só precisa ser um muro.

Um murro. Na mesa, na parede, no colchão meio vazio. Os papéis com manchas de gotas. Os soluços noite afora, o grito abafado no travesseiro.

A luz no meio do túnel. No meio do túnel, onde te encontro. Nos fins do túnel, no fim das contas, só escuridão. E uma espera torturante.

Esperança no meio do túnel. Um paraíso nesse mundo, abaixo do mundo, apesar do mundo. Um paraíso na outra esquina.

E o nosso altar ao relógio sem alarme. Sem alarde, o tempo.

Muros caem. Até lá, o ódio enjaulado amarga na boca, todos os dias.

À noite, com os olhos postos no muro pela janela, cuspir um pouco da amargura. Cuspidas de desprezo, para o chão, com os olhos postos no muro.

Um olhar de prece ao relógio. O tempo virá.

Por enquanto, só esse muro. E as guaritas.

Durante a noite, o mimeógrafo roda panfletos e poesia. Esperança clandestina, um evangelho de perguntas, religião secular, um rosário de segundos.

Tudo impresso, fico eu tentando apagar impressões. Tentando borrar a queimadura, tentando esquecer o pedaço de brasa no meu peito. Mas não é verdade. Até afasto meu corpo jejuante do meu próprio centro, mas não quero de verdade apagar a brasa.

O fogo que me queima é o fogo pelo qual vivo. É a bandeira escondida por dentro, no avesso das minhas carnes. É o brilho no fundo dos meus olhos, quando estão fechados. É a florzinha branca do pé de maracujá, costurada na memória.

É o sorriso que me leva embora quando esqueço.

Mas o muro está lá. Ainda. De pé. Tão rijo quanto meu ódio.

Durante a noite, meu amor, mimeógrafo contra o silêncio, túneis contra muros, esperança contra regras, sonhos contra grilhões.

E quando tivermos sorte, eles se distraem nas guaritas - temos alguns minutos e o meu violão.

O relógio no altar, sem alarme. Sem alarde, nosso tempo virá.

This page is powered by Blogger. Isn't yours?