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quinta-feira, março 31, 2005

Wish Upon a Confete 

Hoje pela manhã, acordada por despertador inusitado (Natália, encharcada de cafeína) às seis da manhã, levantei para tomar meu banho. Tomei meu banho, estou vestindo as roupas, pego as meias. O que tem dentro de uma das meias?

Confete.

Fiquei pensando sobre o confete. Vou institucionalizar uma nova crença pagã.

(chega de ateu não se divertir)

A partir de agora, todo mundo que achar um confete pode fazer um pedido. Sim, faça um pedido para o Confete. Pode ser também a Fada do Confete ou o São Fette, o que quer que seja.

O protocolo mandingal é o seguinte: pegue o confete, coloque na palma da mão esquerda, feche a mão, erga acima da cabeça, feche os olhos, concentre-se de verdade e diga:

"Ó onipresente confete!
Simbolizas a própria humanidade!
Para sempre tragado ao solo,
Vida fugaz, vivida de verdade!

Ó souvenir da minha felicidade passada,
Leva-me de volta ao Pirajá,
Aquele nosso tão lindo lugar,
Onde não se respeita a alvorada!"

Aguardem. Em breve, uma musica em versão sanduíche -iídiche pelo Filé com Fritas.

E, btw, Renata e Natália têm duas opções, para garantir a equidade e o equilíbrio das forças universais: ou fazem um pedido a cada dois confetes ou encaram o número significativamente maior de confetes e, portanto, de pedidos, como um incentivo para mais festénhas em Pirajá.

domingo, março 27, 2005

You can because you will 

Então, me aparece essa criança, senta do meu lado e me dá na cara com essa verdade nova: “Eu não posso errar”.

Sabe aqueles momentos em que você não sabe ao certo se aquela criança é muito esperta ou muito bobinha? Porque, sinceramente, podia ser um ou outro. Que nem letra do Nirvana. E Minimalismo e Dadaísmo. Sabe aqueles caras que carregam uma etiqueta qualquer por aí, tipo maluco ou criminoso? Às vezes a gente fica em dúvida se a etiqueta não é acento diferencial. Isso porque, veja bem, as únicas etiquetas que todo mundo usa são a de pulso e a de dedão.

Então. Me vem essa criança, senta sem cerimônia ao meu lado. No meio da conversa-polida, daquelas escritas em caderno de caligrafia, daquelas tão protocolares que dá pra pensar em mil outras coisas, ela solta essa bomba.

“Eu não posso errar”.

É, assim mesmo. Esse balaço estoura no seu peito e você boquiaberta, duvidando dos próprios ouvidos.

Aquelas verdades que só crianças dizem. Daquele jeito sem querer ofender, sem querer salvar. Daquele jeito erupção, sem intenção de sim nem de não. Daquele jeito que pede uma resposta, resposta daquelas que você sabe que não tem. Pronto. Lá se foi seu fim de semana. Josten Gaardner, here we go.

Um gosto de glacê. De coisa enjoada, de exagero, de rapadura.

Como assim não pode? Quem foi que disse e quem foi que ouviu?
Não só pode, como vai. E muito. E deve.
De que adianta cem por cento de aproveitamento se nada se aproveita?
De que adianta? De que te adianta uma lápide de granito e teu epitáfio: “Acertou tudo”.

Ai, menininha, menininha do meu coração... Aqueles olhos de adulta, um coração tão bonito. Esse complexo de Prometeu e essa teimosia em se esconder.

“È bom / às vezes se perder / sem ter porquê / sem ter razão”.

Lembras? Eu cantava isso, segurando teu rosto nas mãos, meio rindo meio falando sério.
Menininha ostra. Minha querida Oyster Girl.

“Right behind that door
There is an Oyster Girl.
She sits alone in her shell,
Turning wounds into pearls”.

Lembras? Eu escrevi num pedacinho de papel pra ti, quando deste de ficar quietinha lá dentro do teu quarto. Deixei na sua escrivaninha, toda arrumadinha. De alguma forma, por alguma razão, aquela escrivaninha me doeu no peito, lá dentrinho, de tão arrumadinha. A madeira branca-branquinha tinha cheiro de lágrima e me olhava de um jeito, querendo que eu abrisse a gaveta pra deixar uns grilos saírem.
Ai, pequena menininha, eu não pude! A gaveta dessa tua escrivaninha branca-branquinha é tua, só tua. Eu gosto tanto de ti que nem posso interferir. Que nem aquela mãe que quase morre, o corpo apertado na grade, vendo o filho jogar futebol.

E tantas vezes vais errar! Tantas, tantas, inúmeras... Fico com tanta pena dessa tua clausura antecipada. Dessa pena pré-sentenciada por ti mesma. Ou será por ti mesma?

E gostas de tantas coisas simples! De música simples, por exemplo. Ao mesmo tempo não admites erros, queres exigir tamanha sofisticação de todas as coisas, de todos os lados. Camufla-te, usas só tecidos camaleônicos, praticas teu mimetismo com afinco. Ao mesmo tempo em que queres ser assim, monocromática, escondida no comum, queres ser extraordinariamente precisa. Sobre-humanamente infalível. Queres Atenas e o Olimpo, ao mesmo tempo.

Ai, menininha do meu coração, minha pequena Ivich, não brinques assim com a navalha do Boris. Não faças isso, que eu sofro junto. Será que um dia entenderás? Existe acerto justamente porque existe erro. Se todo mundo acertasse, os burros e os feios também, o acerto que a gente ia inventar ia ser outro, mesmo. Existe acento justo porque existe vogal átona.

Com uma só frase te prendes e jogas a chave fora. Recusas visitas e habeas corpus, defesa, apelação. Que te dá essa impressão de que deves ser mártir? Que é que queres provar e a quem?

Quantas vezes eu vou ter que te pedir pra te deixares um pouquinho mais solta? Quando te libertas e ris aquela risada tão bonita, aquela de snoopy, você nem sabe a luz! Você nem tem idéia.

Quantas vezes, menininha do meu coração, eu vou ter que te jurar, olhando assim fundo de doer nos teus olhos, que estás ali em cima? Hein, quantas?

Quantas vezes eu vou ter que te sacudir e perder a paciência e ficar toda vermelha e te repetir que não podes querer tanto de si e se esconder ao mesmo tempo?

Ai, menininha do meu coração, não faças assim. Vamos ao cinema, que eu te compro pipocas. Queres ver o filme dos robôs ou do Efalante?

Vamos ao cinema, que não tem desculpa nenhuma pra perderes assim os pés, pra perderes o chão, pra se afogar em derrota.

Vem, me dê a mão. Vamos, que eu te explico umas coisas engraçadas da vida, dessas que só você me faz notar. Dessas verdades tão simples, tão corriqueiras que a gente perde por baixo de um monte de palavras entre aspas. Vamos, que eu te explico como é que pode a gente não poder justo porque pode e proibir justo porque sabe que vai mesmo acontecer.
Vamos, vamos ao cinema, filosofar sobre coisas assumidamente imaginadas. Já cansei de conversar com gente que acha que parou de imaginar. Já cansei de gente que tem muita certeza.

Vamos, ande logo, menininha do meu coração. Não, por favor, não troques de vestidinho. Justo o que eu queria que você aprendesse é a não ser assim tão burocrática. Nem que tenha que te subornar com outro pote de Hagen –Dasz de baunilha com biscoito, eu quero mesmo é que desenhes com giz de cera pelas paredes. Tudo tão lindo quando ris daquele jeito! Daquele jeito de quem foi criado em quintal, de quem é da opinião de que gaiola é pra ser casinha, é pra ter a portinha aberta. Tudo tão amarelinho quando você me liga fora da hora pra contar o que foi que arrumou de fazer!

Decidas sem pensar muito: queres ir ver os Robôs ou o Efalante?

Minha querida menininha, deixe-me te levar pelas mãos um pouquinho, mesmo sabendo que há muito sabes atravessar as ruas sozinha. Olha pra mim, que te conto uma verdadezinha bonita: estás aqui em cima!

Se não acreditas, olha para baixo!

Acredita, acredita em mim, me deixa te levar pelas mãos um pouquinho que seja: tu podes, justo porque vais. E não o contrário, entendes?

Não faças essa cara de “duvido”. Olha para baixo. Olha pros teus pés. Olha pros teus pares.

Doce ou salgada, meu chuchu?

quinta-feira, março 24, 2005

(...) 

Era quinta-feira de manhã. Ligaram e disseram.

Eu? Eu nem sei. Minha mão derrubou o telefone, meus joelhos me sentaram no sofá.

O tempo passou, deu uma voltinha, passou de novo, esperou, ficou rodando pela sala, perdeu a paciência e foi embora. Veio, ficou e foi, daquele jeito que só o tempo e a juventude têm de vir, ficar e ir embora.

Eu? Eu nem sei.

A campainha tocou, tocou, tocou... Tocou daquele jeito de campainha, justamente sem tocar nada. Sem encostar, sem saber se o outro está frio ou quente, do outro lado da porta. Tocava sem parar, aí parava. Aquele toque que só campainha e condescendência têm, o dedo do outro lado da porta.

Eu? Eu nem sei.

A fome bateu. Bateu, me bateu no estômago, daquele jeito que só fome e amor batem. Aquele jeito que dói, mas não deixa vestígio. Daquele jeito clandestino, daquele jeito criminoso, daquele jeito que te faz duvidar da sua própria sanidade. Aquele jeito sem prova,aquele jeito que só você vê. Que não dá pra mostrar, que não dá pra dizer.

Eu? Ai, eu nem sei.

A noite chegou, daquele jeito que só a noite e a solidão têm, de chegar bem quietinhas, bem devagarzinho. A gente só nota quando já é tarde demais. Quando eu notei, era noite já. Quando eu notei, você não estava mais lá. Nem em nenhum outro lugar. Quando eu notei, já era tarde.

Tarde.
Muito tarde.
Tarde demais.

Eu? Por tudo quanto for mais sagrado, eu juro! Eu não sei!

Meus dedos crisparam no estofado, daquele jeito que só dedos e o medo têm de entrar nas coisas por todos os lados. Daquele jeito que rasga, daquele jeito que você nem consegue se mexer, daquele jeito covarde, que dói mais se você tentar se defender.

Eu? Eu nem sei.

Minhas canelas me ergueram nas costas e me arrastaram até a cozinha. Aquela brancura mentirosa. Aquelas mentiras brancas que só cozinhas e hospitais têm. Tudo tão branquinho, a gente quer tanto acreditar que tudo é mesmo tão branquinho.

Eu? Eu nem sei.

Hoje de manhã, ligaram. Ligaram e disseram. Como puderam dizer, como tiveram coragem, eu nem sei.

Que posso eu, daqui, agora? Que posso fazer agora, tão tarde como só eu e a felicidade sabemos chegar?

Eu nem sei.

Toquei violão pra ti a madrugada inteira, com aquela blusa de flanela que você me deu. Olhando pro mar, que é a coisa que mais parece com você. Verde, infinito e triste.

Pra quê? De que serviu isso tudo? De que serviu essa madrugada? E ontem? De que serviu todo esse tempo que eu tenho impresso no avesso dos meus olhos? De me serve você agora só em pensamento?

Eu? ... Eu nunca sei.

segunda-feira, março 21, 2005

Não Me Catuca! (ou "Do Princípio Da Lesividade") 

(Pelo direito de se estar puta)

No budismo, ou melhor, para não fazer generalização bundalelelizante, segundo pelo menos uma das correntes de filosofia budista, o sofrimento teria duas causas: a endógena e a exógena. A exógena é a razão “aparente”, um fato que causa-mas-não-causa o sofrimento. Tipo tropeçar, pisar no chiclete, ser reprovado, o siso inchar e doer o fim de semana todo, essas coisas.

A endógena é basicamente você mesmo, sua reação ao mundo. A principal, segundo essa visão oriental, é a segunda, já que existem situações em que você consegue levar um problemão numa boa e outras em que você dá porrada nos outros porque olharam feio pra você.

Assim sendo, a reação endógena é a principal culpada pela nossa putidez diária.

Isso é bem verdade. Temos que aprender a controlar nossas reações para sermos mais inteligentes, emocionalmente falando inclusive. Sim, porque qualquer pessoa ou macaco sabe que inteligência emocional é tão ou mais importante que as outras, cognitiva, lógica etc.

Assim sendo, uma pessoa que não aparece na faculdade de direito pode chegar numa vara federal e dar um banho. Prova empírica.

Voltando, temos que aprender a lidar com nossos impulsos. É mais razoável, mais inteligente, mais social, mais evoluído, mais quase tudo.

Acontece que, por outro lado, também precisa-se de inteligência emocional para lidar/ajudar um pobre emputecido.

Não adianta nada você querer que o outro fique calmo. Não interessa que seja melhor e mais razoável. É inclusive irrazoável achar que vc vai conseguir, argumentando no sentido de que putidão é inútil, acalmar um emputecido. O emputecido, como o deprimido, tem que ser tratado com habilidade quase profissional. Se vc não consegue, não encha o saco, pelo menos. Se tem alguém querendo se jogar do prédio, vc não vai lá conversar sobre a taxa selic, porra! Deixa o cara da brigada anti-suicídio fazer o trabalho.

Então, aqui vai o manifesto pela legalização da putidão, embasado no Princípio da Lesividade, consagrado pelo Direito Penal. O Princípio da Lesividade é o seguinte: não me encha se eu não te encho. Em outras palavras: se uma conduta não é lesiva à sociedade, não deve ser punida. Daí, vem a parte técnica pra definir “lesividade”, porque tem sempre um pajé/papa maluco que acha que se eu não usar pena azul na lua cheia, vem uma seca e fode todo mundo.

Portanto: se você não tem a manha, não tem uma espingarda de dardos atordoantes e não fez “Acalmando um Puto” um, dois e três na faculdade, não encha a porra da paciência. Não jogue álcool na fogueira.

Eu tenho o direito de ficar puta. Se eu não estiver te batendo, te ligando pra dizer impropérios nem jogando objetos nas pessoas, ME DEIXE FICAR PUTA EM PAZ.

Você, que não tem culpa da minha putice, não tem também o direito de exigir que eu me acalme. Não posso exigir que ninguém seja inteligente, nem exigir que o tímido seja extrovertido.

Ninguém tem direito de dizer que eu não posso ficar puta. Eu não devo, mas eu posso sim. Como posso fumar, me matar, encher a cara, ouvir som alto no fone de ouvido, cheirar cocaína, dar por dinheiro, abortar um anencéfalo e tomar a pílula do dia seguinte (que, aliás, está sendo distribuída gratuitamente na rede pública de saúde. Vou me informar da validade, amigos e amigas. Vamos todos fazer estoque, que daqui a pouco o arcebispo e a governadora fodem com tudo - de novo).

Não tenho culpa de estar com o siso inchado desde sábado, nem de estar menstruada, nem de ter sangue calabrês. Não tenho culpa de nada disso, nada disso eu controlo.

Me deixa quieta no canto, que eu calada fico, inofensiva. Não me cutuca, que eu não te cutuco. Se esbarrar em mim, não precisa pedir desculpas. Mas também não queira ouvir palavras polidas. Insistências serão respondidas com recomendações para visitar uma certa genitora prostituta.

sábado, março 19, 2005

Nota de Silêncio 

Passa-me as mãos pelo rosto, levemente pressionando. Bem de leve. Pressão quase descompressão.

Olha-me nos olhos, aqueles olhos de bronze velho. Barba de cobre novo. Tudo me cobre.

Eu sou tão pequena.

Meu baricentro se faz presente e repuxa minha pele e minha carne para meu centro. Quase que desabo em mim mesma e viro partícula.

Mas eu já sou partícula. Então. Quase que eu viro partícula de partícula.

Golaço na seleção natural, eu acho um lugar em que minhas mutações fazem todo o sentido.

Afogo-me em verde-oliva.

Diz qualquer coisa com uns fonemas alienígenas, eu nem sei dizer “o quê?” nesse diabo de língua.

E então ele ri. Ri e tudo que era, em si, todo o mi, tudo o que estava em ré, tudo o que sempre esteve lá, tudo, tudo, tudo em ri. Todas as coisas do mundo diapasam em ri.

Vontade danada de explodir.

De expulsar todas as galáxias que colapsaram em carbono e estão no meu fígado.

Tudo de uma só vez, só uma vezinha só.

Só uma vezinha, uma vez só não-só.

Minha coluna esticada que nem corda de si usada pra mi. Esticada esticadinha, quase que rompendo, estalando, avisando que não vai dar pé.

Meu peito reverberando em ri, as miofibras todas arrebentando.

Meus joelhos tentando segurar as pontas (da minha alma).

Enjôo de febre, overload. Mon dieu, mayday, mayday!

E tudo em ri, tudo verde e cobre, tudo cobre, cobre tudo, sem cobrar nada, tudo coberto de verde, em ri.

Fusão. Entrei eu em fusão.

Fissão, tudo em fissão, tudo em fissão! Tudo explodindo, implodindo-explodindo, bomba de nêutrons, tudo é pó, tudo que não é pó, será. Só o que é pó será.

Silêncio em lá. Que silêncio terreno é tinitus; silêncio terráqueo é em lá e eu sempre soube disso.

quarta-feira, março 16, 2005

Entropia maxima 

Eu abri o pacote de jujubas e a primeira era verde.

Eu odeio tanto quando a primeira é verde...

Eu comi a verde, mesmo assim. Podia ter jogado fora, podia ter guardado, podia ter dado para alguém, podia ter só trocado de lugar no pacote.

Mas por algum motivo desses fundos ou pequenos demais para se entender, eu suspirei e enfiei a jujuba verde na boca, resignada.

Sentei na cadeira. Alguém tinha usado a minha cadeira. Tateei por baixo do acento, mas não achei a alavanca.

O ar condicionado está bem em cima de mim já faz uma hora, mais ou menos. Estou com frio, então penso em pedir licença para desligar. Mas quando a gente começa a se concentrar no que está escrevendo, o frio some e você quase esquece. Talvez alguém esteja com muito calor, vai saber.

Às vezes eu acordo de manhã bem quando o despertador vai tocar. Esses são os piores dias. Não sei se tomo banho quente, frio ou morno.

Eu sento em qualquer lugar e fico olhando para um ponto fixo, que sai progressivamente de foco. De preferência, de costas para as pessoas.

E sinto uma falta danada de você.

Eu aqui, mastigando devagar, quase ruminante.

Gosto de quê? Eles querem que a gente ache que jujuba verde é de quê?

De repente é de grama. Eu estou aqui ruminando mesmo.

A cor é de bala de limão. De corante que combina com aromatizante de limão, com flavorizante de limão, numa tabela qualquer da união dos fabricantes de jujuba. Mas limão não é.

Está aqui na minha boca, eu sinto, mas não sei dizer de quê.

Já parou pra pensar que a gente se apaixona por pessoas absolutamente comuns? Tantas vezes, são pessoas completamente normais, medianas? Às vezes, são banais até?

Aí, um belo dia, as substanciazinhas da paixão no seu cérebro deixam de se fazer presentes. O ciclo desarma, a receita desanda. Aí, você olha para o lado, pra cima do seu pedestal e vê - vê mesmo - que o rei está nu.

Deviam inventar uns patches para equilibrar a baixa de serotonina e a alta de dopamina para quem está nesse estado de desintoxicação. Uns chicletes. De repente um grupo de ajuda.

"_Oi, meu nome é Antonella Moraes. Eu estou aqui porque me apaixonei por um completo idiota.
_Ooooi, Antonellaaaa."

Esse negócio de alma gêmea é questão de baixa seletividade, tolerância progressiva e internet. Qualquer bedel de colégio ou funcionário de zoológico pode fazer as estatísticas.

Eu aqui mastigando a jujuba verde, um piano por dentro da cabeça. Tem alguma coisa de muito errado com meus sentidos.

A gente fica inventando mil histórias bonitas sobre os trovões e acaba acreditando. O mundo é tão pouco poético, a história é tão crua, o homem é tão ridículo e progredir é um sufoco tão grande que a gente prefere o Mjollnir a Benjamin Franklin.

segunda-feira, março 14, 2005

Ah é... Esqueci! 

(Diego lembrou do "homem que veio dos macacos")

Um dia, uma macaca super azarada tem um filhote todo pelado. Todo mundo achou estranho, mas resolveram deixar pra lá, que macaco não tem preconceito de cor nem de pêlo.

Daqui a pouco o tal do macaco pelado começa a querer andar a pé porque tinha medo de altura. Os macacos acharam que ele era só mais um macaco viadinho, mas tudo bem, porque macaco que é macaco é muito civilizado e respeita as babaquices do macaco próximo.

Daqui a pouco, descobrem que o macaco pelado viadinho não queria de jeito nenhum participar das surubas. Cismava que existia um tal negócio de monogamia, que cada macaco no seu galho, essa coisa. Todo mundo achou que ele era é um macaco pelado viadinho muito do burro, mas tudo bem, porque macaco respeita a burrice do macaco próximo.

Então, o tal do macaco pelado viadinho burro começou com uma doideira que tinha um macacão grandão que voava por cima das nuvens e que era ele que mandava (ou não) a chuva (daí a expressão “o manda-chuva”), se os macacos não seguissem as regras que Ele escreveu numas taboinhas e deu justo pra quem? Exato. Pro Macaco pelado viadinho burro. Todo mundo achou que o macaco pelado viadinho burro era também muito do neurótico, megalomaníaco e sociopata. Onde já se viu uma idiotice dessas? Um macaco grandão que voa?

Daí, veio a gota d'água (sem ser a chuva, que todo macaco sabia que acontecia de acordo com o volume de evaporação das águas). O macaco pelado viadinho burro neurótico megalomaníaco psicopata veio com uma história de todo mundo ter que praticar a abstinência sexual. Daí mandaram o macaco pelado viadinho burro neurótico megalomaníaco psicopata celibatário com pretensões monocráticas pra bem longe da puta que o pariu, que ela já estava morrendo de vergonha.

Esse bicho estranho se embrenhou no meio do mato, atravessou o oceano e foi parar no meio da Áustria. (tudo quanto é troço estranho vem da Áustria).

Aí, ou melhor, lá, ele ficou sozinho inventando as declinações do Alemão. Daí, um belo dia, o tal do macaco pelado viadinho burro neurótico megalomaníaco psicopata celibatário com pretensões monocráticas se reproduziu por bipartição. Ele ficou tão feliz! Diz na sua autobiografia que era a prova cabal de que o Macacão Voador queria o celibato.

Sua alegria não durou muito, porque quando se dividiu em dois, ele morreu. Sim, claro, qualquer pessoa (ou macaco) sabe que se uma pessoa se divide em duas, ela morre. Vira duas.

Um era o EmpAdão e a outra era a Pequena Eva. Uma coisa. Um dia, o Empadão acha os escritos do macaco pelado viadinho burro neurótico megalomaníaco psicopata celibatário com pretensões monocráticas e resolve enfiar os livros pela goela abaixo da Pequena Eva. Como ela resistia demais e ainda por cima contestava, ele ameaçou uma greve de sexo. Ela pensou bem, ligou prum macaco advogado seu amigo, que a lembrou que ninguém tinha inventado o casamento ainda, então ela nem precisou pedir o divórcio. Virou-se pro Empadão, mostrou a língua e disse as palavras célebres:
_Não quer me foder? Então Foda-se.

E fugiu com uma Cascavel que tinha um chocalho muito do útil, que ela tinha conhecido em Paris. Fugiu, mudou de nome pra Lilith. (ver abaixo)

O Empadão ficou sozinho e rezou ao Macacão Voador para que lhe concedesse a bênção da Bipartição (uma coisa que se persegue com muito afinco em muitos lugares ainda hoje, como nos Eua, onde é grande o clamor popular por “Bipartisan Policies”. O Vaticano também busca a Bipartição, considerada a sua Pedra Filosofal. Para isso, têm uma cidadezinha cenográfica cheia de marmanjo, que tentam de todas as formas a reprodução assexuada. A OMC afirma que ainda nos dias atuais a bipartição é privilégio dos invertebrados, mas sem contar os citados acima.)

Daí, existem duas versões da história. A primeira, dos descendentes do Empadão e a segunda dos descendentes da Lili.
a) O Macacão Voador, de cima de um Tannenbaum, viu quase todas as qualidades do macaco pelado viadinho burro neurótico megalomaníaco psicopata celibatário com pretensões monocráticas no Empadão e concedeu a ele a bipartição. Daí, saíram do Empadão o Adão e a Hemp, uma fêmea submissa que aceitou trepar sem gozar, engravidar e ainda por cima levar toda a culpa. Daí nasceu toda a população do Sacro Império Romano Germânico.

b) A Lili, do alto de uma arvorezona de Tannenbaum viu que o EmpAdão rezava pro Macacão Voador. Ela ficou pensando como é que podia ter um macaco pelado assim tão burro. Ou melhor, ela lamentou só haver UM macaco pelado at all, que aí ela tinha que aturar aquela anta. Aí ela resolveu voltar pro país dos macacos, que era um lugar mais quentinho. Convenceu a Hemp a ir com ela e elas voltaram pro lugar de nascimento do macaco pelado viadinho burro neurótico megalomaníaco psicopata celibatário com pretensões monocráticas. Lá, foram super bem recebidas por macacos e macacas. Sucessivas mutações genéticas deram origem à população da África, da Ásia, das Américas e do Rio de Janeiro. (menos o Diogo Mainardi, que odeia brasileiro porque veio da linhagem do macaco pelado viadinho burro neurótico megalomaníaco psicopata celibatário com pretensões monocráticas).

Aí, foi assim.

A volta pros que não foram 

Entã, fô eui Di pra cá de Rê.

Primeira coisa de tudo, eu amo aquele cachorro lindo. (Beijo, Ton!)

Depois, aprendi várias palavrinhas e expressões novas, como “megillah”, “qual é o pó?” e “morde aqui pra ver se sai coca-cola”. No caso, a pessoa pode trocar por pepsi se quiser, tá Natália?
Vimos “colateral”, um filme muito politicamente correto e só um poquiã questionador. Bõzin. Vimos também “in the cut”, que é muito… estranho. Bonito, mas alguma coisa é estranha. Chegamos à conclusão de que o papel da Meg Ryan está mal escrito e bobinho. Acho também que por vezes a diretora confundiu não fazer cortes clichês, o que significaria filmar cenas explícitas e ousadas, com filmar sem convencer. Daí chegamos a um ultra-realismo totalmente adolescente e boboca, tipo o segundo Dogville, onde filmam a execução de um burro. Tipo, mesmo.

Vou dar crédito ao Kevin Bacon e ao Marquinhos Búfalo, que estão bem bacanas. A fotografia também é linda. Mas o enredo... Não sei. Ficou meio mongol. Numa de querer esconder a qualquer custo o “susto” final, os pobres responsáveis tiveram que se prender a ambigüidades e se entalaram um pouco no raso, resumido, estereotipado. Pra desconstruir os estereótipos tradicionais, inventaram outros, com o peso extra de serem novos, de não guardarem qualquer significado em si. Ficou pior.

Â-fã. De forma geral, eu gostei.

Aliás, quando escrevi “vimos”, me refiro a mim, à Renatinha e ao Tio Marco, já que o Diego estava deitado no chão, ressonando. Diego agora adquiriu uma síndrome alérgica a radiações televisivas, de forma que não pode assistir a nenhum filme sem cair em crise narcoléptica.

Fui quase atacada, xingada de tudo quando é impropério, questionada em cada uma das minhas convicções, desde as mais banais às mais profundas. Não que tenha sido ruim, entendam bem. Mas agora fui lançada num poço de dúvidas ainda maior do que em que estava. (sim, isso é possível).

Descobrimos coisas incríveis, argumentos ininteligíveis à nossa lentidão gorda e petista. Pequeno exemplo:
“Dei aos meus dois filhos a mesma educação, mas cada um absorveu de uma forma diferente, você tá entendendo? Tanto que um tem 18 e um tem 22”.

Conhecemos Dona Terezinha, uma relíquia encravada do lado da ex-casa do Coronel Newton Santos. Aliás, o tal do Coronel (ai, tenho bolhas só de escrever... Estou totalmente mainardizando o tal sujeito) morreu, a mulher morreu e a casa ficou pro caseiro. Achei muito hype.
Voltando à Dona Terezinha, trata-se de patrimônio cultural nacional. A mulher sabe fazer milhões de coisas absurdamente bem. Achei um absurdo, uma heresia, um descaramento, que ainda não tenha se aberto uma pequena empresa para multiplicar a produção inspirada nessa senhora teuto-brazuca, genialmente talentosa. Demanda, há de sobra. Um crime não criar empregos, um crime não multiplicar o número de consumidores sortudos que teriam acesso às maravilhas da grife Dona Terezinha. Um crime que esses conhecimentos não se multipliquem, que não se escreva livros de receitas, vídeos educativos, que ela não esteja correndo o Brasil dando aulas e cursos.

Até a lerda petista gorda aqui viu um tesouro ali, naquela casinha, nas mãos geniais da simpaticíssima senhora de olhos azuis.

Ai! Se eu fosse entrepreneur...

Ah, sim. O ministério da saúde mental adverte: nunca me deixem junto do Diego numa enfadonha viagem de ônibus. Os resultados serão desastrosos. (Everybody! Abanem as mãos!!!!)

Só mais uma coisa...A teoria do transporte urbano darwínico – “O homem veio de macaco”.
Eu e Diego viemos, por meio desse meio, expor nossa alternativa ao uso indiscriminado, crescente, contra-produtivo, predatório e ultra-consumista de veículos auto-motores. O homem deve agora andar é de macaco.

Super confortável e fofinho, o seu macaco te leva onde você quiser a baixíssimo custo. Dispensa combustíveis fósseis e asfalto, sabe de cór o caminho, permitindo a soneca, estimula a arborização, serve de companhia, pode aprender truques... Enfim, é orgânico. E ainda por cima, se reproduz. Uma belezinha. Os modelos de uso diário seriam orangotangos e os de luxo seriam gorilas, terrestres, mais lentos, mais caros, mais trabalhosos para dirigir e para estacionar.

segunda-feira, março 07, 2005

Tu qué queu fico gorda??? 

Entã. Voltê.

Fui curada por uma poção milagrosa, trazida por dois Vikings muito hypes. Depois de discorrer sobre a proporção correta de metanol e etanol, eles nos explicaram os perigos de fazer poção sem ser iniciado. Vamos comprar a maquina de destilar pela internet. E vamos comprar um sueco todo cheio das manhas de fazer birita, também pela internet. (Eu exijo um bem ruivo e barbudo).

Genete, que sexta-feira hype. Uma festinha muito da boa, muitos casais pelos quartos, inclusive Diego e uma certa pessoa, sabe-se lá fazendo o quê. Mini conversei em alemão, foi tão bacana! Que alegria, minha genete, é conseguir montar uma frase inteligível em alemão! Não, porque certa mesmo só quanto terminar o mittelstuff, ou seja, daqui a uns dez anos.

Natália mega hiper ultra bêbada, falando muitérrimo alto. Até EU reclamei. Daí o Marcelo chega, ela grita: guardei tequila pra vocêêê! (nisso, eu e um dos vikings estávamos discutindo o tráfico de drogas, a ditadura militar, o efeito estufa e a superpopulação mundial). Aí, ela derruba meio quilo de sal na mão do Marcelo, que fala: “P-pô, Natália...” e ela responde: “Laaaaambeee, marcelôôô!”.

Depois, eu e Rê no sofá, vendo o DVD dos Hermanos (sim, eu chorei, molhei todo o ombro dela... Zizculpa, amoã) odiando que a Natália comprou a única coisa que a gente tinha pensado em dar pra ela. Rolou um olhar ma-ta-dor quando a gente viu que ela tinha destruído nossos planos telepáticos. Nisso, a gente escuta um berro – sim, pq a Natália AINDA estava bêbada – assien: “I think so too! We should give people hope! HOPE!”. Aí, rola a cara mais estranha ever, eu e Rê não a-cre-di-tan-do que a gente tinha ouvido aquilo. Momento total Twilight Zone.

Seis horas da manhã, os casais, exaustos, dormindo pelos quartos (já sem contar o Diego) e a gente resolve ir embora. Gravaçã o dia todiam. Marcelo, me deves o cedeam.

Sábado, noite. Festiâm na casa da Mi. Genete, o Romeu é o cachorro-lobo com incontinência urinária mais lindo que eu já vi na minha vida! E também bati altos papos com o Kurt, que estava totalmente blushed, um pouco tímido com toda aquela agitação em sua casa, sem contar o ciúme do Romeu.

Aprendemos a falar palavrão em sueco, Julia ensinou toda a teoria do sandboard pro Niklas, em troca de dicas de snowboard. Por falar nessa revelaçã (a Julia é tetracampeã brasileira de sandboard), vamos às revelaçã do dia, do ano e do século, feitas por alguém que eu nem vou dizer o nome:

1) “Caralho is very good.”
2) “The bitches in Salvador are very good. I know because I was born there.”
3) “Depois que você faz sexo casual, ou você dorme ou você vai embora.”

Aí, a gente se encheu de bonboã, aprendeu com a Vívia a dançar com remelexo as múzguiãn da Beyoncé. Alinháis, Beyoncé é que nem Desirée, esses nomes de puta francesa, com acento e tudo.

Fomos embora, o Diego passa metade da viagem de volta encostando o carro no nosso, uma latinha de cerveja numa mão e um bombom na outra (pra quê segurar o volante, né?), gritando pela janela: “Qué um bonboã?”.

Daí, a genete foi pro empório. Dançamos deveras, as pessoas tiveram emotional break down na Escada do Palhaço. Uma tremenda confusão.

Levamos os vikings pro hostel, voltamos pra casa, comemos o meu brigadeiro tijucano (falem o que quiserem, meu brigadeiro é o melhor do mundo). Falamos mais merda. Sub metralhadora HK 47, fabricação israelense, com lança bonboã.

Domingo de descansar, dormir o dia todo. Felicidade assim cansa deveras.

Ainda por cima, sábado que vem a Rê vai me levar pra conhecer os pais dela. Imaginem a minha tensão. Segundo a folhinha de bandeja do Méqui Donaldis, a terceira maior fonte de conhecimento do mundo, depois só do Google e de jogar Perfil, a gente gasta mais de mil calorias pra “conhecer os pais dela”. No caso, os pais de minha querida amiguinha Renatinha.

Preciso comer muito carboidrato.

Bezo.

Sabia (o sabbia...?) 

Passo descalça pelas calçadas,
Eu ando um tanto desandada
Eu vou ver se te vejo por aí,
Assim que estiver curada.

Eu já sabia, sabia?
Já sabia que você viria.
Que ia chegar, me olhar,
Virar o rosto e só.

Que você ia rir e que ia falar,
Talvez de mim, mas não comigo.
Eu já sabia que você viria,
Desde que me cortaram o umbigo.

Não tenho tempo para pedir tempo,
Não chove nunca na minha varanda.
Eu não conheço mesmo muitos rostos,
Nem muitos preços nem muitos gostos.

Eu já sabia da dor, da alegria,
Eu já sabia que você viria.
Eu já sabia do fogo, da fumaça,
Sem jeito, defeito, sem graça.



Os teus olhos esvoaçam
Meus olhos sempre no chão
Tua voz tão perfeita
Existe perfeito depois da opinião?

Gestos escorregam vida acima,
Meus pés pregados no chão.
O dia passa, o tempo se gasta,
Tudo meu no ainda não.

Então venha e me diga
Alguma boa mentira,
Palavras de anestesia,
Ou sossegos de Ritalina.

Teus cabelos cavalgam,
Eu ainda colada no chão.
Distância maior a cada minuto,
Existe alma depois do circuito?

Então vem e me oferece
Aquelas boas mentiras,
Afagos de camomila,
Ou soluções de morfina.

Conversas furadas e vazias,
Presteza imediata de corredor,
Perdemos as contas dos pontos,Em drinks de mertiolate incolor.

Essa sujeira de relatividade 

Já parou pra pensar em sujeira?
Nem eu. Só o Baumann pra me fazer pensar em sujeira.
Tenta explicar o que é sujeira. É difícil, não existe uma coisa que seja lixo a priori, a não ser, talvez, os livros do Paulo Coelho. Mas mesmo assim, como é que a gente vai saber se ele não escreveu um livro bacaninha, no meio das novelas psychedelic-porn dele?
Enfim. A definição talmúdica e genial dele é: sujeira é o que está fora do lugar. Areia na praia não é sujeira, mas experimenta jogar areia na toalha da pessoa do lado. Lasanha não é suja, é limpa, (a não ser que você vá visitar a cozinha do restaurante), mas se você coloca uma lasanha na gaveta das calcinhas, é sujo, definitivamente. Feijão no prato ou na panela é limpo, na barba, na toalha de mesa ou na sua calça jeans é sujo. Confete é limpo no ar, caiu no chão já é sujo. Mentir no elevador é limpo, mentir no sofá é sujo.
Um punk na bolsa de valores é sujo, um mauricinho na alien nation é sujo, minha blusa de flanela quadriculada aqui na FGV provoca ânsias de vômito.
Pureza. Minhas divagações sobre isso – primeiro capítulo do Tio Baumann- me dizem que isso não existe. Que é instinto a ser derrubado, como egoísmo ou ciúme. Aliás, segundo me consta depois de refletir sobre as reflexões do homi, pureza é cinto de castidade para imaginação.

Di-álogo com e para o Di-ólogo 

Não tinha nada pra fazer. Resolvi di-alogar di-alugando. Te amo, Di

(Di começa, sobre sobremesa - lembra?):

"Seu sonho, num dia de chuva onde nada mais realmente
importava: e cortar-se com algo tão doce! era quase
como dançar sobre o caixão.

desatando os nós dos tênis: ainda há coisa mais
gasta... e esse gosto tão antigo no fundo da minha
boca. guardo meus dentes para outras ocasiões.

... e cortar-se com algo doce! é sempre uma vírgula
entre o açúcar e o limão, minha receita escondida,
queridos ouvintes: achei algo que não deveria, atrás
do armário. e permito ao meu corpo. deixa e não
resistência.

mas é só um sonho, amor, sobre a mesa...há dias que
não consigo pensar sem que ele cause alguma
interferência.

o prato me ilumina por um instante: há alguma dúvida
que ele tenha passado por aqui, nos últimos anos?

não. é tudo doce e azêdo demais no mesmo forno.

a consistência é: engolir sem pestenejar demais.

para J

(Eu):


Enfermeira, deixe ele entrar, mas só ele.

Beijo na sua boca de cima,
um soco na do estômago,
um riso da boca do sino,
meu gosto e o seu, na boca do mundo.

Língua felina na orelha do livro,
um quadro, um muro e aviso.
Avisa que eu nunca mais vou voltar.

Diz pra todo mundo não dizer pra ninguém,
Mas eu já fui, já parti, já cheguei e vocês nem...

Manda dizer que tenho menos um dia.

manda dizer que tenho menos um, hoje em dia.

O eu de ontem manda abraço.

J., para Di, of course.

(Di):

"e de todas essas partidas, num tom um pouco mais cinza
e profundo em verde;

em uma espécie de mim há de haver. há de ver, quando
subir na janela e atravessar o vidro desse hospital -
que me deixem entrar, mas que seja apenas eu.

por um fio. uma saída. um pedaço dessa sua incoerência
marcada no ontem - eu quem revirei o quarto aos
pedaços para dizer um não que nem fez tanto eco assim.

ácido que eu jurei. nos seus recados. nos seus
rabiscos imundos nas paredes. ácido que eu prometi
internamente no meio dessas pernas.

nessa onda de porradas, sou eu quem vou através do meu
corpo para outros andares.

pode me bater. mas só em mim."

(Eu):


"Enfermeira, passa meu soro para a minha mãe,
Ela é que está parecendo precisar.
Sem precisar exatamente nada,
Tadinha, não sabe dizer bem ao certo,
Qual o bem e qual o certo, pra dizer.

Enfermeira, de novo, deixe só esse senhor aqui.
Tira os histéricos, a família, os políticos,
os chorosos crocodilianos e os paralíticos.
Deixa só quem souber me ouvir.

(que isso aqui não é reunião de condomínio)

Enfermeira, manda botar ordem no terreiro,
Que eu levanto dessa maca só para expulsar todo mundo.
Porta afora, afora esse aqui, todo mundo.

Agora, meu querido,
Agora que tudo se foi para que eu possa ir,
Agora, me diga: o que você quer ouvir?

Juro que mandei trazer aquilo, que eu esqueci,
aquilo que reage com o ácido e dá sal,
Aquilo que reage com ácido e dá sal e não sou eu.

Aumenta meu oxigênio que já me escapam as palavras...

Abafoato de putássio???"

quarta-feira, março 02, 2005

Just so you know 

Bem, queridos.
Ando recebendo uns e-mails preocupados, além de Ana Asch ao vivo mesmo. Tudo isso por causa do meu último post e/ou pelo posterior silêncio.
Estou considerando deletar, mas não gosto de apagar meus erros. Enfim. Não sei.

Queridos: não consigo escrever. Não consigo nem conversar direito. A casquinha ta igual, mas não sei. Parece que eu acordo e durmo e nada.

Mas esse blog não era pra ser um diário idiota. Ego-trip já me basta... tudo.
Só estou dando essa satisfação de não escrever mais. Logo, logo, esse post também será deletado. (Ou não. Resolvi que não)

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