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sexta-feira, dezembro 28, 2007

Let The Bells Ring, Let The Bells Ring 

Oi. Estão sentindo esse cheiro?

(Não, não é o cheiro do ralo. Isso já é default.)

É cheiro de coisa no fogão.

Não morri, estou aqui, sim? E cozinhando para ustedes. Vai sair já, já.

Enquanto isso, fiquem à vontade. Peguem uma bebida na geladeira, sentem no sofá, comam uns amendoins e vão se entretendo com isso aqui:



Let The Bells Ring
The Organ

that's the way that it is
i live under a bell-shaped curve for being average
i know you have been wanting to mention
i treat myself because i'm dying for attention

and then i hold a sword in my hand and climb up a mountain
and call the names of the people i know that'll rock me in the end
"lie rest assured you'll have your own," reverberate the walls
"lie rest assured you'll have your own," reverberate the halls

that's the way that it goes
i climbed so bloody high, i couldn't stop my bleeding nose
i treat myself and it feels good so i treat more
and when i spin touching you is less of a chore

and then i take a sword in my hand and climb up a mountain
and call the names of the people i know that'll rock me in the end
"lie rest assured you'll have your own," reverberate the walls
"lie rest assured you'll have your own," reverberate the halls

let the bells ring, let the bells ring
let the bells ring, let the bells ring
....................................................................................................................


Tão poucas coisas fisgam na alma, esses dias, e as gurias me lembram um tanto os bons e velhos Smiths.

Divagação número 1: será que a vida é vinho, mesmo, como diz o Interpol? Será que o passado engarrafado fica cada vez melhor, ou será que nós é que ficamos mais cínicos e menos tolerantes a delírios de álcool ruim e precisamos de doses melhores?

Devo acrescentar que, principalmente depois do meu desencanto causado pelo ataque de afetação xenofóbica do Morrissey - vocalista dos Smiths e o homem que era meu Dom Quixote musical, meu herói do anti-heroísmo, meu rock star do stardomlessness - eu estava mesmo precisando do velho me apaixonar de novo.

Divagação número 2: aliás, eu li isso aqui esse fim de semana e um sino soou, olha só:

"Sentia o paradoxo cruel pelo qual nos enganamos sempre duas vezes em relação aos seres que amamos: em seu favor primeiro e, em seguida, em seu detrimento."
_ Albert Camus, A Morte Feliz.

E não é que isso é bem à moda Smiths, esse tombo de 180° horrível que as coisas e as pessoas às vezes tomam? E o jeito como amamos, meio míope, meio estúpido, meio desesperado, só para depois vir a palmada sado-masô da vida, aquela coisa tão absurda e tão simples, tão horrenda e tão... hummm... linda?

(eu sei que é braga colocar esse "linda" aí, fica tão Gonzaguinha, eu sei, eu sei. Eu também hesitei. Mas tente colocar alguma coisa aí que não seja braga e se você conseguir, por favor me avise e deixe um comentário aí embaixo. Afinal, eu assumo minha quota de breguice - levanta na roda, diz 'oi' e "meu nome é J. e eu sou brega".)

Um leão por dia é coisa de cristãozinho. Me vê logo dois, sem gelo, caubói, garçon!

Bem, bem. Voltando ao órgão, decidi que já era hora de me encantar de novo, mesmo sabendo que vai acabar. Como um boêmio que dá de ombros e pula de cabeça de novo. Sabe?

Afinal, e daí que acaba? O importante é o caminho, não é?, senão ninguém viajava, dado que vai voltar, eventualmente.

(como o dia em que respirei fundo, fechei os olhos, tirei o crucifixo, a figa e a hamsa do pescoço, subi no parapeito e gritei para o céu lamacento e elétrico: "E daí que acaba?")

Divagação número 3: não sei se é exatamente evolução no sentido darwínico, mas dessa vez, olhe só, acabei de perceber que me adiantei e me apaixonei por uma banda que acabou, para evitar a fadiga; meus Smiths, mais uma vez - pelo menos em versão duplo-xis, dois-ponto-zero.

Divagação número 4: estava ontem insone revirando os cds para dar trilha sonora ao livro do Christopher Hitchens que acabaram de lançar aqui, e me deparei com aquele mundo de cds dos Beatles. Será que os Beatles eram muito melhores que, sei lá, o Los Hermanos ou o Radiohead? Ou será que nunca mais vamos ter bandas que sobrevivem a sei lá quantos quaquilhões de discos vendidos, recordes de primeiros lugares, mil discos de tungstênio e dez tournês cósmicas?

Quero dizer, me parece que hoje as bandas não são mais como os casamentos de antigamente. Até porque, convenhamos, é uma barra estar casado com mais umas 4 pessoas ao mesmo tempo, que ainda por cima trabalham com você. Eu sei por proto-experiência própria que qualquer bandinha vagabunda dobra a probabilidade de infarto em adolescentes e jovens adultos.

Divagação número 5: E se as canções de salvar a vida, como diria o próprio Morrissey, continuam mudando para conseguirem permanecer as mesmas?

Respeitável *cof, cof* Público! Senhoras, senhores e transicionantes! Saudando o ciclo orobórico, apresentamos os citados maravilhosos versos nostradâmicos (ou seriam rushdianamente satânicos?):

"But don't forget the songs
That made you cry
And the songs that saved your life
Yes, you're older now
And youre a clever swine
But they were the only ones who ever stood by you."
(Rubber Ring - The Smiths)

Bem. Minha querida amiga anarquista-fotógrafa do Brooklyn, Ida, recentemente teve que 'mudar' seu nome, temporariamente assinando "Aida", enquanto estava na América Central. É mas ou menos isso que quero dizer. Mudar para continuar o mesmo.

Então, será?

Divagação número 6: essa coisa de natal futucou uma inflamação crônica no meu córtex mamífero, aqui. Alguém quer, por favor, me dizer o que, exatamente, significa liberdade de religião?

Liberdade de religião não deveria incluir também - e principalmente - as criancinhas indefesas que são arremessadas na escolha de seus pais?

Liberdade de religião não deveria incluir o fato de que um mohel não pode transmitir herpes genital a menininhos inocentes e indefesos, que culminam com a morte de dois deles, ao insistir em levar ao pé da letra o mandamento do Pentateuco de terminar a circuncisão com a boca?

Liberdade de religião para as crianças, é o que eu digo. Não é suja e imoral essa guerra pelas mentes das crianças? Não devemos, ao contrário, oferecer o máximo de informação possível e confiar que elas possam escolher?

Ai, ai. Enfim.

Um armagedonicamente foda ano novo para vocês. Nem um minutinho de paz, é o que lhes desejo, queridos.

(divagação número 7: sé é que ainda faz sentido wishfull thinking de ateu para os outros... Enfim. Fica pelo menos como símbolo do meu bem-querer e da minha dedicação.)

Desejo com todo o meu coração - de verdade - aquela velha mentira de ano novo, fardada de negação para vocês: que todas as paredes reverberem "lie rest assured you'll have your own".

Um abraço bem apertado e um puta beijo,

J.

P.s.: Alguém quer me ajudar a inventar uma tese sobre o que vem a ser "a bell-shaped curve for beeing average"?

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