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segunda-feira, outubro 31, 2005

Spit what is living by killing 

Spit what is living by killing.
Cut open the armor to be protected
From a great enemy: your very own self.
Because, you see, dear,
Your self is not exactly your very own.

Expel what is killing by living.
Secrets are things that fool us,
Sadistic, ordinary and smart things,
That make us believe they are different,
That make us believe we are alone,
So that we belong to and with them.

But, do you see, my dear?
There will never be absolutely anything,
And perhaps not even anyone,
To which we can belong,
Despite our deepest longing.

Eject death by simply living: just breathe.
We know it better, so we don't know,
There's no such thing as good, or fair,
Or simple, or certain, or true.
Surf on, keep floating this lack of ground,
Keep few people close enough,
To keep everybody else far around.

When feeling, remember to think.
While thinking, remember to feel.
Keep breathing, keep pulsing, keep balance.
Hurting is one way of escaping, too,
And maybe the worst one, my dear.

Spit. Expel. Eject.
Then, you may lock it out.
Just don’t ever lock it in.

sexta-feira, outubro 28, 2005

Never Is A Promise 

Espero, mas já sei.
Digo que espero, morrendo da garganta para baixo.
Esperei a vida toda, já não devia esperar mais, mas espero.

Anseio, mas já sei.
Juro que estou bem, que só estou dormindo mal.
É hábito, o estômago já devia ter se acostumado, mas sangra.

Choro, mas já sei.
Sofro a dor marcada de vermelho no calendário.
Com as cicatrizes, o duto deveria ter se fechado, mas jorra.

Amo, mas já sei.
Já sinto saudade e tristeza mesmo desde antes do começo.
Depois de tudo, deveria ter aprendido, ou desistido, mas ainda.

quinta-feira, outubro 27, 2005

Erupção Cutânea 

Olhos Azuis pergunta para mim:
_Diga aí, qual o sentido da vida?

(aquele tipo de gente que não se consegue evitar de responder)

_Bem, se você quer saber mesmo o que eu acho, acho que depende. Depende: se tens medo da morte, o sentido da vida é anti-horário; se não tens, é horário.

(aquele sorriso Azul a que não se consegue evitar de corresponder)

terça-feira, outubro 25, 2005

Please Please Please 

Please please please
No more melodies
They lack impact, they're petty
They've been made up already

Please please please
No more maladies
I'm so tired of crying
You'd think I was a siren

But me and everybody's on the sad same team
And you can hear our sad brain screaming

Give us something familiar
Something similar
To what we know already
That will keep us steady
Steady
Steady going nowhere

Please please please
No apologies
At best they buy you time
Until you next step out of line

Please please please
No more remedies
My method is uncertain
It's a mess but it's working

And maybe if you tried it out
You won't like it when you're crying out

Give us something familiar
Something similar
To what we know already
That will keep us steady
Steady, steady
Steady going nowhere

(Fiona Apple, dizendo sempre tudo o que eu queria ter dito)

sexta-feira, outubro 21, 2005

Só O Que Faltava 

Era só o que me faltava:
Não sentir tanto nenhuma falta
De você, de mim,
De nada.

Se ao menos faltassem janelas,
Saberia que entrei pela porta errada.
Mas, ai, que nada.
Nem isso, nem nada.

Se me faltasse o silêncio,
Se me faltasse o barulho,
Se me faltasse a calmaria,
Se me faltasse o escuro...

Mas nada, mas que nada.
Não sinto nem falta,
Nem falta, nem nada.

Se faltasse lar, buscava fachadas;
Se faltasse caminho, buscava pegadas;
Se faltasse mar, buscava mais braçadas;
Se faltasse saída, buscava entradas;
Mas, não, era só o que faltava!

Era só o que me faltava,
Mas não sinto nem falta,
Não sinto nem nada.
Se falta mesmo, não sinto falta.
Nem falta, nem nada.

quarta-feira, outubro 19, 2005

Planta de Túneis - 2 

Rimos das opiniões e teses a nosso respeito.

Sentamos no chão, o Anjo e eu, observando a bifurcação do nosso caminho, adiante. Eu tinha acabado de escalar uma encosta dessas, só porque o caminho estava tedioso e eu precisava ralar os joelhos. O Anjo tinha acabado de rolar uma encosta dessas, só porque o caminho tinha ficado estreito demais para passarem duas pessoas ao mesmo tempo.

Assim, nos encontramos, meio sem querer, numa bifurcação dessas que aparecem de repente na vida, a gente não sabia nem que ia ter que escolher para que lado ir, então nem tinha pensado no assunto antes. Daí, olhei pro lado e vi essa figurinha singular, com cara de caixa de música. A caixa me olhou de volta, meio de soslaio, levantou a sobrancelha e fez uma cara engraçada.

Não sei o que se passou quando rodavam as engrenagens da caixinha. Eu podia ver as engrenagens rodando, mas não podia adivinhar para onde. De alguma forma, a freqüência de cliques fez algum sentido cósmico e inalcançável pelas minhas engrenagens, tão mortais e limitadas.

Minhas engrenagens: sempre cobertas, para trabalhar mais fervorosamente, como uma máquina feita de papel filme. A caixa de música se fez reverberar. Entrar, sem abrir, como só música pode: se faz mais forte quanto mais sólida a barreira. Ironia bonita dessas da vida.

Análise post hoc do resultados dos exames realizados: cápsula encontrava-se em máxima turgência, conseqüência da prolongada prática de injetar ética estóica intramuscular, colágeno filosófico intravenoso e corticóides conceituais variados.

Procedimento adotado: punção preventiva de ruptura irremediável. Para manter a cápsula, paradoxal como todas as verdades, perfurar a cápsula.

Analista de misantropo.

Sentamos no caminho e ficamos ali, imaginando no que daria cada banda da trilha. Como que militares debruçados sobre mapas, sentamos discutindo estratégia e logística, falando das possibilidades e probabilidades, colocando em tabela todas as coisas que a gente não sabia.

Mas não teve jeito. No fim de tanta análise, só uma conclusão: para a frente, não sabíamos nada. Sorrimos, aquele sorriso um tantinho triste de quem sabe mais do queria, as costas doendo. Para a frente, a gente chuta.

O momento, no entanto, nos parecia por demais crucial e já não conseguíamos escolher só para acabar com a angústia de não saber escolher. Faltava aquela chave que rodasse em algum lugar e fizesse o clique.

Para frente, a gente não podia. Que remédio? Volta tudo, Anjo, vamos voltar ao começo de tudo. Levantamos do caminho, sacudimos aquela poeira avermelhada e assoviamos para chamar os nossos cavalos.

Subimos nos respectivos cavalos (me recuso a usar possessivos com pessoas e cavalos), demos a meia-volta e ficamos rindo da surpresa do caminho bifurcado, boquiaberto, nos olhando de longe enquanto galopávamos alucinadamente caminho de volta adentro.

Para trás, é mais fácil galopar: a pior coisa que pode acontecer é cair em um lugar em que já estivemos.

É como jogar de novo uma fase de jogo. Já sabemos onde vão estar as pedras e as árvores caídas. Aquele macete de deixar as ramagens todas baterem mesmo de novo na cara, voando de volta para transpassar as coisas que passaram e de alguma forma ficaram.

Depois, a volta à bifurcação. Aquele passinho de cavalo feliz, antes de chegar ao trote. Não me lembro se tem um nome, o passinho antes do trote, passinho de passeio de fim de tarde em um mundo que chega a ser quase amarelo.

Fomos no caminho de volta comparando slides, tirando os espinhos e as farpas da pele, estalando as articulações, lambendo as feridas, chorando as despedidas e projetando na parede as coisas todas que sabíamos que não sabíamos, quando achávamos ainda que sabíamos.

Para encarar nos olhos a bifurcação, tão parecida com um par de sobrancelhas franzidas e assustadoras.

Apeamos, de volta ao mesmo lugar. Mas nada estava no mesmo lugar. Soltamos as amarras, tiramos as selas dos cavalos e eles foram embora. Sentamos de volta no chão, comparamos nossas asas, ainda amassadas e sujas.

Rimos de todas as etiquetas e vistos que estavam carimbados e presos nas pontas das nossas asas. Anjo e demônio: nós rimos especialmente dessas. Combinamos a piada final: te chamo Anjo, me chama Demônio. E rimos de todas aquelas alfândegas e revistas, e pessoas que achavam que eram iguais a nós, e pessoas que tinham a certeza de serem diferentes.

Rimos das opiniões e teses a nosso respeito. Rimos da bifurcação e prosseguimos pela culatra.

"Wake from your sleep
The drying of your tears
Today we escape
We escape.

Breathe, keep breathing,
Don't lose your nerve.
Breathe, keep breathing,
I can't do this alone.

Sing us a song, a song to keep us warm,
There's such a chill, such a chill.

We hope that your rules and wisdom choke you."
(Exit Music - Radiohead)

terça-feira, outubro 18, 2005

Terraplanagem - 1 

"A heart that's full up like a landfill
A job that slowly kills you
Bruises that won't heal.

I’ll take a quiet life
A handshake of carbon monoxide
And no alarms and no surprises.

This is my final fit
My final bellyache
With no alarms and no surprises."
(No Surprises - Radiohead)


(Aviso: essa criatura está passando deveras mal e não escreve coisa com coisa.)

Aliás, como é que eu vou saber onde exatamente é que coisa junta com coisa?

Sexta-feira: me levaram para o estúdio, me levaram para o Letras e Expressões (última vez que eu lembro de ter comido). Me levaram para uma cozinha, me fizeram cantar. Me fizeram tocar. Me levaram para a praia, me fizeram escrever, me fizeram desenhar. Me fizeram conversar madrugada adentro. Me puseram em um ônibus, me seguiram até em casa, me fizeram fazer e beber canecas e canecas de café. (isso eu também não queria: dormir) Me fizeram falar sobre Radiohead, me fizeram analisar o nível de sexualidade dos gemidos da Fiona Apple, me fizeram assistir um Fassbinder, me fizeram teorizar sobre gêneros, ciúme, casais, amor, cicatrizes e móveis. Me levaram para tomar café da manhã na hora do almoço. Me trouxeram de volta para casa, me puseram no sofá para dormir.

Não suporto dormir em cama, mais. Prefiro dormir no chão.

Sábado, já há muito, mas só conta quando a gente acorda: me acordaram, me fizeram descobrir o que come tartaruga, me puseram no banho, me lavaram os pés, me deixaram dormir no chuveiro. Me acordaram, me vestiram, me fizeram trocar de roupa, me puseram no metrô, me levaram até uma festa de bodas.

Escrevi dois sonetos de piada, inventei de ajudar a inventar um projeto de mangá desenhado em guardanapo, que vai ser impresso em papel higiênico.

Me puseram em um carro, me levaram para outra festa, puseram meu nome na lista, me arrastaram pista de dança adentro noite afora.

Eu não queria parar, nunca mais. Meu fígado doía, mas não era álcool, que eu sou mais complicada. Minhas mãos tremiam, então lembrei que me chamava Hipoglicemia. Bebi dois copos de água sem parar para respirar. Eu não queria mais parar para respirar, nunca mais. Enchi mais um copo e voltei para a sala.

Me abraçaram, me guiaram pela sala, me cantaram a música que estava tocando, me apoiaram quando minhas pernas pararam de me respeitar. Muitas pessoas ao redor, eu não sabia me apresentar, então elas foram legais e me ignoraram. Menos o meu Guardião, que mesmo em dia de também se suicidar tomou conta de mim. Me olhou nos olhos, me deixou me pendurar nos seus ombros e enterrar meus dedos nos seus cabelos e enterrar meu rosto na sua barba e enterrar até a minha alma na sua boca.

Me puseram em um sofá, me colocaram um chapéu, me levantaram, me levaram para casa. Me colocaram na cama. Me despertaram, que eu ia morrer de banho tomado. Me deram banho, me deixaram chorar no banho, me levantaram e me enrolaram na toalha. Me deixaram dormir de toalha.

Domingo, já há muito, mas só conta quando a gente acorda: me chamaram pelo nome que eu não sei repetir. Me puseram sentada, me puseram o violão no colo, me puseram um caderno perto e puseram as facas longe. Puseram Los Hermanos, Radiohead e Tori Amos. Me ligaram. Descobriram meus planos e vieram me resgatar. Me enfiaram em um carro, me levaram para andar na praia, me arrancaram os tumores que eu estava regando, me filtraram os antibióticos, me levaram para ver um dos filmes mais bonitos do mundo.

Eu chorei. A casa vazia me fez ré confessa. Eu chorei até quando o filme já tinha terminado: eu sentei na praia e chorei. Até quando me sacudiram e me fizeram olhar nos olhos das pessoas, eu chorava. Meu Anjo me abraçou até não ter mais jeito, me sacudiu e me deu tapinhas na cara.

Eu dancei. Quando meu peso fez os ao redor gemerem, puxei a alma mais próxima e dancei. Sem música, sem nada. Resolvi que tinha que me congelar para comer depois. Engoli o mundo em seco e parei de molhar o mundo com a água que era minha.

Me levaram para comer. (lembrei, agora – dividi um prato com o Anjo da Guarda). Me fizeram rir. Me fizeram falar. Me perguntaram opiniões. Me ajudaram a fugir. Me jogaram a corda.

O Anjo me levou para casa. Não quisemos ir para casa. Ficamos tirando lenços da garganta até nos expulsarem do lugar que ocupávamos. Vomitamos o que tínhamos comido, eu e o Anjo. Comparamos digestões. Nos partimos em tiras histológicas e nos explicamos com detalhes.

Sentamos no caminho, antes da bifurcação. Nos olhamos e sentamos na poeira do caminho, antes da bifurcação, eu e o Anjo.

Mostramos as nossas asas, aquelas nossas asas sujas e amassadas. Rimos das opiniões e teses a nosso respeito.

segunda-feira, outubro 17, 2005

O Mundo Afora, Janela Adentro 

Não sei se rio ou se choro. Acabo que não faço nenhuma das duas coisas, ou misturo as duas, para não fazer propriamente nenhuma.

Essas coisas do mundo que eu não sei entender.

Que coisa é essa do mundo vir de farda e coturno obrigar alguém a esconder uma paixão que rasga?
Se a paixão rasga, como e onde é que se vai esconder? Como? Onde? Que ao menos se nos diga!

Que coisa é essa de se ser obrigado a mentir tanto pra si mesmo que já nem se lembra mais qual é a verdade?
Como é que se pode ter essa cara de pau mais polida de imprimirem a verdade em papel e obrigarem as pessoas a repetir?

Que coisa é essa de te fazerem sentir como um portador de uma doença terrível, mortal e contagiosa, quando no fim, não é nada disso?
Como é que se calcula risco antes de vir o dano? Como é que se apaga efeito colateral de efeito placebo?

Que coisa é essa de te negarem até mesmo o pior e mais banal dos protocolos?
Como é que faz quem não consegue nem os documentos, se homem nenhum no mundo sabe a própria identidade?

Que coisa é essa de te ignorarem até que você passe a acreditar que não é nada?
Como é que um nada deve cumprimentar uma pessoa que não conhece?

Que coisa é essa de te pisarem até você acreditar que merece?
Obrigado, senhor, por gentilmente homogeneizar minha consistência, ainda mais assim tão eficientemente.

Que coisa é essa de te negarem a própria humanidade?
Com licença, por favor, o senhor pode me informar como devo me chamar?

Que coisa é essa de te condenarem ao escuro, a se esconder e a mentir para o resto da vida?
Como pode um menino de madeira, vivendo num mundo de carne, com um superego complementar artificial corporificado em um diabo de um grilo, não ter permissão nem de mentir?

Que coisa é essa de te prenderem em ti mesmo até o dia em que você se sufoca por dentro da sua própria face?
Aqui jaz (coloque aqui o nome que te darão).

Que coisa é essa de te olharem com nojo?
Perdão, será que a senhorita se importaria de vomitar dessa vez um tantinho mais para lá, e não por cima da minha cabeça, se não for muito incômodo?

Que coisa é essa de fazerem piada do seu amor mais puro e religioso?
“Amor? Você acha que sabe alguma coisa sobre o amor?”

Que coisa é essa de duvidarem convictos de cada uma das suas convicções e virem os homens de casas de arame balançar o tempo todo as suas colunas e estruturas?
Atenção. Alerta de terremoto. Pedimos encarecidamente que as consciências trancafiem-se em lugar seguro mais uma vez, por tempo indeterminado.

Que coisa é essa de te obrigarem a rastejar com todas as pessoas que já se deixaram virar insetos?
Acho que vou esperar a noite cair para conseguir sair do esgoto em paz.

Que coisa é essa de terem o direito de te agredir, de te negar dignidade?
Lê-se, em um crachá, ou depreende-se de alguma marca costurada na roupa ou na pele: pode bater.

Essas coisas do mundo que eu não compreendo. Que um dia eu tive essa impressão de que o único valor universal é a diferença.

sexta-feira, outubro 14, 2005

Full is not heavy as empty; not nearly, my love 

Deitada no sofá, ouvindo música. Já é madrugada. A luz da saleta estava acesa, mas era quase nada. Era uma luz amanteigada e devia ter até uns rococós nas pontas.

O violão encostado por cima de mim. Eu testava acordes aleatórios, de olhos fechados. Eles tentavam alcançar o quer que supunham que eu exigia, mas eu não estava realmente prestando atenção. Só havia um botão fechado na camisa branca. O calor não tinha esmorecido com o passar das horas e eu nem tinha coragem de me mover, com medo de espantar a brisa.

Engraçado, o meu violão antigo. É enorme e muitíssimo velho, mas as cordas não desafinam nunca. É pesado e sisudo, mas é gentil comigo quando tenho vontade de chorar. Me deixa coloca-lo no colo, apesar de ser um senhor de cartola, e ainda assim me abraça como só pai e avô sabem abraçar uma garotinha que tem vontade de chorar.

Sabia que tinha que dormir, que deveria estar dormindo já há tanto tempo. Mas, de alguma forma, dormir me parecia uma coisa estúpida de se fazer, quando aquela música estava alí. O violão me olhava meio a meio, perdido entre me repreender e me compreender.

Procurei descobrir um padrão qualquer que explicasse a suspensão daquele momento. Queria saber se vinha da música ou se vinha de mim, aquele sentido.

Fiquei pensando o que aconteceria se eu descobrisse, de repente, sem querer, a seqüência de acordes que pudesse fazer qualquer pessoa chorar. Se iam me dar um prêmio ou me prender em um manicômio.

Acho que gostaria das duas saídas, secretamente; mas penso que nenhum dos riscos eu corro. Se pudesse existir mesmo essa seqüência impressa em algum lugar do organismo de todas as pessoas, não ia ser em um violão que se ia encontrar.

Não ia, que todo mundo sabe que ia ser em um piano.

Lá, no mesmo lugar onde estaria impressa essa partitura auto-replicante, ia ter que estar gravado o padrão das teclas do piano. Preto e branco. Vários padrões em preto e branco, assim, piano, tabuleiro de Go e pedras portuguesas. E quando a gente um dia conseguisse juntar todos os pontinhos, ia ver que cara tem a humanidade, lá de cima.

Lá de cima, o conjunto todo. Penso que não é azul.

Se houver mesmo essa tal partitura, esquecemos. Aqueles cálculos moleculares que a gente deve ter feito tantas vezes que nem lembra mais quando foi que ficou gravado. Como acertar a bola no aro.

Corri meus dedos pelas cordas do violão, tocando harmônicos de leve, esperando vir o tempo de trocar o cd.

Esperando vir alguma coisa em mim que trouxesse o tempo de ouvir nova música.

Por que será que a gente lembra da primeira música que aprendeu e não lembra da que tocou ontem mesmo?

Quando não penso em nada, meus dedos dedilham sozinhos a primeira música que eu aprendi. A primeira de verdade, a que soou como música e não como aprendiz de violinista testando os coeficientes de resistência do tímpano e da paciência alheios.

Não gostei de pensar sobre isso, levantei o violão de cima de mim e encostei na parede. Passei as mãos no cabelo, tentando mudar a ordem das coisas na minha cabeça.

Que a vida acabe sendo mesmo um monte de equações, eu consigo até engolir. Confesso que me parece até bem bonita, a idéia. Mas música anda me parecendo muito com amor e isso me incomoda um tanto.

Incomoda. Dói, que tenho um medo secreto e trancafiado de perder também a capacidade de ouvir música.

quinta-feira, outubro 13, 2005

Yom Kippur 

Criminal - Fiona Apple

I’ve been a bad bad girl,
I’ve been careless with a delicate man.
And it’s a sad sad world,
When a girl will break a boy
Just because she can.

Don’t you tell me to deny it,
I’ve done wrong and I want to
Suffer for my sins.
I’ve come to you ’cause I need
Guidance to be true
And I just don’t know where I can begin.

What I need is a good defense
’cause I’m feelin’ like a criminal
And I need to be redeemed
To the one I've sinned against
Because he was all I ever knew of love.

Heaven help me for the way I am,
Save me from these evil deeds
Before I get them done.
I know tomorrow brings the consequence
At hand,
But I keep livin’ this day like
The next will never come.

Oh, help me, but don’t tell me
To deny it,
I’ve got to cleanse myself
Of all these lies till I’m good
Enough for him.

I’ve got a lot to lose and i’m
Bettin’ high
So I’m beggin’ you before it ends
Just tell me where to begin.

What I need is a good defense
’cause I’m feelin’ like a criminal.
And I need to be redeemed
To the one I've sinned against
Because he was all I ever knew of love.

Let me know the way
Before there’s hell to pay
Give me room to lay the law and let me go.

I’ve got to make a play
To make my lover stay
So, what would an angel say?
The devil wants to know.

What I need is a good defense
’cause I’m feelin’ like a criminal.
And I need to be redeemed
To the one I sinned against
Because he was all I ever knew of love.

segunda-feira, outubro 10, 2005

Aliança, Cicatriz, Tatuagem 

Tem um tipo de amor que se faz como uma aliança: se forja em promessa e se torna símbolo do que deve(ria: ria) ser. Torna-se lembrança pretensamente eterna de aspirações passadas.

Quando se rompe o ideal, quando a realidade já não cabe dentro do sonho, tira-se a aliança. Fica uma marca que demora um bom tempo para sair do dedo, uma marca de falta de aliança. Um lembrete da ausência da aliança.

Um lembrete que pode significar uma liberdade que se aguardava, talvez sem nem notar; um lembrete que pode significar uma saudade incontrolável e invencível de quando o sonho ainda não se tinha rompido definitivamente.

Tem um tipo de amor que se faz como uma cicatriz: se forma na carne, sem qualquer arranjo, acordo ou forja. Simplesmente acontece e se torna parte do que somos. Passa a fazer parte do conjunto de coisas que leva o seu nome.

A cicatriz, ao contrário da aliança, que nasce com festa e estouro mal contido de felicidade, nasce com uma certa dor. Melhora, cicatriza, mas fica.

Ao contrário da aliança, sempre fica. Melhora, mas sempre fica. Ainda quando não mais doer a carne, vai doer, um tanto que seja, a lembrança.

Amor de cicatriz melhora, mas não some. Nasce com dor e sempre vai doer. Ainda quando a dor for barata o suficiente para ser uma lembrança boa, ainda assim.

Amor como cicatriz: não sai e sempre vai doer.

(mas quem é que vai, algum dia, conscientemente pelo menos, escolher um amor que pare de doer?)

Tem um tipo de amor que se faz como uma tatuagem: a gente desacredita em aliança e não quer correr o risco dos efeitos colaterais da cicatriz.

A gente não consegue ser feliz com aliança e sabe da dor da cicatriz. Talvez por ler ou ver filmes demais: tornamo-nos cautelosos demais para permitir o acaso.

Queremos mais que alianças, então inventamos um jeito de mentir para nós mesmos: que controlamos o que nos move por dentro, o que nos leva pela coleira, ainda que esteja preso por dentro do pescoço.

E fazemos nós mesmos a cicatriz; a colorimos e a moldamos para que tome uma forma que achamos que sempre vai nos agradar.

Fazemos, nós mesmos, uma cicatriz artificial que talvez nos poupe, cujos danos talvez possamos controlar melhor; cobrimos a cicatriz de cor, com tinta que dê impressão de que é nossa; ponto por ponto, esculpimos a cicatriz, para que dê ilusão de controle.

Talvez seja o estado mais triste desenvolvido, entre um medo que nos enclausure e um impulso que nos mate. Um tecnologia de redução de danos e otimização de recursos.

Aquela tristeza um tanto schoppenhaueriana ou nietzschiana, de saber um tantinho demais do que possa acontecer. Um tantinho que impeça o salto cego.

Aquele desejo mais profundo de todo prudente: de não ter aprendido a ser prudente. De ser imprudente sem a culpa do que já foi prudente alguma vez.

Aquela tristeza incontrolável que aperta o peito quando a gente se deixa tatuar; aquela certeza irritante de se sentir querendo com todas as moléculas e com todas as forças, de novo uma cicatriz como a primeira.

Não suportando a mentira fácil da aliança e sem coragem para cortar os pulsos uma outra vez: as cores e os traços milimetricamente planejados.

A tristeza aguda e silenciosa inerente ao meio termo: estar preso entre as suas próprias naturezas. A dor aguda e silenciosa de ser responsável e racional no mesmo corpo em que se é infantil e egoísta.

(saber que se vai, mais uma vez, conscientemente pelo menos, escolher um amor que pare de doer.)

sexta-feira, outubro 07, 2005

Lighthouse Retail 

When you can’t send a message,
For you don’t have where to,
You leave it in a common place
And can only hope for the rest.

And can only rope for the best.

So, I leave other messages about,
To let you know of the old ones.
I’m only sure of this your without,
And it smothers all other homes.

How can I live where there is nothing to leave?

So few things are for sure,
For so few creeds endure.

So you have mail,
As I have nails,
As we have rails
And they have veils.

(When nothing is absolute but relativity,
Relatively everything prevails)

When nothing is eternal but change,
Absolutely everything is retail.

Tired of sending bottles, I sailed ships.
Tired of sailing, I built a lighthouse.
I would write my question in the sky,
But the sky in holy only because it is always beyond.

Whatever part of me I lack, please respond.

terça-feira, outubro 04, 2005

Quero ser Clarice quando crescer 

"Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo."

_Cla-clá Li-li.


Post Scriptum:

1)PLANTÃO: Essa semana a Veja e o Mv-Brasil vão promover a festa de lançamento da sucursal brasileira do NRA. Vão ser distribuídos exemplares da Revista Magnun e vários silenciadores.
(Silencio eu. Mas é que tem coisas que não dá pra aguentar!)

2)Shana Tová a todos. Até pro pessoal da Veja e do Mv-Brasil.

segunda-feira, outubro 03, 2005

Blank Screen 

There are days when you sit and that’s it.

That's just it. Life is just this.

A blank screen.

Some days, it brings along a feeling of angst.

Sometimes, it doesn’t.

Maybe there are things you should be doing.

Maybe there aren’t.

Some days, you'll be sad about it.

Sometimes you won’t.

Some days you’ll be angry. Some days you’ll spend the day running errands. Some days you’ll keep looking for the right thing to eat.

Sometimes you just won’t.

That feeling of something missing may eventually come. You’ll wonder around, you’ll do the dishes carefully, you’ll stare at the tv set.

Or maybe you won’t.

You may feel so awkward you’ll consider start smoking, just to have something to do when you don’t. Just to look as though you do, when people look, and you don’t.

That feeling: of needing a glass when you don’t dance.

But, then, there are days you’ll feel nothing like this. Or nothing like that.

You’ll just stare at the white screen and screen yourself for something.

(Blank screen)

The blinking cursor asks for answers you just can’t find.

You can’t. Or maybe you just won’t.

Some days, you’ll be a conscious meatloaf. Some days you’ll be walking void.

Sometimes, you just won’t.

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