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segunda-feira, julho 31, 2006

Metonímia 

Acordei e dei de cara com a rosa que você deixou aqui. A saudade me partiu com um impacto silencioso, como um raio sem trovão. Meu corpo tremeu, sentado na cama, de frente para o que você deixou para trás.

O dia frio me obrigava à consciência de cada movimento. Como uma máquina sem óleo, meus movimentos eram esforço. Andar era como tentar caminhar no fundo do mar.

Não tinha para onde ir. Em todos os cantos eu via pequenas lembranças da sua presença, pequenas mensagens da sua ausência. No banheiro, a tua escova de dentes e quase te vi, de relance, no canto do espelho.

Na cozinha, os restos. Os restos do que comemos, os restos do nos nutria, os restos tão pequenos e tão resíduo daquilo enorme que nos fazia tão maiores.

Enviei meus braços em impulsos telefônicos, tentando te alcançar, tão longe. De repente, você me parece estar tão longe... Não abriste a porta. Meus braços bateram na sua mudez como um canário voando às cegas e atingindo uma porta.

Tantas coisas agora eu gostaria de saber te dizer. Tantas coisas agora eu gostaria de saber ouvir. Mas tudo o que eu tenho é a rosa que você deixou para trás e uma necessidade colossal de acreditar que a rosa não era uma metonímia da parte pelo todo.

sexta-feira, julho 28, 2006

Bandeira Branca, Amor. 

Eu quis levantar a bandeira branca. No meio de tudo que nos tornamos, eu de repente não quis mais nada daquilo. Eu queria tapar os ouvidos, gritar e levantar a bandeira branca.

Me arrastei sobre os cotovelos e mantive a cabeça o mais baixo que pude, evitando os estilhaços dos projéteis. Vez por outra me lembrava de quando tínhamos muito mais projetos e projeções que projéteis. Engraçado como o mesmo verbo é radical de tantas intenções diferentes.

Arranquei o lençol, tão cansado e tão sujo. Cansado do esgarçamento dos conceitos, do espichamento progressivo de uma alegria que ficava cada vez mais para trás, como que presa por tachinhas, estática, esticando o tempo-espaço que teimava em seguir e se afastar. Sujo do passado de felicidade, sujo de muito tempo de amargura derramada por cima das marcas antigas. Sujo de saudade das manchas antigas, sujo de excesso das manchas recentes.

Embolei o lençol e corri por entre os trovões. Eu queria levantar a bandeira branca.

Abri a torneira, mas a água que iria limpar os ruídos veio amarela. Não tinha jeito. Tanto tempo enferruja os canos mesmo e não tem jeito. Me joguei no chão, no bunker em que transformamos o nosso chão e esperei por águas claras. Todos os novos cortes doíam mais e mais, mas eu queria levantar a bandeira branca. Estava cansada da bandeira vermelha que queria raspar a sujeira até sangrar, sem olhar. Estava cansada da bandeira azul que olhava para o céu, sem tocar nada aqui. Eu queria a bandeira branca, amor.

Paguei o preço que só eu sei e lavei o nosso lençol. Ia ser a nossa bandeira branca: um símbolo de recomeço, de folha branca, da melhor intenção de zerar as contas e fazer diferente, dessa vez.

Mas meu preço era barato aos seus olhos. O esforço foi pequeno. O resultado foi sutil. A bandeira que eu quis branca, você enxergou manchada. Nas manchas que eu cri mais fracas do que nós, você viu novos símbolos. Nos novos símbolos, a antiga guerra.

Meu pano de fundo era bem mais escuro que o seu, ao que parece. Mas a bandeira era para ser branca, amor. Eu quis a bandeira branca.

terça-feira, julho 25, 2006

Black Blank 

Blank paper. Ink. Itchy hands. Newspaperly tiny lettered background. In the blank of your head.

That overunblank kind of blankness.

A lot of things to say

doesn't mean you actually have any.

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