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quinta-feira, julho 28, 2005

Listénha de Presenteação, Ano II 

(Ordem aleatória de lembrança, sem qualquer significado de importância)

1. O Pêndulo de Foucault – Umberto Eco (descUUUlpa, Dennis)
2. Sursis / Com a morte na alma / A Náusea –J.P. Sartre
3. Nove Noites / Mongólia – Bernardo Carvalho
4. O Livro dos Sonhos / Sandman – Neil Gaiman
5. Inside Hitler’s Bunker / Hitler – Joachim Fest
6. The Case for Democracy – Natan Sharansky
7. Crises da República / The Human Condition / Origins of Totalitarianism – Hannah Arendt
8. Doutor Fausto – Thomas Mann
9. O Anti-cristo / Ecce Homo / Assim falou Zaratustra – F. Nietzsche
10. Abnormal – Michel Foucault
11. A paixão segundo G.H. – Clarice Lispector

P.s.: Sessenta e oito mêrmo!!!

segunda-feira, julho 25, 2005

Fazer Sentidos 

Estávamos todos sentados à mesa, rindo e nos portando como se fôssemos mesmo os herdeiros do planeta. Ironia com limão e gelo, margaritas-blasés.

Antes de sair de casa, eu estava passando lápis nos olhos e você me passou a mão pela cintura. Te olhei meio de lado, fingindo que fiquei irritada porque a linha finíssima estava arruinada, definitivamente. Você riu, fingindo que não entendeu e perguntou porque eu não ia com a saia de elefantes e estrelas.

Eu dei alguma resposta analítica, do tipo “porque a iluminação e a decoração do lugar vão fazer a saia ficar parecendo camuflagem de paraquedista”. Você resmungou, me deu aquele beijo que seria protocolar se fosse dado nos lábios, mas como foi cirurgicamente atirado naquele ponto exato do meu pescoço, logo abaixo da orelha, me rasgou em tiras.

Agora, eu estou com a saia de elefantes e estrelas, comentando comentários sobre um filme do Fassbinder que eu não vi ainda. O fato de que eu quero muito sinceramente assistir o tal filme me passa pela cabeça, mas é descartado. De que importa?

Alguém então cita Buñuel e as pessoas tentam controlar o impulso de dar atenção gratuita a qualquer criatura que cite Buñuel. Somos cariocas, em maioria, e já nascemos capazes tanto da mais calorosa recepção a um amigo-de-tons-pastéis quanto a ignorar qualquer coisa que explicite necessidade de uma atenção que julgamos não-merecida.

Estou há um bom tempo debatendo a relatividade dos símbolos com uma menina de tailleur risca-de-giz e moicano. Você está em silêncio, rodando o gelo do copo com o canudo, olhando de fora para tudo, com aquele olhar perdido de quem está vendo tudo derreter.

Tão pouca absorção, no fim das contas, e todo esse livre arbítrio. Muitíssima terra, é verdade. Mas também muitos diamantes. A questão é a falta de bolsos.

A conversa é boa, o moicano é bem recheado. Mas eu queria, de repente, era ouvir você fazer alguma piada bem boba.

No meio de uma frase, ela põe uma vírgula logo depois de “semiótica” para respirar e ponderar as conseqüências de entrar naquele mérito numa mesa de pub. Nesse milimetricamente preciso momento, começa a tocar fake plastic trees.

Meu olhar vai ao seu em frações de segundo e te encontra no meio do caminho, mesma direção, sentido oposto. (Se bem que sentidos opostos podem muito bem ser o mesmo sentido, se formos capazes de sacar que projeção astral não é show de fogos em Copacabana, nem holofote do Batman, nem Horóscopo das Estrelas).

Os símbolos são claros o suficiente, dessa vez. Eu levanto, você me dá a mão, ela entende tudo e sorri. Nós congelamos o tempo, voz não é preciso, eles continuam.

Nos abraçamos no cantinho da pista, num lugar mais escuro, fazendo companhia a uma pilastra. Algum observador poderia dizer que estávamos dançando, mas não estávamos. Não se dança Radiohead.

Eu chorava no seu ombro e você no meu. Nossos dedos se desesperavam nas nossas costas e nucas, rezando fanaticamente para serem agulhas.

Nunca precisaram ser. E essa é a questão. Não há mais sublime variação do enorme espectro de coisas que as pessoas chamam “amor”: nossos dedos nunca precisaram ser agulhas. Nossa casa nunca foi e nunca será uma gaiola.

Temos blue tooth, não precisamos de alianças. Eu sou minha, não preciso ser sua. E você também.

Por nada no mundo eu trocava ouvir fake plastic trees reverberada no seu peito, salgada e avinagrada por mim, com incenso da pele do teu pescoço.

Até o Dj, que estava tendo uma atitude um tanto quanto anfetamínica ao mudar as faixas, deve ter adivinhado que a transição final decrescente mais longa estava naquela música por um motivo muito bom.

Um beijo quase siamês e um “me leva embora daqui”. Tudo faz sentidos e eu acho muito mesmo que enlouqueci por dois minutos. Acho também que você leu isso tudo em mim, porque eu acho que li naquele teu sorriso que você me perdoava pelos seus erros.

O pessoal da mesa também deve ter lido, porque todos se viraram e acenaram para nós antes de nos viramos para andar até a porta. Sabiam que estávamos partindo. Estavam com aquela cara engraçada de vítimas de uma granada de serotonina que estourou e fez penetrar felicidade idiotizante por osmose em todos na sala.

(Felicidade, como a que a gente compra destilada três vezes, logo da primeira vez; daquelas que só se forja naturalmente quando a gente soma garotinhas e filhotes de coelho; conservada artificialmente, impressa a laser, implantada com precisão plástica, distribuída respeitando os padrões da eqüidade e do politicamente correto.)

Eles que discutam os símbolos que não são compreendidos antes de serem produzidos. Nós partimos: nova lingüística.

quarta-feira, julho 20, 2005

Possessividade 

Passei o dia todo pensando na sua boca.

Porque você veio na minha casa, sentou no meu sofá, bebeu o meu mate com limão, pegou a minha máquina e tirou uma foto sua.

Aliás, já parou pra pensar que porcaria o jeito paleolítico como a gente usa o pronome possessivo? E rodam todas aquelas novas teorias de filosofia questionando tudo, inclusive a posse e a propriedade...

Mas o fato é que você tirou uma fotografia desse seu rosto, com a minha câmera, no meu sofá, deixou na minha casa e a foto é sua.

Sem foco, aliás. Só tem metade da sua cara em cima, no canto direito. Todo o resto, inclusive o seu resto, parece que rodopia.

Tudo fora de foco, menos o que devia. Esse diabo dessa sua boca, entreaberta. Sua.

E a dança dos possessivos de novo... A foto é minha, a boca é sua e estou achando que eu também.

Se você me perguntar agora, não faço a menor idéia do que tem na foto. Nem na minha foto, nem na sua.

Só essa boca, que é sua, mas fica quando você foi embora. Fica por dentro da minha córnea, colada na minha retina.

Nem fechada, nem aberta. Nem tão real quanto podia, nem tão virtual quanto devia. Nem toda sua, nem um pouco, que seja, minha.

Meu chefe está desconfiado e com ciúme. Adivinhou que tem alguém me roubando a produtividade. Hoje ele teve que me chamar mais de uma vez para eu ouvir.

Dava pra ver nos olhos dele que eu não era mais minha.

Dava pra ver nos meus olhos que eu ainda não sou sua.

Dava pra ver tudo isso, mas eu só via uma coisa: nem exatamente sua, nem exatamente minha.

A sua boca, minha de menos; eu, minha demais.

terça-feira, julho 19, 2005

Hypostatize 

Equal affection,
Concept, Conception,
Truth and Deception!

Have, them all,
Stood too tall,
For far too long.

(too loooong, too loooong, cry all those lonely bells)

Equality is as a circle, in fact:
Only true when not really seen,
Not seen in details, that is. Not seen,
As seen things should always have been.

Only true when far away,
in theory,
in delay.

Truth: a lie so big we call it "truth",
For just One Simple Reason:
If you are in London,
You could never see England!

And if so, every truth is a lie,
Thus, every lie is true.
A paradox, a circle, very well,
Doesn't it ring every single bell?

And if everything is true,
If it holds us as a hook,
How can one get out of it
To see how does it look?

Terrible! But can you deny it?
If you can, swell!
Life is simple again,
Who could ever tell?

sexta-feira, julho 15, 2005

Dor De Orvalho 

Eu queria mesmo era descobrir que diabo de cor tinham os seus olhos. Que cor era aquela?

Então, fiquei ali, deitada no tapete da varanda tentando descobrir onde é que ficavam os seus olhos na palheta de cores do mundo.

Quando acabaram as cores simples, eu suspirei e levantei pra buscar café e sorvete. Sentei de volta na varanda. Os grilos me deram a idéia de que podia ser a cor daqueles besouros metálicos, que a luz balança entre verde e o cobre.

Achei bonito mesmo, mas ainda não era isso.

Era mais puxado para o azul que para o verde. Mas era um azul diferente, um azul prateado, um azul quase cromado.

Não. Está errado. Não é metálico. Cores metálicas rebatem a luz com um taco. Assim, de chofre. O teu azul é um azul brilhante, transparente, um azul que refrata a luz, não um que reflete.

Um azul de lente, então. Pensei em vidro. Eu acho que vidro é a minha substância favorita. Deixa passar a luz, mas não tanto: finge que deixa passar a luz. Põe foco, tira de foco, traz pra perto, afasta, espreme, estica, multiplica, distorce, mente.

Acho que eu gosto do vidro porque ele é um cara muito sacana e se diverte tanto quando a gente acha que está enxergando de verdade.

Então, pois sim. Era mesmo um brilho de refração. Como se todas as coisas do mundo passassem primeiro pelos seus olhos para saírem diferentes depois. Para só então serem vistas por outros olhos, com outros olhos.

Ao mesmo tempo, não era vidro não.

Vidro é uma das coisas mais bonitas do mundo, mas é limitado demais. É sólido. A beleza das lentes, mas também a tristeza dos sólidos: ser o mesmo demais.Não dava pra comparar com os teus olhos, que iam e vinham, abriam e fechavam todas as coisas e pessoas.

Ainda por cima, o que tem de bonito na transparência manipuladora do vidro não era exatamente o que torna esses seus olhos um assunto de horas de devaneio.

Teu olhos imprimem uma levíssima camada de azul no que sai refratado. Uma marca sua, uma marca de que aquilo já foi seu e se foi.

Se foi, mas ainda não completamente. Carrega em si o pronome possessivo, mas tristemente impróprio. "Seu".

Como uma quase imperceptível marca de azul, tangendo o limiar da percepção. Quase que intangível. Marca d’água.

Era um azul de pouca água, um azul que não era mar, nem lagoa, nem rio. Nem poça era.

Um azul tão absurdo justamente porque quase nem era azul. Quase nem era nada. Mas era assim tão tantas coisas, mesmo sendo quase nada! A minha já combalida sanidade quase amarrou os pés nas costas e pediu as contas.

Tantas coisas! Tão quase nada... Era quase vidro, mas não era. Era quase azul, mas não era. Era quase gota, mas não era.

Não era gota, que gota é maleável demais. Gota só é gota enquanto cai: depois, morre. Meio que como gente.

Não, seus olhos são permanentes demais.

Torturantemente permanentes. Não há por onde fugir. Estão lá, onde quer que lá seja. Tanto, tão quase nada!

Dolorosamente reais. Desrespeitosamente bonitos.

Aquela beleza que dói demais por dentro. A gente se dobra no meio, aperta bem os olhos e acha que não vai conseguir suportar.

Não, não era vidro, não era gota. Nem tão sólido nem tão líquido. Era mais tenso, mais brilhante.

Putz, era exatamente isso: tenso, brilhante.

Era como uma gota bem pequena de orvalho. Daquelas pequenas o suficiente para que a tensão a mantenha redonda. Diferentemente da gota, a gotícula permanece. Justo porque tão pequena, veja você.

Era isso. Sorri meu cansaço feliz como quem acaba uma tarefa difícil e sente–se recompensado. Raspei a última colherada de sorvete do copo. Fiz ainda algumas últimas considerações sobre o estado físico da cor dos teus olhos.

Não, não, era isso mesmo. Dor de orvalho. Esses seus olhos: dor de orvalho, trincando os meus dentes e tensionando a minha carne...

Long Hours Longing 

Fiquei eu lá, deitada na varanda.

Podia estar fazendo várias coisas. Podia, por exemplo, entrar e ver televisão como as outras pessoas. Mas, por algum motivo, aquela sala me oprimia demais. As pessoas desinteressantes riam de alguma piada desinteressante de um apresentador desinteressante de programa desinteressante. Sabe, incompatibilidade chega num ponto que incomoda. Ainda que você tente exercitar a tolerância com a obstinação de um monge budista ou de um petista assumido que é sempre pego pra Judas em qualquer mesa de bar, às vezes não dá.

Não. Não queria estar lá dentro vendo tv.

Podia estar lendo o livro que vim lendo no ônibus. Não que o livro fosse ruim: era tão bom que vim lendo no ônibus e até esqueci que fico desastrosamente enjoada quando leio no ônibus. O enjôo todo veio de uma vez só e a minha mão pateticamente ficou tentando conter as entranhas em seus respectivos lugares.

Mas não. Nada de querer ler o livro. Era outra coisa que eu queria.

Eu podia também desencavar o violão do quartinho dos fundos. Podia ficar horas tentando afinar as cordas, esticada na varanda. Engraçado a paz que me dá. Ficar com o violão no colo fazendo coisas estúpidas como afinar as cordas ou praticar a escala pentatônica, que é a única que eu sei mesmo, no fim das contas. É como se uma parte escondida do meu cérebro tomasse conta de tudo. Paz: só a vibração das cordas. Não funciona o lógico, o léxico, o imagético. Nada, nada disso. Só aquela partezinha que sabe de alguma forma que não existe Mi Bemol.

Pois é, mas não. Eu não queria nem paz. Nem violão.

Cartas dos Leitores 

Nossa cara leitora Anônima nos escreveu com uma dúvida. Ela quer ficar com um sujeito bacana que ela conheceu, de vez em quando, sem compromisso. A famosa amizade colorida. Acontece que ele não está entendendo as indiretas dela. Aí vai nosso conselho:

Minha linda. Cérebros de homens e mulheres são diferentes. Pra eles, entender indiretas é que nem balisa na ladeira pra gente:

Cara: "Po, meu amor, você está demorando pra fazer essa balisa!!! Qual o problema? Não me ama mais??? Ah, é isso sim, sua cachorra, vc não me ama mais! Vc nem mesmo presta atenção nas minhas necessidades! Vc fica aí, demorando um tempão pra estacionar!!!!"

Menina: " mas, meu amor, não é nada disso! Vc não está entendendo! É que eu... Eu não sei! Eu não consigo... Sabe... Ai, caramba, não chora!"

Viu? Seja fofa, mas direta. Aliás, seja direta como uma mulher é direta: cerque as possibilidades de escape e depois dê o bote.

Assim, por exemplo:

"Caro Fulano
Foi bem bacaninha nosso chope na quarta. Adorei.
Vamos repetir?
Ah, by the way: vamos só nos pegar de vez em quando e ser amigos, ok? (Viu, eu sou a mulher dos seus sonhos - a não ser que vc seja evangélico).
Um beijão de língua,
Anônima"

Viu? É facil. Uma informal conversa no MSN também poderia ajudar. Começe falando teoricamente. Depois, agarre-o pelo pescoço como frango de almoço. Não se preocupe, tudo vai dar certo.

Um grande beijo.

quarta-feira, julho 13, 2005

When The Icicle Melts 

Meio assim que você ficou com cara de anti-você naquela foto.

Meio assim que nem é porque você está de cabeça pra baixo sob o ângulo de visão dos que estavam de cabeça pra baixo antes de você tirar a foto.

Meio assim que eu acho que é uma coisa que não vai dar nunca pra gente saber de verdade, porque, afinal, se verdade existe, tudo é verdade e, se tudo é verdade, a gente nunca vai conseguir sair dela pra olhar pra ela e saber.

Meio assim que talvez seja porque eu estou acostumada a te ver por dentro, não por cima, ou pelo lado deitado de cima. Meio assim que ficou interessante essa história de tirar foto pelo lado e ela sair por cima.

Meio assim que o código que inventaram pra terceira dimensão distorceu o tamanho e a importância das partes do seu corpo de uma forma autoritária e cartesiana que eu não consigo suportar sem imediatamente começar a pensar em caixões de jacarandá.

Meio assim que a cor que você mesmo roubou tirou dos seus olhos alguma daquelas coisas que são daquelas que a gente não pode tirar, senão desfaz. Daquelas coisas que podem até ficar sozinhas e podem até ficar acompanhadas.

Meio assim que não reconheci umas linhas novas que saiam e entravam de você, quase dando a volta mas nem tanto, não dava pra saber se era orgânico ou se era anti-orgânico.

Meio assim que as minhas lâmpadas estremeceram e quiseram cair do teto quando eu olhei pra você e o chão...

Meio assim que eu proto-tentei captar o todo pela parte e te transformei em zeros e uns pra colocar num quadro laranja de elementos químicos reorganizados dentro de uma moldura da IBM.

Assim mesmo, meio assim ao meio.

terça-feira, julho 12, 2005

Coisas que eu aprendi ultimamente 

1)Tem coisas que se faz por amor e só por amor. (segundo o Dennis)

2)Hot hot heats é a banda que anda correndo em minhas veias.

3)Fandangos não é kosher, mas Skinny é. Guaraná Kuat não é kosher, mas pepsi twist é. Cerveja não é kosher, mas tequila é.

4)Existem cavalinhos de pau que fazem coisas inacreditáveis hoje em dia.

5)Pirajá 164 não é um lugar, é um estilo de vida temporário-necessário. As pessoas têm que dar um jeito disso durar.

6)Ser estúpido é o jeito mais fácil de ser feliz. Se você tomou a pílula vermelha e já deixou de ser xis pra virar xis-bolota, não perca tempo: escolha rápido algum monoteísmo e vire fundamentalista.

7)Se você não conseguir de jeito nenhum, ser espião duplo é muito menos arriscado que ser kamikase.

8)Dançar até de madrugada, dormir uma hora, conversar outras duas e assistir a “Morte em Veneza” é a receita para atingir estados inimagináveis de consciência. O filme é a variável da equação, desde que seja um filme novo – ou que você tenha visto há mega muito tempo.

9)A abertura do Anima Mundi é muito irritante: a mulher NÃO DÁ A PARADINHA! É um absurdo.

10)Estou refugando na minha tatuagem...

terça-feira, julho 05, 2005

Uti Possidetis 

Você chegou, deitou do meu lado na grama fria, apoiou a cabeça na minha barriga e me pediu pra te explicar alguma coisa que eu tinha dito antes.

Tão difícil explicar uma coisa que já saiu de mim, que já deixei de pensar, de ser. Mas eu odeio omissões, então franzi as sobrancelhas e me esforcei pra me lembrar quem é que eu era quando disse aquilo.

Eu expliquei e você ficou um tempo rodando uma folhinha de grama nos dedos, só. Só tempo passando. O sol foi esquentando o meu rosto e eu senti minhas bochechas ficando vermelhas. Então, virou de bruços, me olhou nos olhos daquele jeito, que sempre me faz subir no salto agulha.

Retrucou minha tese. Pegou minha tese nas mãos e rodou, apalpou, cheirou, alisou, assim como se ela fosse um pêssego. Era a minha tese sobre o amor, sobre todos os amores do mundo. Não sei que outro idiota além de mim poderia pretender inventar uma tese sobre todos os amores do mundo. Eu também sempre achei uma idiotice e adivinhei que era isso que você estava pensando naquele exato momento.

Bom, veja bem, vou tentar. Não que a Tori Amos não fosse fazer muito melhor em meia dúzia de versos, mas me dá uma ficha.

Tristeza, por exemplo. Uma pessoa que sempre foi triste não vai nunca conseguir resumir a tristeza, que é sua vida inteira, tem hipertexto demais. A gente consegue dizer quem é o fulano, mas não consegue dizer quem se é. É muito capítulo, muita palha.

Definição é fotografia, é infográfico, não tem nada a ver com capacitação, tem a ver com estilo e marketing. Por exemplo, eu acho mil vezes mais difícil definir tristeza que amor. Assim, mil vezes.

Eu lá, deitada na grama, tentando te dizer que existem várias camadas de caverna. Que existem milhares de cascas e embalagens e fases. Que cada mísera palavrinha é Carmen San Diego.

Bom, te amo num mundo que não existe, pra início de conversa. Amo esse você que tem só dentro da minha cabeça, de acordo com a minha retina. E o cenário e o roteiro, tudo mentira da braba. Porque da grama pra você pra mim tiveram, até onde eu saiba, três refrações.

Traduz qualquer coisa três vezes pra você ver.

Depois, meu amor é florzinha branca de encher lingüiça de buquê. A imagem do amor de todo mundo é uma rosa enorme e bem vermelhona.

Bem, eu não. Meu amor é menos escrachado, tem bem menos pétalas, meu amor é um monte de florzinhas brancas pequenininhas. Não vai nunca ser uma rosa vermelha. Mas nunca, nunquinha, nem de perto.

Depois, eu preciso de tão pouquinho das pessoas para ser feliz que acho absurdo montar uma cerca em volta. Não preciso da quantidade-padrão: nem em quilos nem em libras. Em padrão nenhum, sob padre nenhum. Nem rabino, pensando bem.

Você me é tão, mas tão grande! Grande assim com exclamação. E o mundo faz uma corrente tão forte, que eu acho que vai desfazer tudo a qualquer momento. Orvalho em teia de aranha. Por isso que eu me recuso a me enganar que é mesmo amor como chamam as pessoas.

A nuvem chove em cima de mim também, mas não é minha. Ainda que toda a água da nuvem caísse no meu quintal, eu ia ter só água de nuvem.

segunda-feira, julho 04, 2005

Canta Conto (lembram da Bia Bedran?) 

Conto um causo. Ei-lo:

Estava eu no trabalho escrevendo que nem uma louca desde essa manhã (sim, eu vim pro trabalho de manhã... ¬¬) e ainda faltavam TRÊS PÁGINAS INTEIRAS do relatório. Três de cinco. *hunf*

Achei que dava pra ficar sem almoçar. Dez minutos depois da página 3 começar, descobri que estava errada e desci pra comer um pastel.

Estou eu percorrendo o trajeto de volta da carrocinha de doces, onde comprei um Brigadeiro de café - vejam só a que ponto chegamos! - quando dou de cara com um anúncio do novo cd da Shakira, "Fijación Oral - volume 1".

Querendo dar algum sentido ao título e, talvez, para fazer o público não-alvo já esquecer o terror nada publicitário que lhe vem à mente quando entende o prenúncio de um volume 2, há uma foto da dita-cuja com um vestido esvoaçante e milhares de peças metálicas dependuradas pelo corpitcho, como um pinheirinho de natal, à guisa de enfeites. Ela senta, com um bebê gordo nos braços, dependurado quase como os enfeites.

Não vou comentar os cabelos da Shakira.

Enfim, o melhor ainda está por vir. Eu, parada na frente daquele meio publicitário, comendo meu doce de café, pensando na cara da Shakira. Ela faz uma cara estranha, assim como se quisesse dizer, mas não conseguisse verbalizar naquele momento (até porque ela era um foto): "Eu sou uma cantora latina sensual e caliente! Sinto que o impulso materno devia ser muito importante e feminino e natural; nesse momento, entretanto, não sei como lidar com essa eterna contradição inerente à condição de mulher!"

A cara dela está ótima. O cabelo... bem, não vou comentar o cabelo. Falar do cabelo já é sacanagem, então paro por aqui.

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