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segunda-feira, janeiro 30, 2006

Foi só falar de Noé, lá vem o dilúvio... 

Andando de guitarra nas costas, água nas coxas, mochila na frente e guarda-chuva de bengala (antes molhar a cabeça que quebrar a perna), vi um rato se secando em um degrau alto de uma portaria.
Mulheres gritaram na portaria.
Um homem quis bancar o herói e foi lá olhar, de peito estufado, com cara de guerreiro viking.
Só sei que, estando eu naquele estado, tão igual ao rato, se o cara matasse o rato eu enfiava o guarda-chuva nele.
Quem é mais rato, quando chove?

quinta-feira, janeiro 26, 2006

Sete bilhões, fessora! 

A coisa das cores. Eu sempre fiquei embasbacada com as cores.
Olha só. Achei um texto na internet, dizendo que, bem em verdade, as sete seriam seis. E que se separou em sete por uma questão religiosa.
Sete dias da criação, sete cores. Mais ou menos isso.

Sendo isso verdade ou não, continuo sem entender.

Por exemplo: na escola, te diseram que as cores primárias eram vermelho-azul-amarelo. Agora, olha na impressora: é magenta-ciano-amarelo. Daqui a pouco as cores primárias são roxo, beige e abóbora.

Aliás, conforme pesquisas empíricas, homens não distinguem o abóbora do vermelho. Sério, juro. Pergunta pra algum amigo seu de que cor é o 422. Ele vai dizer: vermelho. Responda: não, é abóbora. Ele vai rir da sua cara. Daí, mostre pra ele a placa do ônibus, essa sim vermelha. Observe com gosto a cara de mongol recém diagnosticado daltônico. Se estiver com sorte, ele vai tentar te convencer que está certo.

Tá bom, antes que reclamem: essa foi mais uma generalização daquelas que a gente faz pra poder se comunicar em menos de 10 laudas. Deve ter por aí algum cara que responda "abóbora" e uma menina que diga "verde". Não comecem essa discussão agora. Vamos marcar pro post que vem, ocá?

Não chiem, meus lindos. Adoro vocês, muito mesmo. É só diferente. Mulheres (ver parágrafo acima, svp) também não conseguem estacionar o carro direito, nem que seja um fusquinha.

Voltando às cores. Quem foi que foi lá e separou? O azul do anil, por exemplo? E por que que não tem azul claro, verde piscina, amarelo ovo? Eu quero uma impressora ciano-magenta-gema.

E aquela televisão da Philco, que tem sei lá quantas bilhões de cores? Cara. Bilhões de cores.

Antigamente eu achava arco-íris uma coisa muito breguinha, uma coisa assim ursinhos carinhosos, adesivos de smile no fichário e menininhas de keds brancos, sabem?

Um dia, pimba, você quebra a cara. Adoro isso, de quebrar a cara. Fico rindo, achando que é uma dessas piadas escondidas da vida, que nem ovos de páscoa no quintal.

Mas que fique bem claro que acho páscoa brega. Só acho que se eu fosse criança e escondessem aqueles ovos poloneses lindos e coloridos em um quintal, eu ia ficar hoooras procurando. Bem, talvez ainda hoje...

Adoro ver os outros quebrarem a cara. Adoro me ver quebrar a cara, também. Deve ser por isso que eu gosto tanto de cicatrizes.

Esses meus ultimos posts têm sido estranhos e um tanto bobocas, eu sei. É que ando boboca. Nhem nhem nhem. Blaaah. Quem nunca esteve boboca que atire o primeiro volume em capa dura do "irmãos karamazov".

Me comprem um par de keds brancos.

Observação oportuna: eu adorava "o mundo de Beakman"! E "Castelo Ra tim bum", "Canta conto", "no mundo da lua"... Bons tempos de TVE, né? Eu assitia ao "RG", também. Será por isso que eu gosto do GNT e do Animal Planet, por causa de resquícios da TVE?

Que programas vocês viam quando eram crianças?

Antropologicamente,

J.

quarta-feira, janeiro 25, 2006

"E viu Noé o arco-íris..." 

Diga-me aí: quantas cores tem o arco-íris, mesmo?
A resposta que vem de sopetão é logo “sete”, né?
Daí, te pergunto: por quê? Por que sete? Diz aí pra mim, quais são as tais sete cores, pois então!
Não, não vale jogar no google. Honre teu polegar opositor e diga aí embaixo quais são as tais sete cores, svp.
(se eu duvidar, te sentes instigado/a? Pois então duvido.)

terça-feira, janeiro 24, 2006

Sei Lá 

Ai, não me liga pra me perguntar o telefone do provedor. Não venha me mostrar nenhum número obtuso em algum papel picado. Não me manda mensagem, não liga pro meu ramal. Não sei.

Quer saber, não sei, não sei. Não sei o porquê do que não sei, não sei o que que não sei, não sei como é que não sei, não sei se já soube, não sei saber se saberei.

Não sei!

Não sei a causa de não escrever mais. Não sei explicação para a minha falta de coisa interessante para dizer. Não sei onde foi parar meu ânimo para buscar alguma coisa que me surpreenda.

quinta-feira, janeiro 12, 2006

O Ideal Mais Lamentável De Que Se Tem Notícia Sobre O Ideal Mais Lamentável De Que Se Tem Notícia 

"Mickey Mouse é o ideal mais lamentável de que se tem notícia (...) As emoções sadias mostram a todo rapaz independente, todo jovem honrado, que um ser imundo e pestilento, o maior produtor de bactérias do reino animal, não pode ser o tipo ideal de animal (...) Abaixo a brutalização do povo propagada pelos judeus! Abaixo Mickey Mouse! Usem a Suástica!"
_ artigo de jornal, Pomerânia, Alemanha, meados da década de 30.


Se li mal contendo a tremedeira nas mãos, copiei sangrando. Há certas coisas que nem as aspas conseguem afastar.

Há fatos que nem impérios que durem efetivamente mil anos conseguem lavar.

Há pessoas que nem os pronomes conseguem separar.

Há emoções que nos tornam iguais. E há ações que nos diferenciam.

O ódio que sinto lembra-me o ódio que odeio. Tudo o que há de ordinário em minhas veias lembra-me da obrigação de ser melhor.

Penso por um instante em todos os ratos que há sob o chão. Penso por um instante no pequeno filhote de gato no meu colo, fraco, anêmico, abandonado como lixo, maltratado, doente. Haviam lhe cortado os bigodes, porque gatos se orientam pelos bigodes.

Chora-se sorrindo. Leite de rato, sangue de gato. Até mesmo quando vierem as próximas aspas.

quarta-feira, janeiro 11, 2006

Até Que Me Rompam Os Rins 

O arrepio me segreda tua pergunta escondida. Pergunta dessas que a gente faz e começa a rabiscar em volta, corta um xis de cá com um xis de lá, põe mais sal, prova, derrama no papel da mesa do bar e espicha com giz de cera.

Um desses exercícios. Palavra-cruzada, sodoku, problema de xadrez.

Nem estás mais aqui, teus olhos fixos no ventilador. O jeito como brincas de enrolar o cabelo na ponta dos dedos é sinalizador da tua ida.

Não quero nem me mexer, para não romper a tensão superficial. Tão frágil. Lindo como corte de papel. Mas, descoberta a fragilidade, ela tende a cair para dentro de si mesma, imediatamente. Desvelada a beleza mais fina, tende ela a romper ao menor contato com a retina.

A pergunta escorre. "Por quê?"

Estalo os dedos. Estico a espinha. Faço correr o óleo pelos músculos e pelos parafusos.

"Por quê?."

Porque. O da resposta vem sempre junto. Vem junto, vamos lá dentro, vou te mostrar os cadernos. A gente escolhe uns excertos e uns desenhos, rasga bem direitinho, costura e coloca em um porta-retrato.

Daqueles porquês: não são exatamente indicação da causa, mas pintura de quadro geral de sintomas. A causa mesmo é muito anti-poética: química orgânica.

Porque, meu bem...

Porque você olha pra mim e já não sei mais o que dizer,
Porque eu olho pra você e o ar em volta começa a escorrer,
Porque só me entendo por gente com você por moldura,
Porque as pessoas são de barro e o céu é só pintura.

Porque se eu somo a minha mão com a tua,
O fim das contas não conta mais que a estrutura.
Porque qualquer dor já vem com prazo de validade e
Meu partido é contra a taxa de juros embutida na saudade.

Porque se eu somo a minha mão com a tua,
O fim das contas conta muito mais que a estrutura.
Porque qualquer sombra surda é parte do roteiro e a gente corta fora,
Porque dez minutos pra te ver me ocupam o dia inteiro, mas, porém, embora...

Porque você vai embora e continua em mim assim,
Porque te quero por dentro até que me rompam os rins,
Porque a minha salvação foi ter guardado os meus joelhos,
Porque te quero aqui até que me transbordem os espelhos.

Porque tantas velhas velas agora me importam,
Porque tanto se me dá quais portos ainda exportam.

Porque te pintei em aquarela atrás da minha porta,
Para você voltar no exato instante em que for embora.

sexta-feira, janeiro 06, 2006

Onda de Branco com Goteiras 

Arrastam-me os pés. Gotejo pelas pontas dos dedos. Meus passos empurram-me para cima e para frente. Cavalgando-me, subo e desço. Se é que subo.

Cotovelos e joelhos esfolados. Olhos fisgados em anzóis de cobre. Coração semi-cerrado. Guardo cuidadosamente as folhas que entram pela janela em um caderno de folhas pautadas, tentando me fazer um dicionário.

O mundo zumbe em torno, distante. O cintilante à luz do sol aflige meus olhos. Marcapasso. Solfejo gotejando.

Nada. Nada. Nada... O nada é uma onda de branco com goteiras. Nada, na língua original, era um estalado com a língua. Gota. Gota. Gota.

A saudade é a mais linda das gentes e a fome é a mais apetitosa das frutas.

Minhas solas molhadas rangem sobre o mundo, minhas dobradiças ressecadas rangem sob o conjunto e minha voz surda enrouquece sobre tudo. Minhas pontas gotejam o que há muito não há. Meus meios rompem. Esbarram e quebram as mais frágeis e preciosas caras e coroas.

Pedem-me para consertar o que não me pertence. Pedem-me para esperar pelo que não conheço.

Encontrei um homem bondoso o suficiente para repetir as minhas palavras, exatamente, no tom certo. Ainda que mais pesado, ele desliza com graça sobre as caras de vidro e as coroas de açúcar. Minha garganta talvez tenha sido concebida em muito outro planeta, onde não causasse avalanches.

Aqui, ainda flutuam os pés enquanto suporto o teto. Ainda procuro um meio de não chorar enquanto não faço chorar. Ainda procuro alguma enciclopédia que me ensine a ignorar os estalos cortantes nas minhas costas enquanto limo minhas palavras. Ainda procuro alguma ciência que me mantenha viva enquanto me desfaço para procurar a fonte da doença.

Sinto falta do tempo em que as perguntas que me faziam não vinham já tão equivocadamente respondidas. Sinto o corpo falhar. Procuro bengalas na lógica de ser mais, estando menos. Ando, ainda; mas esfolo os cotovelos e os joelhos, de correr com pés de nadar.

quarta-feira, janeiro 04, 2006

Idólatras Afogados E Narcisos Inanes 

Convenhamos: amar é um tipo de idolatria. A gente toma de matéria ordinária – barro ou gente – e molda à imagem e semelhança do nosso amor, furioso e impiedoso na sua ânsia criativa. Amor, sendo essa necessidade imperiosa defumada em nossas carnes de se descobrir através de outra pessoa, em outra pessoa.

Amor, assim inimigo do narcisismo – que, diga-se de passagem, não fosse por esse tal de amor seria muitíssimo feliz no seu lago.

Então aproxima-se o amor pelas costas, empurra Narciso de cara na lama e ainda faz escárnio: “Toma, Narciso, usa esse snorkel, meu filho!”.

E lá se vai mais uma pobre alma, se afogar em si mesma, buscando saída no fundo do lago enquanto a falta lhe queima os pulmões e a garganta.

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