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terça-feira, novembro 29, 2005

Revolução 

Revolução. A gente nem lembra direito o que vem a ser uma revolução. Não dá nem para imaginar, com a nossa cabeça videoclíptica, a Rússia levantando-se e derrubando o Tzar.

Querem saber o que é revolução?

Talvez, mudar um calendário. Derrubar um império.

Hoje, no ônibus, eu descobri que aconteceu a maior revolução dos últimos tempos e ninguém notou ainda. Em primeira mão:

Hoje eu vi um cara vendendo a Tabuada Atualizada. Céus, atualizaram a Tabuada e ninguém notou a potencial catástrofe! Muito pior que o bug do milênio: imagina, ninguém mais sabe fazer conta! Vamos ter que confiar em alguns profetas, que serão auto-proclamados nossos líderes e usarão esse conhecimento em favor de seus próprios interesses, poderosos e invencíveis, sem que possamos fazer absolutamente nada!

O que será da humanidade, da civilização e de todos esses milênios de cultura acumulada? Temo pelo que virá.

sexta-feira, novembro 25, 2005

3 Horas Sob Água 

Acordei encharcada e com cheiro de chuva. No entanto, tudo era muito familiar e eu sabia de cór a rotina da tarde que viria, como se futuro e passado fossem só separações ficcionais do tempo, para facilitar a conta.

Sentei no sofá e olhei para as minhas mãos. Virei as minhas mãos. Às vezes, sabe, as pessoas tornam-se só mãos.

Quem olhasse da janela e ainda não tivesse desligado tudo o que estivesse mais profundo que o nervo óptico, naquele modo autômato-letárgico de se caminhar sobrevivendo aos dias da semana, ia descobrir um bom passatempo para aquela tarde: meta-observação.

Minha cama estava cheia de coisas e eu precisava desesperadamente ser gente, só mais um pouquinho; então, aceitei o preço do sofá. Entreguei um punhado de vértebras em pagamento adiantado e nem esperei o troco, que estava sem paciência para os códigos sociais.

Há dias em que se acorda e parece que a pele foi arrancada: todos os toques do mundo, ainda que sem o querer, vertem sangue. E a cara de surpresa das pessoas, quando a minha reação não consta da tabela de reações proporcionais das pessoas proporcionais, me faz acreditar que elas nunca tenham tido nenhum dia sem pele na vida. Ou se esqueceram.

Mas, veja bem, como é que se pode pedir compreensão? “Olhe, por favor, você que não compreende minha simbologia e meus valores, por favor, faça um esforço cerebral e entenda tudo”. Coisa mais imbecil, pedir compreensão. Como se protocolar o pedido fosse desencadear alguma linha de produção cerebral. Coisa mais imbecil. Deve ser idéia estúpida dessas que tanta gente aceita pura e simplesmente porque torna a vida tão mais fácil. Deve ser resumo de viver desses, vida for dummies; parente de pedir promessas de fidelidade, ou de se dizer que ama e exigir resposta, ou de declarar com toda a calma do mundo “o céu é azul”. Não suporto gente que acha que o céu é azul. Desgosto irreversivelmente.

Sentada no sofá, fiquei um tempo olhando a chuva que caía do céu, que naquele momento estava violeta e um tanto manchado de amarelo e cinza. Estava tentando atinar com a razão daquela dorzinha fina que me corria no peito. Não era dor de dormir em posições bestialmente humanas; era dor de dentro para fora. De somatizar alguma coisa que antes só existia em eletricidade, que é então sintetizada em enzima ou alguma outra molécula orgânica que vira desespero nas artérias e preenche algum espaço por debaixo de toda a pele. Principalmente sob o couro cabeludo, descendo pelo pescoço.

Lembrei devagar, como quem tira um pedaço do mundo da sola do pé, vagarosidade feita de três partes iguais de curiosidade, medo e inércia: eu, lembrando, era um copo pequeno, fino e trifásico. Devagar assim me lembrei que estivera sonhando. Pode parecer óbvio que as pessoas sonhem quando dormem, mas eu não sei lidar com acordar de manhã e perceber que sonhei.

Li em algum lugar que os dobermanns enlouquecem de tanto ouvir. Quero dizer, é que lhes cortam as orelhas para que não fiquem caídas e eles têm ouvidos muitíssimo sensíveis, então enlouquecem de tanto ouvir. Talvez, se lembrasse dos meus sonhos, ia ser como se me cortassem as orelhas: já não tenho as bordas lá muito definidas. Se tirassem uma foto de mim bem distraída, era capaz de sair uma linha pontilhada.

Sentei no parapeito da janela e fiquei recebendo com um sorriso de mona lisa os respingos que me sobravam do riacho que descia a parede. Talvez, tanta coisa. Talvez, se uma gota ridiculamente desimportante não estivesse exatamente onde está, tudo seria tão nada do que é.

Talvez, se tivesse dormido mais que três horas nas últimas sessenta horas, não tivesse acordado tão exausta. Se não tivesse acordado tão exausta, talvez não tivesse me dado tempo de perceber que chovia. Se não tivesse percebido que chovia, talvez a minha atenção não tivesse sido desviada tempo suficiente para que me lembrasse do que tinha sonhado. Que lembrar do que se sonha, de verdade, é como olhar aquele tipo de coisa e de gente que só se enxerga com o canto dos olhos: se você olha diretamente, desfaz-se com tão maior velocidade quanto mais diretamente se olha.

Estava sob a chuva, caminhando por um jardim. Eu andava de olhos fechados, o rosto e as palmas das mãos viradas para cima. Quase que dançava e a grama ia como dedos nas solas dos pés. O vento era violino e o frio fazia correr fios metálicos pelos meus ossos. E eu chorava, chorava com o peito queimando e o ar faltando, tossindo e cuspindo as pílulas que eu tomava para não ter alergia aos remédios que eu tomava para não chorar.

E eu gritava, sem pontes nem escadas. Cantava gritando, abria rasgando, envirgulando os pontos que me deram, dobrando os joelhos e erguendo os olhos ao nada, como se suplicasse da forma que suplicam os que ainda suplicam. As pessoas que estavam dentro da casa me olhavam assustadas e gritavam para que eu entrasse de volta. Elas me mostravam fotos e meu uniforme do coral.

Mas eu já não queria mais cenários santos para a animalidade humana; já não queria encapar meus cortes em tecidos de cores pastéis; já não queria prender meus gritos em solfejos encaixotados; já não queria remédios que me roubassem tudo de mim que não devia estar em mim, mas que, no fim, era absolutamente tudo de mim; já não queria lenços nem lençóis que me mantivessem seca, saudável e morta; já não queria trancafiar meus pensamentos em silêncios que duravam anos; já não queria violentar minhas percepções em diários, desenhos e outras traduções bidimensionais. Já não queria nada, há muito tempo. Já há muito tempo eu não queria querer nada.

E as pessoas começaram a chorar, dentro da casa, quando me viram jogar fora todas as precauções e seguranças, que eram absolutamente essenciais. Começaram a gritar também, por trás dos vidros, que eu ia acabar por perder tudo. Eu já não reconhecia aqueles fonemas e continuava a encontrar cada vez mais sentido no verso das paredes.

“Tudo isso é culpa sua!”, gritavam as pessoas dentro da casa, apontando umas para as outras, correndo e tropeçando. Mas a culpa não era de ninguém de dentro da casa. A culpa era minha e daqueles braços ao redor de mim, que me esperavam e me deram as mãos, do lado de fora, quando eu declarei, à mesa de jantar, que estava saindo porta afora, e saí.

Dançamos e gritamos sob a chuva e sentamos e conversamos sobre a chuva. Estávamos sós e juntos na chuva. Tudo o que era tão pouco expeliu esse tão pouco que era tudo. Vivemos e morremos, tudo em um dia, como as cigarras: cantando, gritando, dançando, chorando, queimando e congelando sob a chuva. Um dia só, como as cigarras.

Acordei encharcada e com cheiro de chuva. Não tinha morrido, então correu uma lágrima enquanto corriam as gotas pelos meus pés inertes e suspensos no parapeito da janela. Não tinha morrido sob a chuva: ainda estava esperando o dia em que viria o amor da minha vida me levar para viver.

Desci do parapeito quando a chuva terminou e o céu voltava a ficar azul. Olhei no relógio e vesti o uniforme do coral, tomando cuidado para ocultar as cicatrizes nos antebraços. E dobermanns me passavam pela cabeça.

terça-feira, novembro 22, 2005

Um e Meio 

Vim assobiando pela chuva, pensando em comprar margaridas para esse homem que me inspira todos os dias. Porque achei que ele merece milhares de margaridas por me inspirar todos os dias.

É tão difícil, qualquer coisa fácil que seja, ser todos os dias.

Vim abraçada com um vaso de margaridas, pensando em dobrar mais uma vez a barra da calça, só por precaução. Porque achei que devia passar a me prevenir mais e parar de pisar em poças em número maior que o necessário.

É tão difícil saber a diferença entre precaver-se e privar-se.

Vim com a barra da calça encharcada, pensando na pergunta que você me fez ontem de madrugada, depois que constatamos pela vigésima vez que seria prudente e econômico desligar o telefone. Porque achei que eu devia sempre lembrar de checar a minha arrogância.

É tão difícil saber a diferença entre um mártir e um megalômano.

Vim colorindo minha arrogância, que eu rabisquei naquele seu guardanapo de restaurante assim: uma bomba d’água na borda do barquinho furado que sou eu. Porque uma bomba na borda por um triz joga água de dentro para fora, mas, por ainda menos de um triz, joga água para dentro.

É tão difícil saber quando se deve pesar e quando se deve simplesmente ir.

Vim engolindo chuva, pensando que eu não entendia pessoas que engolem o choro. Porque a vida me parece tão curta para não chorar e viver me parece tão tolo sem transbordar. Sentir me parece tão pequeno se sinto muito.

É tão difícil saber que ir te faz tão bem, quando tudo o que eu queria era ver você querer ficar.

segunda-feira, novembro 21, 2005

Bounce-back Smile 

Pára de sorrir. Pára de sorrir, que você sorrindo me bate mais do que se estivesse chorando. Esse seu sorriso mentiroso, guarde para você. Essas suas piadas interminavelmente engatadas em corrente, pode levar tudo isso de volta. Não quero mais nada disso e me ofende que você pretenda que eu volte a esse estado primário das coisas.

Não vou me sentar do seu lado no bar e conversar como se nada tivesse acontecido e como se nada estivesse acontecendo. Não vou conversar com quem se esconde atrás do tempo: não vou fazer parte de algum papel de parede idiota para que tudo pareça mais florido a olhos míopes. Não vou mais desperdiçar minha humanidade em quem menospreza qualquer coisa que esteja por fora da própria pele. Não vou mais achar graça nessa sua melancolia sádica.

Então, pare de sorrir. Não me venha e não me volte com esse sorriso besta. Não vou fingir que não te vi chorando, não vou fingir que não sei o mapa dos teus cortes, não vou fingir que não te vi tantas e tantas vezes do avesso. Não vou fingir que sou só mais um transeunte que você força de volta para o asfalto. Eu não fui, eu não sou e não cabe a você moldar as pessoas conforme melhor lhe pareça, apesar de tudo o que você acha que sabe.

Pare de sorrir, que eu sei demais desse sorriso para recebê-lo como se nada. Já estive por baixo dos seus pés, já estive por cima dos seus ombros, já estive por dentro das suas costelas e já estive em volta delas também, já me encharquei quando você transbordou e já me rachei quando você secou. Não me apareça com esse sorriso na frente, que eu faço uma besteira para te provar alguma solidez que você ignora.

Não fui o que você queria, mas não vou ser o que você quer, tampouco. E justamente pelo mesmo motivo, aliás. Eu não fui e não sou dessas pessoas que se guia com correias sorridentes.

Se tiver que desaparecer para continuar no seu mundo, com as suas regras e com a sua pretensão de controle absoluto de tudo e de todos, pouco se me dá. Que se esconda. Que erga outra camada de muros. Que continue se cercando tanto mais de si, só para evitar a angústia de ter que aceitar que há outras prioridades e outros deuses, há outros tempos e outras velocidades, há outras visões e outras versões, há outras cores e há outras pessoas no mundo. Não me importa mais o teu autismo existencial. Não me dói mais te ver morrer só.

Mas não me venha com esse sorriso. Eu ainda lembro de todas as fechaduras e de todas as senhas, então baixe esses olhos antes de vir me afrontar com esse sorriso novamente. Guarde suas condescendências e arrogâncias para o resto do mundo, que tanto te repugna. Eu trago demais de você por dentro de mim, então baixe esse olhar que já foi meu. Finja para quem quiser, continue a esconder esse nada que você chama de seu para se encher, ao menos, de mistério que possa cativar olhos verdes.

Encontre algum caminho, se perca de vez, continue inerte, não continue nada ou continue ninguém. Só não me dirija esse sorriso, nunca mais.

sexta-feira, novembro 18, 2005

A Sangue Frio 

Você sempre chega em casa e senta do meu lado no sofá. Mas, hoje, você chegou em casa e sentou do seu lado do sofá.

Olhamo-nos com uma certa saudade triste. Abrimos as bocas e saíram carimbos e recibos. Tentamos um beijo: atestado de óbito.

Você quebrou o vidro, apertou o grande botão vermelho e me jogou na parede com a voz para dizer, tremendo, que me amava. Eu baixei os olhos, sorri sinceramente e você soube exatamente o que eu estava pensando. Porque eu olhei e soube que você leu na minha linguagem de não dizer nada o que eu estava pensando.

Você segurou a minha mão. Mas, até outro dia, quando você tomava a mão, ela era sua: a mão que você segurava já era sua.

Você gritou comigo e me apontou o dedo, que não era mais meu; e o nunca mais do último me doeu muito mais do que o nunca antes do primeiro.

Você falou de todas as minhas palavras não ditas. Eu sorri, diante de todos aqueles novelos de maravilhosos enganos. Errando ainda, você me viu sorrir e chorou.

Você chorou e me assustei de ver aquele choro que eu sei que você guarda para os cortes que vêm desde sempre e que nunca fecharam. Você chorou o nosso choro secreto, só, na minha frente, pela primeira vez. Primeira vez você chorou o nosso choro na minha frente e não em mim. Eu nada pude fazer senão chorar também, de costas para o porta-retrato.

Você soluçava e me pedia respostas. Eu, que sempre tenho respostas. Eu, que amo tanto as perguntas, não encontrei palavras. Busquei seu rosto com as minhas mãos, encaixei suas pupilas nas minhas e te respondi um absolutamente nada.

O silêncio foi enchendo tudo e arrebentando as gavetas. As gavetas todas que você abriu foram sendo jogadas pelos ares, uma a uma, com as violentas lufadas de silêncio que batiam de uma pupila à outra e arrancavam as cortinas das janelas.

Quando já não havia mais papéis, quando já não havia gavetas, trouxe de volta o seu umbigo para casa e tudo ficou morno como sol de manhã depois de uma noite fria.

Reencontrei a porta do meu escritório no lado esquerdo do seu pescoço, apoiei a cabeça na minha cadeira no seu ombro e disse as minhas palavras entrecortadas. A respiração vinha em dois contratempos ofegantes, como um coração obrigado a subir escadas. Até o ar, até então frio e indiferente, trazia consigo as marcas daquela intensidade fora de época.

Você ficou entre as pilhas de coisas jogadas e as minhas pupilas e palavras. Eu vi que você angustiava, então selei as minhas mais sagradas palavras, singrei as minhas mais sangradas frases e resolvi que não cabia mais selar nada. Montei em mim e fui te buscar.

Procurei pelo caminho os botões e todos estavam ainda no mesmo lugar; acho que foram mesmo meus dedos que desaprenderam a procurá-los. Você estremeceu e se defendeu. Eu, que ia com coração de salvar, que estendi meu estandarte de paz, que vinha com canções de voltar, levei no peito aberto com o seu fogo. Fogo de quem sentiu medo e atira para proteger o lar.

O medo voou através de tudo, amargou a minha carne quando entrou pelo corte e eu cambaleei para trás. Você viu no meu peito o sangue e nos meus olhos a surpresa. Só então adivinhou que o cheiro que eu devia estar sentindo era de traição.

Eu caí uma daquelas quedas em que se continua de pé. Apontei para o nosso sangue e para a sua arma. Urrei uma dor miúda e profunda. Ficamos ali, olhando o campo de batalha, que antes era um campo e antes era todo um mundo.

O sangue era nosso. Tivemos que nos sangrar assim para só então perceber que o sangue era nosso. Ainda.

quinta-feira, novembro 17, 2005

Catálises, Catarses e Terapia Digestiva 

Hoje, os bancos do jardim estavam cheios. Barulhentos e cheios.

E eu precisava de solidão e silêncio para sentar, ler um pouco, alinhar os pensamentos e relaxar as gavinhas das preocupações inúteis. E então, estar preparada para a digestão.

É que ando fazendo essa nova terapia digestiva, que inventei para mim.

Em um banco de canto, coloquei a cabeça em algum lugar e concentrei os lisossomos em torno de você.

Não... Vê? Mesmo depois de tudo, ainda confundo com você.

Não é você; é alguma coisa presa no indefinido entre neoplasia e feto; entre uma multiplicação descontrolada, masoquista, suicida e a multiplicação propriamente dita.

Alguma coisa presa na indefinição: não tem nome. Entre os extremos que são fáceis, onde as coisas têm nomes, são identificáveis e confortavelmente unânimes. Aquela faixa, entre duas coisas quaisquer. Aqueles tons de cinza que não têm nomes. A gente olha de má vontade, torce o nariz e diz só que é cinza.

Portanto, o que há dentro de mim é alguma coisa que ainda não se chegou a alguma conclusão do que seja. Não tem nem uma hipótese do que poderia ser: nem dogma, nem diagnóstico, nem teste. Está lá, se alguém um dia quiser procurar: entre o cancro e a mórula.

É uma criatura que eu gestei, esculpida com o avesso dos meus músculos e dos meus órgãos. Fui gestando em etapas, usando várias partes velhas de mim mesma e algumas secreções novas.

Algumas secreções, produzi especialmente para a ocasião. Outras vezes, só secretei mais das mesmas de sempre, para nutrir também o outro, aquilo que ainda não tem nome.

A minha oferenda de carne, esculpida de mim e por mim. Mas, para mim?

Tecido que eu mesma criei e reproduzi, tingido com a minha própria hemoglobina, não era eu e não sei se era para mim.

Essa alguma coisa que deixou de ser só uma parte minha, mas nunca chegou a ser autônoma. Que ficou presa entre me matar e se viver, não conseguindo sair por nenhum dos dois lados.

Não sei que nome lhe dar. A falta de outra coisa que sirva de paradigma incomoda demais a mente, que fica um tanto quanto indignada com a aceitação tão plana e tão plena do coração.

Essa criatura que eu gestei e que, por um tempo, me transformou no que eu fazia e só.

Fez-me ser o que eu fazia, e só.

E só.

Eu era um olhar de escultor: olhando com todo o desejo do mundo. Olhando com ganância para o que sabia que não era meu, mas ainda assim incapaz de parar a compulsão de reproduzir. Aquela insanidade mansa e incandescente, rompendo por baixo.

Reproduzir, mesmo sabendo que sempre seria menos, muito menos do que me tornou só um olhar de escultor. Tentar chegar o mais alto possível, mesmo sabendo que sempre seria mais baixo do que me movia.

Aquele tipo de amor que talvez não exista, fora da minha sistemática e teoria: um tipo de amor que brota da síndrome de escultor.

Um dia, você está sentada em um balanço e empurra a terra com a ponta dos pés. Quase sem querer, um toque que é quase esbarrão. Um movimento inconsciente, daqueles que parecem tão naturais que a gente nem nota que está fazendo.

Como respirar. Ou digerir.

Mas alguma coisa inicia um impulso elétrico no córtex e a gente tem a impressão de significado naquela terra. Aquela terra: até então tão sem importância que se poderia até esquecer ou perder. Aquela mesma terra te dá uma impressão estranha de significado.

Uma dúvida, talvez. Uma curiosidade de significado, ao menos.

Você olha para a terra e ela deixou de ser parte da paisagem para se tornar o alvo de um olhar. Futuca a terra com o dedo, mas já não busca só apoio para continuar o eterno movimento pendular.

Aquela terra. Tem algo naquela terra. A cor, o cheiro, a textura. Tem algo de diferente naquela terra.

De repente, sem que se note, aquela porção de terra adquire algum significado e passa a ser única, dentre os bilhões de porções de terra do mundo.

E a gente guarda a terra. Leva para casa. Estabelece-se a ficção de posse, bem ao lado da frustração de querer suspender aquela terra ao seu verdadeiro lugar. À sua verdadeira estatura. À altura do potencial que talvez não esteja lá, mas cá.

O escultor: esculpe primeiro o pedestal, depois a estátua.

Um dia, a gente descobre alguma coisa que nos capte o olhar, por sua vez, mais uma vez. O triângulo está fechado e a escultura começa: uma pessoa reduzida a um olhar, um pedaço de terra elevado a uma condição irreal e uma presa que caiba na armadilha.

A armadilha do escultor para ele mesmo: se apaixonar pela escultura que nunca poderá ser feita. Se enamorar de uma idéia inefável. Projetar sua vida na terra e espalhar suas ferramentas de expectativa ao redor. Pretender capturar alguém para fazer viver o que não viverá fora de seus devaneios mais selvagens.

E assim começa a síndrome de escultor. Você não se dá conta que deu o primeiro passo ladeira abaixo, ao se enamorar de um simples pedaço de terra.

Pois então, eu acho que existe um amor que seja assim, como o amor de um escultor. Que pode pender para a escultura, mas pode também pender para o modelo. Acho isso, porque penso que foi mesmo isso o que me ocorreu.

Um dia, acordei e te amava. Não amava mais a minha escultura. Não amava mais o meu trabalho de copiar o mundo, não amava mais só a minha própria capacidade, nem buscava a minha própria perfeição. Como se, por alguma razão, sem a menor intenção ou esforço para tal, sem mérito e sem culpa, Narciso simplesmente tivesse uma epifania e levantasse os olhos do lago.

E então não queria mais ter por objetivo ser um olhar mais potente ou uma mão mais precisa. Tampouco queria mais a perfeição do que me percebi esculpindo, sem notar.

Um dia, acordei e te amava. Descobri, rompendo a membrana da síndrome de escultor, que a escultura sempre estivera morta. Descobri que, sem saber, às vezes, conforme a gente vai esculpindo a réplica, vai descobrindo o original.

Se começa sem mérito: o objetivo é egocêntrico e narcisista, de se pretender criador; se termina também sem mérito: o resultado do que se esculpe é o certificado de sermos arrogantes e cruéis, de pretendermos que seja criatura.

Um belo dia, acordei e te amava. Descobri-me descontrolada. Descobri partes tão ocultas que nem lembrava de ter guardado. Talvez tenha descoberto partes de mim que nem tivessem nascido antes.

Descobri que te amava com tanta força que rompia os meus limites. Que me rompiam os músculos, no esforço de não explodir o conteúdo pelos ares. Que rasgavam as minhas regras, no esforço de conterem a realidade e evitar que perdesse os parâmetros todos.

Descobri, finalmente, que não cabia em mim.

Olhei para ele e doendo não tive mais como negar que não cabia em mim. Era muito maior que eu, então tive que admitir que não ia ter como talha-lo para que fosse orgânico e possível.

Era grande demais para ser contido. Era grande demais para esperar por momento propício. Era grande demais para ser viável. Era grande demais para não ser violento.

Era grande demais para que eu permitisse o dano. Em mim e em ti.

Fazia-me maior, ao ser maior que eu, justo para tentar acompanhá-lo. E para tentar acompanhar a velocidade com que eu tinha que expandir, tinha que implodir ao mesmo tempo para descobrir a engenharia das minhas engrenagens.

Mas me era tão maior que eu que tive que deixa-lo ir. Ele foi embora.

Ele foi embora e eu fiquei olhando, para ter certeza que estava indo mesmo.

Mas ficou a escultura de carne. Lembrei só quando ele foi embora que tinha ficado a escultura de carne.

Então, hoje, eu ia ler um pouco, comer morangos e botar os lisossomos para digerirem mais um tantinho da escultura de carne que ficou, como ruína do que já foi construção.

Mas os bancos do jardim estavam cheios e barulhentos.

Então, fiquei pensando qual pedaço da escultura era inofensivo e perigoso o suficiente para guardar de recordação.

Em você, não tenho dúvidas: escolhi seus olhos sem fundo, desde que há estrelas.

Na escultura, no entanto, não dá. Não gosto de olhos de escultura. Talvez porque goste tanto de olho de gente: uma janela muscular colorida não ficam bem em pedra. Fica mórbido.

Tem a sua beleza, o mórbido, mas não se pode comparar: há coisas que só encantam em movimento.

Que olhos são como um certo tipo de pessoa em que a beleza está no tremer, no vibrar, na trajetória.

Pensei no nariz da escultura de carne e comparei com o nariz da sua pedra.

Pensei em mentiras, em narizes de madeira e em narizes de pedra.

Dizem que narizes de madeira esticam e por isso, indicam mentira. Dizem que o nariz indica também a personalidade.

Se é assim, acho que mentira é nariz de pedra, que não indica mudança de personalidade.

Lembrei de como odiava o história do Pinóquio. Sempre desconfiei do Gepeto e odiava ver o pobre do Pinóquio sofrendo só porque ele era de madeira, queria ser de carne e seu nariz não deixava que mentisse.

Imagine só: você é de madeira, vive num mundo de carne e não te deixam nem mentir.

Você foge do mundo de carne, acha um lugar onde finalmente é feliz e então te transformam num burrico.

Se é de madeira, vivendo num mundo de carne e não te deixam mentir. Te dão um grilo de superego, que o seu não presta.

Narizes de pedra nem esticam. Narizes de pedra não reagem ao mundo nem transparecem o que se passa por dentro.

Não quero um nariz para souvenir, decidi. Não gosto muito de narizes.

Pensando no que queria manter, descobri que não queria nada daquilo. Nada daquilo esteve vivo e nem o consolo de morrer havia.

Não estava nem morto, que nunca tinha vivido.

E era isso que, no fim, incomodava.

Procurei na lembrança alguma parte que tivesse vivido, que eu tivesse tido. Que você tivesse me dado.

Achei a mão que você me deu, quando tudo ainda era nada, nada tinha começado a ser o tudo que viria a ser nada.

Olhei para a mão da estátua e achei triste o suficiente. Lisossomos, queridos, me deixem só a mão.

sexta-feira, novembro 11, 2005

Vida Translúcida 

Eles dormem. Sua presença se reduz a um leve par de ressonares. O barulho cenário reclama o primeiro plano e meus pensamentos acordam. Deixam de se prender a mim e em mim. Meus pensamentos me abrem: ranger de dobradiças e correr de trincos.

Meia luz. Chuvisco.

Acho que me sinto especialmente confortável assim. As pessoas me parecem tão bonitas enquanto dormem. Todos os seres adquirem certa graça quando dormem. Até as lesmas, até as pessoas: vivem, destiladamente. Respiram, transpiram, sonham, fazem planos, fazem amores. E fazem os amores que não fizeram, refazem os que já fizeram, se ainda dói demais não fazer mais; fazem amores que nunca virão e os que nunca mais farão.

Checo o relógio para saber se ainda funciona bem. Checo o relógio para saber se ainda funciono bem. Alguns minutos até o fim. Até acordar. Até o fim da guarda: eu, que guardo e posso me perder, e o relógio, que não guarda nada e por isso não se perde.

Acho que amo as pessoas um tanto mais intensamente enquanto estão dormindo. Talvez ame mais até as lesmas. Parecem-me tão bonitos, os seres vivos, quando estão aparentemente quase mortos. Parecem-me tão vivos, os seres vivos, quando estão assim tão bonitos.

Chega a ser um tanto irônico e não seguro o sorriso. Sorriso de guarda noturno: não fala a língua das contrações de músculos da face. Não há razão para mímica, quando se guarda o sono: penumbra e solitude.

Como cores aos olhos dos seres que vivem sob a terra, assim também os sorrisos aos guardas noturnos. Como mimetismos e disfarces de cor aos seres dos mares abissais, que têm as carnes, os esqueletos, os órgãos e o sangue transparentes. Assim, também, o meu sorriso de guardar os que sonham: transparente.

A presença quieta e o viver destilado fazem as pessoas tão bonitas de se olhar que chega a doer uma dose. Uma dose curta e forte. Risco um no antebraço.

Eles dormem e acho que gosto ainda mais deles nesse preciso momento, de observá-los com meus pensamentos esvoaçando, de olhar bullet-time. Guardar a imagem deles dormindo, suspensos do tempo. Do meu tempo, do tempo convencionado geral e irrestrito.

O despertador já vai tocar. Eles dormem, sem saber que são os últimos momentos. Inocentes da cotação preciosa desses minutos, rente da beira, sem ver a queda por vir. Não escutam o fim, claudicando sua aproximação. Clic. Clic. Clic.

Um fio gelado e metálico passa, da esquerda para a direita, por dentro do meu peito. Tzzzim. Arrepio na nunca. O corpo dá um tranco, estremecendo em silêncio.

Ainda mais bonitos que nunca, eles dormem a um triz do fim.

Sorriso e lágrima transparentes. O fim chega. O alarme soa, matando o estado transparente das coisas. O som corta agudo o silêncio, que volta a ser exceção crônica. As cores voltam aos olhos, mas a vida me fica um tanto translúcida.

A cada vez que as cores voltam, a vida me continua, cada dia mais um tanto, translúcida.

SP – 29.10.05

sexta-feira, novembro 04, 2005

A Segunda Cadeira 

Passeio meus dedos pelas pegadas que você não anda deixando.

Ando fazendo as coisas em dobro, para ver se sinto menos o seu negativo não me olhando.

Escorro meus olhares pelas paredes e eles empoçam no chão, emoldurados pelos rodapés.

Respiro o menos possível, para tentar manter aqui pelo menos o seu cheiro. Ao menos algumas moléculas da sua presença, para evitar aceitar realmente que você, já faz muito tempo, é virtual.

Folheio os móveis com mosaicos da minha pele, para que não me pareçam tão mortos sem as suas coisas; mas quanto mais cores vivas pinto por cima das lascas da minha pele, mais morto fica o conjunto unitário.

Tiro o pó, mas o pó volta, sozinho. Tudo ainda à minha volta, menos a única coisa que nunca poderia ter ido.

Passeio meus dedos pelas pegadas que você não anda deixando. E tudo de novo, e nada de novo.

quinta-feira, novembro 03, 2005

Friendly Fire (Rédeas de Si) 

Cansei da festa. Desde que me lembro de mim, eu me canso das festas e fico um instantinho na varanda. Especialmente se está frio. Se chove, me demoro um tantinho mais.

Cansei de sustentar o sorriso, cansei de rebater as perguntas para longe com piadas. Cansei do pingue-pongue social. Não havia quem se animasse a erguer punhos ou floretes verbais, então não havia qualquer perspectiva realmente atraente naquele ambiente.

As paredes eram brancas demais. As plantas eram bonitas demais. A madeira era nova demais. A seletividade e a diversidade das comidas estavam equilibradas na bissetriz demais. As pessoas estavam equilibradas na bissetriz do casual com o propositalmente belo. Os sorrisos estavam equilibrados na bissetriz entre o riso e o ar sério.

Cansei do meu joguinho secreto de sobreviver a certas situações: tentar adivinhar o que as pessoas estavam pensando, realmente. Cansei de tentar adivinhar porque o álcool faz tanto sentido. Cansei de me sentir cansada, me levantei, puxei a saia um tantinho para cima e subi os degraus.

Um nível um pouco acima da coreografada balbúrdia, me tornei invisível. Não pretendia ofender a anfitriã com minhas idiossincrasias inconvenientemente anti-sociais. Não pretendia parecer um daqueles patéticos exemplares de pessoa peixe-dourado, do tipo que fica em um canto pescando a atenção de algum transeunte mais desocupado e paciente com anzóis de olhares entediados.

Momento chá de erva doce. Um violão e um gato. Saudei o gato de longe, sentei ao seu lado e esperei que ele me indicasse se queria a minha companhia ou não. Afinal, a casa era dele. É preciso uma certa sensibilidade humilde e bem humorada para apreciar a companhia felina, penso.

O gato me olhou e voltou a dormir. Encarei isso como uma aprovação tácita da minha presença. Tomei do violão e testei as cordas, tomando cuidado para não acordar o gato nem chamar a atenção de algum cachorro que andasse por perto. Estava afinadíssimo e limpíssimo. Dedilhei com um pouco mais de força que o necessário, para ver se desafinava alguma coisa.

Estava debruçada sobre o corpo do violão para ouvir, já que não queria ser encontrada. Não queria arruinar minha camuflagem anti-conversa-de-elevador. Não vi o corpo chegando. O corpo chegou e desabou por cima de mim.

Olhou-me nos olhos e murmurou um pedido de socorro.

Não sei de onde tirei forças para levantar um corpo maior que o meu, mas segui a receita escrita com progesterona nos meus ossos. Levantei aquele homem nos ombros, ajeitei seus cabelos e senti uma dor de mãe. Arrastei a carcaça ao banheiro, sentindo o peso do seu corpo quando seus joelhos fraquejavam. Sentindo o peso da sua vida por cima da minha, selei minhas lágrimas e as enviei para algum lugar ainda por vir. Sentindo os joelhos cederem tão publicamente, ergui o rosto com a mão.

Fechei a porta do banheiro e não deixei ninguém entrar. Cavei um fosso e enchi com todos os fluidos que encontrei, para manter distantes os olhares e as condescendências. Não havia espaço para pena no espaço cercado pelo fosso, que era propositalmente pequeno.

Lavei o rosto e as mãos, gritando com a minha vontade de chorar. Enfim, ela compreendeu que era tudo sério demais e aquiesceu. Foi embora, levando uma nota promissória. Não deixei o corpo maior que eu se largar no chão. Se eu podia sustentar a nós dois, não havia motivo para largar as rédeas de si assim. Banheiros e outras fossas não foram feitos para abrigar pessoas mais que temporariamente. Pus um corpo um tanto maior e um tanto mais vazio nos ombros e o levei para longe de fossas sanitárias e fossos de segurança.

Envolvido em cores monásticas, tombou o corpo no meu colo. Forcei a água sua boca adentro, forçou o mundo sua boca afora. Foi embora, partiu para dentro de si, buscando alguma coisa qualquer que lhe fizesse algum sentindo buscar. Fiquei selando a porta até que voltasse. Adormeci. Sonhei com cidades cobertas de água e acordei com o mundo me ardendo na garganta.

Chorou no meu peito. As lágrimas escorreram pelos dois lados das costelas como crianças que encostam as mãos por um vidro, se encantam e se espantam com a pequena ironia de proximidade. A dor encontrou referências em mim e as referências não encontraram saídas naquela dor. Uma angústia sufocava tudo como um óleo pesado e velho, que adentrava a carne e amargava o sangue. Os soluços escapavam em bolhas de desespero e gritavam pela piedade do carrasco, que não ouvia porque gritava por piedade. Chorou no meu peito e nada podia ser feito. Há batalhas que não podem ser vencidas por outros e há batalhas que não podem ser perdidas por outros. Há batalhas em que não há inimigos. Há vilões alimentados a colheradas de leite e de esperança. Há tristezas nutridas pelo mais puro e destilado amor. Há dores que ocupam o lugar dos cheiros mais bonitos, idos e nunca mais vindos.

Grandeza quase insustentável de amar além da posse. De amor que sabe a hora de soltar as selas e as rédeas, para manter o compasso de par e evitar o descompasso de dois sis em dois sis menores. Tristeza de cavaleiro, que sabe que chegou a hora de libertar a metade mais bonita de si.

terça-feira, novembro 01, 2005

A mulher que sempre perdia 

(historinha super educativa para vocês lerem no feriado. Escrito pelo meu querido, Diego Paleólogo, com leves retoques da minha retocante pessoa)

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Há muito tempo havia uma mulher que sempre perdia.
Perdeu o marido para uma outra mulher, perdeu os filhos para o mundo, perdeu a casa para o fogo, a virgindade para um ogro da floresta... Enfim, ela perdia tudo.
Um dia, cansada, sentada num tronco de madeira, sob a chuva, ela resolveu que iria se vingar de tudo e de todos e que jamais perderia nada na vida.
Ela levantou e só não perdeu a cabeça porque estava colada no pescoço.
Levantou e foi para o quarto onde morava. Sentou e passou a noite toda pensando num jeito de ganhar sempre e aí descobriu que só poderia ganhar nas coisas que ela inventasse.
Mas para isso ela precisava ser rainha.
Vestiu suas vestes de pobre e foi ter com a rainha no palácio real.

Óbvio que no caminho ela se perdeu.

Mas acabou chegando.
No salão principal havia uma imensa foto da rainha e Vitória descobriu que era simplesmente igual à rainha. E lembrou-se de um importante fato do seu passado: do seu nascimento.

Há mais muito tempo, uma rainha deu à luz duas crianças iguais. E umas fadas que estavam sem nada para fazer, entraram no quarto:

Fada 1: EWWWWWWWWWWWW que nojo!!! Quanto sangue e placenta...
Fada 2: EWWWWWWWWWWWWWWWWW que nojo!!! Quanta criança... blergh!
Fada 3: Muito bem, chega de palhaçada, vocês duas. O nojo maior é essas crianças terem tudo, ganharem tudo sem ter que fazer nada na vida! Isso é nojo! Eu vou lançar uma horrível maldição!

Nisso, a Rainha, temendo pelo bem de suas crianças, agarrou a primeira e saiu correndo, gritando:
- FADAS LOUCAS FADAS LOUCAS FADAS LOUCAS!!!

Fada 1: ¬¬ (olhar blasê reprovador)
Fada 2: Vai logo, pira! Lança essa maldição!
Fada 3: Tá! Eu lanço sobre você a maldição da perda! HAHAHAHAHHAHAHAHAHA!
E as 3 fadas saíram do castelo.

Nisso, a Rainha, o Rei e váááários soldados entraram no quarto. No berço real uma linda bebê princesa dormia lindamente. A Rainha apontou o dedo para a criança e caiu de joelhos:
- MINHA FILHA!!! PERDIDA PARA O RESTO DA VIDA!!!!!!!!!!! AAAAAAAAAAAAAAH QUE HORROR! Joguem isso no rio e deixem que o rio leve isso para a floresta e façam com que o lobos devorem isso e depois queimem os lobos!!

Estaria tudo acabado para Vitória. Mas a maldição era tão braba que fez com que os soldados se perdessem e fossem devorados por lobos.

*****

Os lobos se olharam, enquanto fumavam um cigarro, depois de terem devorado os soldados.
- Hmmmmmmm... Esses soldados estavam bons, né?
- Hmmmmmmmm estavam sim.
- ÉÉÉ, né?
- Éééé... e agora?
- Não sei... Acho que a gente não aparece mais na história.
- Não!??? É ISSO!?? A gente serve pra isso!? Pra devorar soldados e meninas e porcos!??
- Acho que sim...
- (com as mãos na cintura) Hmpft! Sabe... Subestimam o papel do lobo na Sociedade Fabulosa!
- Eu também acho, cara.
- Os lobos são criaturas boas, na verdade. Imagina: porco que é sujo e a gente que leva tiro... Menina que é joselita, decumpre os conselhos da mãe e pega atalho quando a gente tá com fome e quem tem o ventre dilacerado??? Nós, os lobos...
- Pois ééé....
- Isso não pode ficar assim... Nós... Nós poderíamos fazer A Revolta dos Lobos!
- Tá. Mas não nessa história. E ainda temos que dar uma lição no mentiroso do Pedro, na semana que vem.

****

Vitória caiu no rio e o rio a levou para um vilarejo. Lá ela foi criada por ciganos e virou uma linda mulher que usava micro moedinhas douradas penduradas pelo corpo, roupas bufantes e coloridas, roubava relógios e ainda por cima perdia tudo.

Vitória balançou a cabeça: Nossa... Como eu fui me lembrar de tudo isso, justo agora nesse momento crucial da minha vida? Credo... Esse negócio de subconsciente e trauma de infância ainda nem foi descoberto ainda...

E foi andando pelo palácio. Subiu as escadas. Havia uma placa: “Aposentos da Rainha”. Vitória seguiu em frente e entrou no quarto da Rainha, sua irmã gêmea. A Rainha estava dançando em frente ao espelho, que Rainha sempre fica dançando na frente do espelho quando não está sendo amaldiçoada ou guilhotinada. Ela viu Vitória e gritou:
- AAAAAAAAAAAAAAH!
- O que, sua histérica? Eu nem falei nenhuma frase revolucionária pelo proletariado, nem jurei vingança por alguma crueldade monárquica, nem anunciei meu ódio imortal e colossal!
- Você... está NUA!!!
- Ah... eu devo ter perdido minha roupa. Damn it!
- Ahmmmmmm, tá. Ih! Nossa.... você... é igual a mim!
- Eu... sou sua irmã gêmea!
- AAAAAAAAAAAAH GUARDAS GUARDAS GUARDAS!!!!!!!! A maldição se realizou!!! O vidente de turbante do palácio, que todo mundo acha que é só um vagabundo charlatão maluco mas na verdade é um vidente mesmo, e como ele sabe de verdades além da nossa imaginação, ele não se importa com convenções do mundo material... Enfim, o vidente do palácio disse que isso acontecer e que você ia tomar meu lugar. AAAAAAAAAAh!!!

A Rainha começou a correr em círculos no aposento real.
Vitória, sem muita paciência, pegou um castiçal bem pesadão e deu com tanta força na cabeça da Rainha que a Rainha desmaiou.
Vitória arrastou a irmã para debaixo da cama.
Os guardas entraram no quarto.
Ela gritou:
- SAIAM SEUS PERVERTIDOS!!! Eu estou nua!!!
Guarda 1: mas... a sra. estava gritando!
Vitória as Rainha: eu tive um daqueles acessos momentâneos de loucura. Já tomei minha poção psiquiátrica. Podem ir embora.
Guarda 1: tá...
Os guardas saíram.
Vitória!

Sozinha no quarto da Rainha, Vitória pensou: bem, agora é só inventar os jogos e -
CALMAE! Eu sou a Rainha! Eu posso fazer qualquer coisa! Já sei. Primeiro eu vou mandar capar, estuprar, esquartejar e matar o meu ex marido. Depois eu vou mandar caçar etc e tal e matar meus filhos! Depois eu vou proibir o fogo!!!
AHAHAHAHAHAHA!


E foi vestida de Rainha que Vitória foi para o balcão do Castelo Rosa.
Olhou para baixo e suspirou com raiva.
Havia perdido seus súditos.
Grunhiu de ódio e entrou, furiosa, no palácio. Tirou a irmã debaixo da cama e a matou. E só então percebeu que sua única chance era encontrar as 3 Fadas e fazer com que elas tirassem a maldição, já que agora ela era Rainha.

****

Parte 2 - Vitória sai em busca das 3 Fadas.

Ela fez a mala, que perderia antes mesmo de sair do castelo.
O Rei veio ao seu encontro:
Rei: meu amor, aonde você vai?
Vit: desfazer a maldição.
Rei: que maldição, meu amor?
Vit: grrrrrrrrrrrrrrr! Eu não sou seu amor!!!!
Vitória pegou um machado que estava perto da mangueira de incêndio da parede do palácio e matou o Rei.
Saiu pela porta da frente, sem a mala. Apenas com um vestido de Rainha.
Saiu na direção da floresta, pensando que não agüentava mais perder nada e estava furiosa. Alucinada.
Louca da vida.
Ai de quem cruzasse seu caminho.

Armada, perigosa e perdida na floresta, Vitória gritava pelas fadas.
Mas o desespero começava a tomar conta da sua mente. E se não achasse as fadas? E se suas memórias fossem falsas? E se tudo estivesse errado no universo? E se ela fosse destinada a perder tudo? E se o Banco Real não desse mais 10 dias sem juros no Cheque Especial, o que quer que isso significasse?

“Ah meu (insira nome da divindade de sua preferência aqui) eu matei minha irmã e o Rei e mandei matar meu marido e agora eu não posso nem usar uma tocha porque eu proibi o fogo...”

Vitória quase começou a chorar, mas ouviu passos.
Se escondeu.
Uma carruagem se aproximava. Vitória verificou sua espingarda – “EI! Como eu tenho uma espingarda se estamos há muito tempo?” Vitória deu de ombros. Enfim, a carruagem se aproximava. Por um instante Vitória cogitou não usar da violência e pedir carona, mas falou:
- What the hell!
Pulou dos arbustos:
- PARADOS AE SEUS FILHOS DA PUTA!!!
A carruagem parou.
De dentro sairam duas pessoas: uma mulher e um rapaz.
A mulher:
- Ei! Como você sabe sobre a nossa mãe?
Vitória ficou um pouco desconcertada:
- Éééé... Ahmmmmmmm, bem eu não...
O rapaz:
- Você tem alguma coisa contra a profissão mais antiga do mundo!? E quem é você!?
- Não tenho nada contra ninguém. Mentira. Mas... Eu sou Vitória, prazer.
- Eu sou o Perdedor e essa é a minha irmã, ela fugiu da caixa da maluca da Pandora... ela é a -
A mulher se adiantou:
- Esperança, prazer.
Vitória caiu na gargalhada:
- Perdedor e Esperança! Que dupla ridícula!!!
- Podemos ser ridículos - disse Esperança - mas não estamos perdidos e nus na floresta.
Vitória se olhou. De novo havia perdido o vestido.
- Você... teria aí uma roupa para me emprestar? Eu estou procurando 3 fadas e tal...
- 3 Fadas!? As 3 Fadas!??? As 3 Fadas Mágicas Perversas e Loucas da Floresta? Essas fadas!?
- É. Essas fadas. Vocês sabem onde elas ficam?
Esperança entregou uma roupa feita de cortinas para Vitória:
- Não. Não sabemos. E mesmo se soubéssemos não iríamos contar porque você é uma mulher má!
Vitória agarrou Esperança pela garganta:
- Prestençã aqui, sua fugitivazinha grega: a Vitória não precisa de Esperança! Quem precisa de Esperança é o Perdedor e a Vitória não se importa com o Perdedor. A Vitória es-ma-ga o Perdedor e a Esperança!
- Ai, credo... Tá... mas... porque você tá falando em terceira pessoa.... e dessa forma estranha?
- Bem...Não sei.
-Tá
- Tá
- Ok
- Ok.
- CHEGA! Eu já nem sei mais quem está falando! - dessa vez foi Vitória.
- Moça - disse Perdedor - se a senhora não se incomoda, nós temos que chegar ao nosso destino... e já esta anoitecendo...
O queixo de Vitória caiu. Quer dizer, isso é maneira de falar, que se o queixo da Vitória pudesse mesmo cair, ela já tinha perdido há muito tempo.
- Vocês... vão me deixar aqui!? Sozinha no escuro, podendo perder tudo que eu tenho na vida!??
- Arrá! Eu sabia! Você é a mulher que perde tudo não é!? - Esperança, enquanto acendia um cigarro no isqueiro da carruagem, que é metal aquecido pelo motor da carruagem e não precisa de fogo, que estava proibido, e se servia de café de uma garrafa térmica enquanto derramava um pó mágico chamado Tylenol de um saquinho de couro na palma da mão.
Vitória abaixou a cabeça:
- Sim... sou eu. Eu sou uma mulher à beira de um ataque de nervos... Eu sou uma dona de casa desesperada... Estou no limite da minha sanidade e preciso achar essas fadas... Elas me lançaram uma maldição quando eu nasci... e ...
Vitória começou a chorar.
Esperança olhou para o irmão, e falou:
- Olha, moça... a gente vai te ajudar, tá? Não precisa ficar assim...
- Mas.... vocês prometem mesmo?
- Prometemos, compromisso assinado em cartório. Agora... por favor, não perca a gente.
- Eu... eu vou tentar.

Na carruagem.
- Mas me conta... - disse Esperança - como vc veio parar aqui?
- Eu fugi.
- Nós também estamos fugindo, sabe? - disse Perdedor - a Esperança está fugindo da Caixa, eu estou fugindo do Vencedor, sabe... Ele é um garoto muito mal lá do meu condomínio e tal...
- Sei, sei...
- E estamos indo para A Vila dos Sentimentos Perdidos.
- A Vila dos Sentimentos Perdidos?
- Sim, A Vila dos Sentimentos Perdidos.
- E onde fica A Vila dos Sentimentos Perdidos?
- Ninguém sabe ao certo onde fica A Vila dos Sentimentos Perdidos.
- Ah... e como vocês querem chegar lá, então?
- Indo.
- Indo?
- É, indo.
- Simplesmente... indo?
- É.
- Ah.
Vitória pensou: as Fadas devem morar lá. É um ótimo lugar para Fadas morarem. Quando eu chegar lá, eu destruo o lugar, esgano as fadas e continuou por aí matando quem aparecer na minha frente.
Concluiu em voz alta
- ... e assim não vou perder nada outra vez!
Esperança e Perdedor se olharam:
- Quê?
- Eu... falei em voz alta?
- Foi.
- Ahm...

Noite na Floresta:

Eles tiveram que parar. A noite estava realmente escura e não havia como continuar sem fogo.
Os três estavam dentro da carruagem, conversando:
- Essa anta da Rainha proibiu o fogo - disse Esperança, com raiva.
- Se ela fez isso deve ter tido um bom motivo - disse Vitória.
- Impossível! Não existe um bom motivo para se proibir o fogo, ora! Só algum péssimo, egoísta e inconseqüente motivo.
- Olha, eu acho que você não devia julgar as pessoas assim.
- Olha, eu acho que você é uma besta louca.
- Talvez eu seja, mas isso ainda não lhe dá o direito de julgar as pessoas! Você por algum acaso é juíza?
- Não, mas eu sou a última a morrer, então eu posso julgar quem eu quiser!
- CHEGA! - disse Perdedor. Escutem. Tem alguém aí fora.

Bastou.
Vitória pegou sua espingarda e saiu da carruagem, já atirando:
- QUEM TA AÌ!???? HEIN???
- Eu preciso de ajuda... - era uma voz feminina, vinda da escuridão.
- Aproxime-se devagar, com as mãos atrás da cabeça e identifique-se!
Um vulto mancando se aproximou.
- Quem é você?
- Eu sou uma prostituta foragida de uma cidade onde me odeiam!
- Eu não perguntei o que você faz, estrupício, eu perguntei quem é você!
- Ah...bem, meu nome é Jezebel, a.k.a A Prostituta Bíblica!

(Esperança e Perdedor se entreolharam, se deram as mãos e sussurraram: Mamãe!)
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De manhã, depois do café, a caravana saiu em direção à tal cidade. Cada um com seu propósito.
Na sua loucura, Vitória havia decidido não fazer mais amizades nem nada do tipo porque sempre acabava perdendo. Na sua loucura havia perdido também seus planos de fazer coisas que pudesse sempre ganhar.
Na sua loucura, Vitória havia decidido sempre destruir sem pensar.

De volta ao ponto onde Esperança e Perdedor haviam pego Vitória, uma poça de lama havia se formado, com as lágrimas de Vitória. E agora a poça borbulhava.
De dentro da poça saiu uma mulher. Toda suja de lama, eca, mas ela ia ter que salvar o mundo antes de poder tomar um banho.
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Vitória pensava: eu preciso matar essa gente antes que eu comece a gostar deles. GRRRRRRRRR!
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A mulher que havia surgido da lama chamou-se de Alma, anagrama de lama, entenderam?
- Eu sou Alma, e preciso salvar aquela boa gente de Vitória. Se eles vencerem, se tornarão pessoas arrogantes e ruins. Preciso impedi-la e a única coisa que pode me derrotar é... álcool!
E então Alma saiu correndo pela floresta.

Na carruagem:
Esperança:
- sabe Vitória... nossa primeira impressão de você foi q você era a pura índole do mal. Mas agora estamos descobrindo que você é uma pessoa boa. Cara, eu sempre falo que Esperança é tudo!
Todos riram muito e continuaram bebendo o vinho que Jezebel trouxe.
Ela disse que estava numa festa e aí acabou o vinho. Aí, a dona da festa ficou desesperada e foi pra rua chorar porque onde ela morava as pessoas iam muito pra rua chorar e então por ali estava passando um hippie cabeludo com poderes mágicos e ela viu que ele estava com muita fome e o convidou para a festa. Na festa o hippie transformou a água em vinho. E toda a água do lugar virou vinho e as pessoas ficaram muito bêbadas, mas também ficaram sem almas e então crucificaram o pobre coitado do hippie.

Então, de repente, Esperança levantou e apontou:
- OLHEM! Estamos indo para o lugar certo!
Havia uma placa:
A Vila dos Sentimentos Perdidos.
Todos ficaram mais felizes ainda e riram mais e beberam mais.


Alma corria desesperada.
A própria essência da raça humana estava em jogo.
Se Esperança e Perdedor encontrassem a tal vila a Esperança acabaria, por definição, e o Perdedor seria Vencedor e a dualidade humana entre o bem pobre e perdedor e o rico mal e vencedor estaria acabada, assim como qualquer fábula ou novela!
Cara, como ela precisava fazer alguma coisa!
Alma correu.

A Entrada da Vila estava a poucos metros. Os olhos de Vitória brilhavam. Faiscavam. Ela segurava a espingarda com força. Assim que entrasse na Vila...
E ela tinha um trunfo. Ela era a Rainha. Havia proibido o fogo. E, dessa forma, havia feito as pessoas esquecerem como produzi-lo. Mas ela ainda lembrava, porque anotou na memória do celular. E assim que entrasse na Vila, tocaria fogo em tudo. Assim que achasse as Fadas.
Então, do nada, um dos cavalos que puxavam a carruagem, morreu; o outro fugiu; o outro perdeu as pernas. (Era uma carruagem de muito tempo atrás, que andava com 3 cavalos)
A carruagem desabou no chão.
- ARGH! O QUE HOUVE!? - Vitória, desesperada.
- Nós paramos - disse Esperança.
Todos saíram da carruagem.
- Hmmmm como vamos fazer? - perguntou Perdedor.
- Estamos perto, mas ainda tem aquela montanha ali, ó - Jezebel apontou. A montanha não era grande, mas era fechada por densos cactos e roseiras com muitos espinhos e árvores secas com galhos que arranham e aquele capim que corta.
- Dane-se! Eu vou a pé!!!
E Vitória segurou a espingarda e foi.
- E nós?
- Já sei! - disse Esperança.- Empurramos a carruagem montanha acima, e quando chegarmos no topo a gente entra e força a carruagem pra baixo. Não tem um treco que diz que pra cima todo anjo ajuda e pra baixo todo o diabo empurra?
- UEBA! VAMOOOS!
E assim os 3 começaram a empurrar a carruagem.
Alma chegou na base da montanha. Lá em cima já estavam Esperança, Perdedor e Jezebel.
Mas onde estaria Vitória?
Alma viu os três entrando na carruagem.
E correu mais.

Cortada, sangrando, suando, com ódio, com dor, Vitória estava a um passo da Entrada da Vila dos Sentimentos Perdidos.
Respirou fundo.
E ouviu um barulho.
Olhou para trás.
Montanha abaixo, desgovernada, descia uma carruagem.
Atrás da carruagem, uma mulher meio de... lama?
E tudo isso vindo na direção dela!

Vitória correu e entrou na vila.
A carruagem deslizou e entrou na Vila, caindo em cima da Vitória.

E Alma chegou tarde demais.

Na Vila

Vitória se arrastou para fora dos escombros da carruagem.
Ficou de pé e ergueu os braços.
- Eu invoco as chamas proibidas do paraíso para varrerem essa vila do mapa e do Google Earth!
O céu se fechou, ou se abriu, dependendo de suas convicções religiosas, e começou a chover fogo.
As casas começaram a incendiar.

Alma olhou para os escombros da carruagem. Teria que cuidar de Vitória depois. Primeiro tinha que salvar a raça humana. Aproveitou que os 3 estavam desacordados, soltou os cintos de segurança e estourou os air bags, levou os 3 pra fora e pra longe da Vila e salvou a raça humana.
Salvar a raça humana é fácil. Esse que é o problema.

Aí voltou.

Alma chega tarde demais.
Jezebel, Esperança e Perdedor acordam, tontos, olhando ao redor.
Lá na frente está Vitória, odiando tudo e erguendo as mãos para cima.
- Temos que impedi-la! - grita Esperança.
- Mas... o que ela esta fazendo? - Perdedor.
- Não sei, mas não é bom! Deixa eu olhar na Barsa... Ah, achei! “Gesticular freneticamente enquanto invoca uma chuva de fogo”... Ela está... invocando...uma chuva de fogo!

Alma entra no cenário.
- Deixem comigo, crianças. Essa é a velha luta entre o bem e o mal.

Alma se aproxima de Vitória:
- Vitória, pare com isso.
- NÃO! AHAHAHAHAHAHA!
- Vitória, para com isso ou eu - !
Vitória tira uma garrafa de tequila da bolsa (???)
- Ou você vai morrer muito, agora, sua Alma cretina!!!
Alma recua.
Na Vila, todos os moradores saíram das casas e ficaram olhando o show das duas, cochichando e apontando.

As 3 Fadas, enlouquecidas da vida com o barulho e toda a confusão, apareceram:
fada 1: QUE MERDA É ESSA!?
Vitória e Alma pararam. As duas juntas: ela começou!

Fada 1: eu não quero saber quem começou! Vou amaldiçoar as duas!
Alma: não! Você não pode me amaldiçoar! Eu sou uma alma!
Vitória: Você não pode amaldiçoar a mesma pessoa duas vezes... Tem até uma lei sobre isso num filme com a Ashley Judd... Double Jeopardy... Aquele, que ela pode matar o marido porque ela não pode ser presa por matar alguém que já tinha matado e tal...
Fada 1: EU SEIIIIIIIIIIIIIIIIIIII! Então... vou ter que matar você !!!
Vitória: CHEGA! EU SOU A RAINHA! EU ORDENO QUE VC ME LIBERE DA MALDIÇÃO AGORA!
Fada 1: Vitória, sua birutinha... você não é a Rainha. Você matou a Rainha!
Vitória: E por isso eu sou a rainha agora! Ora bolas! Tire-me essa maldição ou eu mando matar, estuprar, esquartejar, escalpelar e tocar fogo em você !! SUA FADA VAGABUNDA!!!
Fada 1: Eu não posso tirar uma maldição once it's been cast.
Vitória, enfraquecida: Então... o que eu faço!? Essa jornada toda foi em vão...? Eu... nunca vou vencer na vida...?
Alma: Vitória, sua função é nunca vencer, para que sempre possa existir a Vitória... mas... já que a raça humana está fudida, mesmo...Vitória, você pode vencer. O fim está chegando mesmo, what the hell... no que você quer vencer?
Vitória se dobra numa gargalhada demoníaca:
DESTRUIR O MUNDO!AHAHAHHAHAHHAHAHAHAHHAHAHAHAHAHA!

Pronto.

E a raça humana fica sem Esperança, sem Perdedor, sem a prostituta bíblica, sem Vitória...sem porra nenhuma e acaba assim. Puf.

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