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sexta-feira, agosto 24, 2007

Jazz e Telefone 

Li teu postal, querido. Dizes, então, que entendeste tudo, porque viste tudo o que viste.

Diz para mim, então, o que foi que foi visto e que te fez entender. Talvez me resgate.

Entendeste tudo?

Pois mando notícia, então, do nada. Que, agora, eu é que já não entendo mais nada.

O nada mais enfático do mundo - não com emoção, não um nada do tipo “pooourrrra nenhuma!”. O nada mais nada, mesmo. Sem cor. Nada.

Nunca mais, ever, na vida, ou mesmo em toda a existência do universo, algum organismo capaz de consciência se sentirá tão profundamente engolido pela eterna e mais densa convicção de não-saber. Nada. Nadinha mesmo. Nem cor de fundo. Nada.

Nada.

Não resta nada. De saber, quero dizer. Isso porque o saber – como eu o sabia – era pulso elétrico.

Saber era assim: ou você replicava o disco neural da sua memória, CD de pop mnemônico, ou então recombinava – música eletrônica sináptica - ou então inventava algo novo partindo do que já tinha lá: jazz. Ou amor.

(shhhh! A palavra que os anarquistas de verdade deviam proibir)

Por exemplo. Lembrar o endereço do restaurante indiano é saber do primeiro tipo, CD de pop (ou LP, dependendo das suas condições de memória). Combinar a recente informação de que seu amigo gosta de comida indiana e o endereço do restaurante que conheces, eletro-minimal. E pensar: “ei, por que não casar sob um plástico cheio d’água com peixinhos dentro do restaurante indiano?”, isso já é início de jazz.

Como percebes, precisamos de muito mais jazz no mundo, se não quisermos que sobrem só as baratas. E que do eletrônico pro jazz é só uma questão de qualidade, mas esse “só” é um colosso. Como a diferença entre estar vivo e estar morto é só viver. Ou amar e não amar é só amar. Só.

Enfim. Entendes o que digo?

Pois que então não entendeu nada. Jogue tudo fora.

Agora: mais nada. O mais completo e absoluto nada. Nem angústia do nada, que aí ainda era uma lembrança e lembrar ainda era alguma coisa.

Se eu pudesse ao menos imaginar quanto é grande o nada, ainda restaria bóia. Mas nem isso.

Só um imensurável e cósmico barulho de ocupado.

TU... TU... TU... TU... TU... TU...TU... TU... TU...


quarta-feira, agosto 15, 2007

Pena Já! 

Não sei se vocês sabem, mas alguns etólogos dizem que, na verdade, os primatas mais civilizados são os bonobos. Nós estamos, com alguma sorte e forçando a barra, em segundo. Dá uma olhada aqui e vê se você, como eu, não concorda: http://en.wikipedia.org/wiki/Bonobo.

(E, aliás, todo mundo sabe que no fim do mundo só vai haver bateria de celular, batatas fritas do Mc Donalds fossilizadas, garrafas pet e baratas gigantes, de qualquer forma, então isso tudo é uma grande besteira.)

Pois bem. Os macacos há milênios tentam nos ensinar civilidade pelo exemplo: deixam a gente mandá-los para o espaço, enfiar eletrodos no cérebro deles, dançam no circo, fazem filme e tudo mais.

Eles deixam que nós, aka "Homo sapiens sapiens... nooot! hihihi amiguxoooow :P", os insultemos, porque eles todos sabem que não adianta jogar pérolas para pessoas. Ainda falta chegar o tal salto evolutivo e aparecer o Professor Xavier e o Magneto em alguma high school. Até lá, é Paris Hilton e Alemão, mesmo.

"Um dia eles aprendem" é o mojo internacional dos macacos. É sério. Meu gato me contou. Ele digita mensagens no meu teclado quando se cansa da minha estupidez.

E nós insultamos os macacos frequentemente: comparando-os aos piores de nós, como aqueles “gorilas” motoristas de ônibus peludos e ensandecidos, o “chimpanzé pelado” que está morando na Casa Branca atualmente, os “micos míopes” criacionistas que dizem que nós somos tão evoluídos que nunca poderíamos ter sido macacos, os “orangotangos” da máfia e por aí vai.

Agora, temos além de eco-terroristas, macaco-terroristas. Sim, eles cansaram. E (des)aprenderam conosco a se... hum... “expressar veeementemente”.

Saiu na folha: “Dois macacos-prego viraram caso de polícia, em Exu (!!!), 699 km de Recife, após invadir e causar prejuízos em pelo menos cinco casas da cidade nos últimos dez dias. Em um dos imóveis, um dos animais promoveu um incêndio (!!!), segundo moradores.

O delegado de Exu, Romildo dos Santos, disse que levou o animal ao Ibama, onde está em quarentena. Ele afirmou que não há como saber qual animal foi responsável por cada invasão.
‘Ficamos sabendo que ele entrou na casa de um pastor e fez a maior bagunça. Quebrou o teclado do computador, espalhou comida pela casa e até rasgou as páginas de uma bíblia’, disse Santos.


http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u319784.shtml

Eram ex-domésticos. Não os moradores, os macacos. Isso explica a violência toda, não?

O delegado Homo sapiens ainda esclarece em jornal de circulação nacional que os macacos não poderão ser responsabilizados penalmente. Ah. Damn!

Acho um absurdo. Alguém me ajuda a fazer faixas, panfletos e powerpoints para mudar a lei e acabar com essa impunidade???




(quem sabe a gente consiga ganhar penas ainda esse milênio... estou meio enjoada de lagartice. Será que dá pra mandar powerpoint motivante pra deus? Vou googlar o email do Sith Ratzinger...)

sexta-feira, agosto 10, 2007

7. 7? 7! 5040. 

Engraçado isso de percepção.

De repente, um gato atravessando a rua na frente do seu carro se transforma em um saco plástico e o susto se transforma em alívio.

De repente, sabão escorrendo na janela de um prédio se transforma numa manifestação divina e as pessoas param o seu dia para se emocionar e acreditar.

De repente, aquele espaço reservado se transforma num buraco vazio. A mesa reservada pra uns é uma mesa vazia para quem espera na fila, no lado de fora.

De repente, o para sempre se descola da retina e todo aquele assustador mundo de outras possibilidades, menos perpétuas, já que só relance na mente, e possivelmente mais longevas ainda, pelo mesmo motivo: por não se ter vivido.

Ainda. Ou nunca.

E, se gente ficou planejando a vida toda do lado de uma pessoa, em uma empresa, em uma cidade, em um continente, um dia, lembrar que era criança, lia Marco Pólo e aquelas enciclopédias com mapas mundi gigantescos, e achávamos uma grande imbecilidade passar a vida toda sem ir para o Nepal?

Eu era criança e sabia, já, lá do meu jeito, que eu não gostava dessa coisa que a gente chama de caverna de Platão. Ou carnê das casas Bahia.

Meu eu criança me chutou a canela hoje de manhã e eu tive vergonha de ter crescido para longe do que eu já sabia.

Tirei a película de paisagem que eu usava por cima dos olhos, engoli o medo em goles grandes e peitei as possibilidades.

Que diabos era o problema? Sei lá. Era um emaranhado de fios e uma sensação de problema.

Desembaracei os fios e eram sete. Olhei para eles. E daí? Desembaraçados eram sete.

Mas nó é fatorial de fio, problema é fatorial de dias riscados no calendário.

(se temos sorte)

Suspiro é prenúncio de queda, não é?

Suspiro, ajeito a mochila e vou visitar o Marco.

terça-feira, agosto 07, 2007

Prisão de ventre é quando a gente não pediu para nascer.

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